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A portageira que queria ser educadora de infância

A portageira que queria ser educadora de infância

Natércia Pernes começou a sua vida profissional a trabalhar num minimercado

É um rosto familiar em Vila Franca de Xira. Natércia Pernes, portageira do principal parque de estacionamento da cidade, gostava de ter sido educadora de infância, mas a vida trocou-lhe as voltas. De empregada de um minimercado a vendedora de roupas, encontrou na portagem um emprego que a fascina.

Muitos dizem a Natércia Maria Ramos Pernes, de 41 anos, que o seu trabalho é ingrato e pouco estimulante. A mulher acena negativamente com a cabeça e fala com um orgulho típico de quem gosta do que faz. Natércia é portageira no parque de estacionamento da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.Gostava de ter sido educadora de infância, mas o destino profissional fechou-lhe essa porta. O seu percurso levou-a a trabalhar num minimercado, numa loja de roupa e na portagem, onde se diz sentir bem com a profissão.Natércia nasceu em Refugidos, concelho de Alenquer. Foi criada com os avós até se mudar para o Carregado, onde a mãe trabalhava no centro de saúde. “Fiz lá bons amigos que entretanto, com o tempo, se foram perdendo. Depois fui para Azambuja e para o liceu. O meu primeiro emprego foi em Vila Franca, no minimercado da minha sogra”, conta.No pequeno estabelecimento da Quinta da Grinja Natércia fez de tudo, de limpezas a caixa. “Foi o meu primeiro emprego e fazia o que me pediam, desde ir aos armazéns até ao atendimento. Não havia vergonhas”, refere. A sogra era “boa patroa”, garante, mas a chegada dos super e hipermercados roubou a maioria dos clientes. Natércia teve de estudar novas oportunidades.“Ainda dava para viver naqueles tempos, mas depois começou a cair muito, foi por isso que me vim embora. Nos dias de hoje seria impossível. Decidi fazer-me à estrada e procurar outro trabalho. Consegui fazer umas horas numa loja de roupa, em Alverca e Vila Franca”, conta. Os vestidos de mulher vendiam-se mais que a roupa de homem. Já na altura, confessa, encontrar um novo emprego era uma tarefa difícil. O trabalho, a fazer folgas e férias de outras funcionárias, não lhe garantia sustento. Foi por isso que tomou a iniciativa de enviar um currículo para a Junta de Freguesia.“Decidi arriscar, não tinha nada a perder. Estive 20 anos no minimercado, depois três meses na loja de roupa. Por sorte houve um funcionário da junta que trabalhava aqui no parque que se foi embora. Mais tarde ligaram-me da junta de freguesia para saber se eu estava interessada. Aceitei e aqui estou, desde 1 de Junho de 2007”, confessa.O trabalho de Natércia consiste na monitorização das entradas e saídas do parque, cobrança de talões e vigilância do espaço. A profissão de portageiro, segundo os historiadores, remonta aos tempos do período dinástico egípcio (cerca de 3 mil anos antes de Cristo), quando homens controlavam a entrada em terra de produtos vindos do rio Nilo. Mais tarde seriam os romanos os primeiros a colocar portageiros nas suas estradas para cobrarem impostos aos que nela circulavam, o que ainda hoje acontece nas auto-estradas e nos parques de estacionamento onde trabalha Natércia. O que menos gosta na profissão são os turnos. “Gosto muito do meu trabalho, só à noite é que não, é um horário mais complicado, especialmente para uma mulher que tem filhos. Quando venho trabalhar à noite deixo os meus filhos na escola de manhã e só os vejo quando já estão a dormir, porque só saio às 24h00. Um tem 14 anos e outro 18. É o que mais me custa”, confessa.Apesar de parecer um trabalho calmo, Natércia refere que também surgem complicações, especialmente com clientes que perdem os talões de acesso ao parque. “Algumas pessoas perdem os talões e depois não querem pagar. É sempre uma situação complicada. Falamos e tentamos explicar a situação, outras vezes tentamos ajudar as pessoas a encontrar o talão. Normalmente está esquecido no carro ou dentro do casaco”, diz com um sorriso.Para Natércia o trabalho é também uma forma de se manter em contacto com as pessoas da cidade. Algumas estacionam o carro diariamente no parque. “Algumas pessoas já conheço há anos, sempre que passam trocamos um pouco de conversa. Somos quase como uma família”, refere.
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