Apagar Santarém do mapa
Acho espectacular a forma como as pessoas e as instituições de Santarém aceitam o fecho da ponte D. Luís para obras sem aviso prévio e sem uma explicação para as notícias que correm por aí. Tudo isto pouco tempo depois da ponte ter fechado para obras urgentes e ter condicionado durante tantos meses a vida de milhares de pessoas.Quem vai à cidade almoçar, lanchar ou simplesmente fazer compras, se não for cego, surdo e mudo sabe que a cidade definha e que os seus agentes económicos vivem um drama, um verdadeiro drama, que pode ser fatal para muitos.Santarém é uma cidade construída num planalto, literalmente ultrapassada nas últimas dezenas de anos por outras cidades vizinhas em termos de investimento económico e de lazer.Roubar um cidadão a esta cidade, dificultando o acesso, como por exemplo se faz agora com o fecho da Ponte D. Luís, mesmo que sejam cidadãos que apenas consumam um café por dia, é tão dramático como roubar a Lisboa um cidadão que viaje para a cidade para frequentar apenas a sala de cinema ou de teatro. Sem cinema e sem teatros Lisboa não existiria como a conhecemos. Sem cafés, restaurantes e pequenos negócios que façam circular pessoas na cidade, à falta de cinemas, teatros e outros meios de chamar pessoas, Santarém será um cemitério de casas na encosta a muito curto prazo. Ficarão os jardins das Portas do Sol para turista ver e os edifícios municipais para visitas guiadas aos retratos dos agentes da cidade que hão-de apagar Santarém do mapa se Deus os continuar a proteger de cidadãos mais interventivos e comerciantes mais reivindicativos.Dificultar o acesso à cidade às pessoas que sobem ao planalto apenas para consumirem uma bica é tão perigoso para o futuro da urbe como continuarem a ignorar o desenvolvimento e a recuperação do centro histórico.Acabo como comecei: acho espectacular que a cidade de Santarém grite e gema e estrebuche e ninguém lhe acuda. Eu vejo, e ouço e apalpo, e não acredito que esta gente que aqui vive e sobrevive aceite sem um grito de revolta que lhe roubem o cliente da bica quanto mais o cliente da loja de roupa, do supermercado ou do quiosque dos jornais.Já escrevi o suficiente para mostrar a minha indignação sobre a forma como os políticos do concelho deixaram instalar, à custa de interesses por esclarecer, dezenas de espaços comerciais gigantes nas imediações da cidade. Mas este mal não é só dos políticos de Santarém. Os lóbis dos grandes distribuidores são mais fortes que os governos das nações. E aqui não há nada a fazer a não ser protestar até à exaustão.O que me espanta é não ver nascer uma associação de pessoas que grite mais alto na defesa dos interesses dos comerciantes e dos habitantes da Tapada, da Ribeira e da cidade de Santarém. Aparentemente somos todos filhos de um Deus menor. JAE
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