Bombástico Manuel Serra d’Aire
O Entroncamento não pára de produzir fenómenos. Depois dos melros brancos, dos ovos de galinha gigantes e dos vegetais mastodônticos surgiram as ratazanas trepadoras. É isso mesmo, meu caro, no Entroncamento as ratazanas sobem às árvores para se alimentarem de laranjas e diospiros para gáudio da National Geographic e do Discovery Channel. Já não bastava a façanha de se estarem a amacacar como, para tornarem a extravagância ainda maior, escolhem uma dieta que nada tem a ver com a que habitualmente é preferida por esses roedores. Um dia destes vamos ver ratazanas a alimentarem-se de salada de rúcula, de tofu e de seitan e a beberem leite de soja. Não sei qual a razão para este prodígio, mas dá-me ideia de que está aqui uma prova viva da teoria da evolução das espécies para a qual Darwin teria por certo uma explicação interessante. A verdade é que, segundo cientistas renomados, os nossos antepassados primeiro rastejavam, depois começaram a trepar às árvores e depois deu no que deu. Por isso é que eu prefiro pensar que foi Deus que criou isto tudo por sua livre iniciativa. Assim é mais fácil atribuir as culpas e pedir o Livro de Reclamações.Não sei se quando Deus nos pôs no mundo colocou na bagagem dos primeiros ocupantes terrenos um manual de cozinha e utensílios para a arte culinária. Se não pôs, não deve ter sido fácil chegar aqui, começar a olhar para o que havia em redor e não saber como cozinhar os vegetais ou que animais comer. Daí a história de Eva e da maçã que ainda hoje nos traz dissabores. Penso que o workshop de cozinha pré-histórica que vai haver em Mação é uma boa oportunidade para tirar as coisas a limpo e saber o que é que os nossos avôzinhos tinham como prato do dia. Uma coisa é certa, não devia ser gastronomia daquela nouvelle cuisine que hoje está na moda, porque pelo tamanho das doses a nossa espécie não tinha vingado.Agora, vamos lá abordar coisas sérias. Não sei se já ouviste falar da rocambolesca história da medalha comemorativa do centenário da República. A comissão para as comemorações fez um concurso, houve um vencedor, mas depois decidiu que não haveria edição da medalha. Supostamente porque o desenho teria um triângulo (alegadamente associado à maçonaria) com os vértices da liberdade, fraternidade e igualdade, motes da Revolução Francesa que, como se sabe, não acabou muito bem.Se a medalha ficou na gaveta por causa disso acho muito bem. Não perdoo à Maçonaria lusitana que ainda não se tenha lembrado de nós, espíritos livres e libertários, fraternos e solidários, para integrar essa nobre causa. Até porque já estamos habituados a usar avental quando fazemos as nossas patuscadas e mais avental menos avental não vinha daí mal ao mundo. Há aí tantos que o usam e que nunca mexeram numa panela, embora tachos não lhes faltem…E com esta me vou direitinho para a lareira onde tenho uns chouriços a assar. Um bacalhau congelado doSerafim das Neves
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