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“Medalha censurada” mancha centenário da República

“Medalha censurada” mancha centenário da República

Jornalista e investigador António Valdemar critica Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República

A forma triangular, associada à maçonaria, é uma das razões apontadas para a decisão. No interior da moeda é apresentada uma peça triangular onde estão gravadas três palavras: liberdade, fraternidade e igualdade.

O presidente da Academia Nacional de Belas Artes, António Valdemar, considera que a “censura” à medalha escolhida para evocar os 100 anos que passam sobre o 5 de Outubro de 1910 é uma “mancha nas comemorações do centenário da República”. O jornalista e investigador falava no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, na tarde de sábado, 29 de Janeiro, sobre “A República e a sua expressão simbólica, antes e depois da Revolução de 5 de Outubro de 1910” e terminou abordando a “medalha censurada” do escultor João Duarte – vencedora do concurso alusivo ao centenário da República – mas que não foi editada. No âmbito das Comemorações do Centenário da República, a Imprensa Nacional – Casa da Moeda abriu concurso para a criação e elaboração de gessos para a medalha comemorativa. O escultor João Duarte foi o vencedor de um grupo de 14 artistas. O júri, composto por Raquel Henriques da Silva (Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República), Rui Vasquez (FBAUL) e Paulo Leitão (Imprensa Nacional – Casa da Moeda), escolheu em 2009 a proposta do escultor. A Casa da Moeda fez o primeiro protótipo e levou-o ao presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, Artur Santos Silva, momento a partir do qual o processo parou, garante João Duarte. O escultor contactou por carta registada a Casa da Moeda, a comissão e o júri. A presidente de júri não respondeu, bem como a comissão. “A única resposta recebida foi da Casa da Moeda dizendo que não voltou a receber indicações para que a medalha fosse editada”, explica o escultor que esteve presente na mesma sessão sobre a República em Vila Franca de Xira.João Duarte, professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, recebeu 1700 euros por ter sido o vencedor do concurso e quando percebeu que a medalha não tinha sido ainda editada chegou a oferecer-se para devolver o dinheiro de forma a garantir a edição da peça, o que mesmo assim não aconteceu. A forma triangular, associada à maçonaria, é uma das razões apontadas para a decisão. No interior da moeda é apresentada uma peça triangular onde estão gravadas três palavras: liberdade, fraternidade e igualdade. “O fruidor pode manusear e brincar com a peça, colocando-a em várias posições. Ela simboliza a relação entre a República e os cidadãos”, escreve o autor na memória descritiva. Num dos lados está modelado o busto da República e no outro o escudo nacional com a palma e a legenda “1910-2010”.A questão levantada por António Valdemar, sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, laureado com a medalha de honra da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) em 2008, gerou uma onda de indignação no auditório do museu do neo-realismo.Câmara de Vila Franca disposta a apoiarO vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, considerou a situação gravíssima e mostrou-se disponível para levar o assunto à câmara de forma a que Vila Franca possa vir a associar-se a uma eventual edição da medalha, comprando determinado número de exemplares. O autarca respondia assim a um repto lançado por António Valdemar para conseguir a edição da moeda ainda durante a comemoração do centenário. “Nós republicanos e portugueses e num regime democrático e republicano não podemos permitir a censura e impedir que se faça uma medalha do centenário da República”, declarou António Valdemar.António Valdemar abordou ao longo da sessão as questões sociais e políticas que levaram à instauração da república, evocou nomes de figuras cruciais, complementando a informação com imagens de selos, estátuas, bandeiras hinos inspirados na República até chegar à “medalha censurada”, como lhe chamou. O jornalista e investigador vive em Lisboa, mas visita o Ribatejo com frequência. Seja para visitar em Santarém o festival de gastronomia, área sobre a qual se especializou como jornalista, seja mesmo por questões familiares. A esposa é de Assentiz (Torres Novas). As explicações da comissãoEm resposta enviada por e-mail a O MIRANTE a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República revela que chegou a ser cunhada uma medalha – protótipo, adiantando que a mesma entidade “no uso das suas competências institucionais próprias, decidiu não produzir a medalha, por considerar não estarem reunidas as condições para a produção de uma medalha que correspondesse aos objectivos comemorativos do Centenário da República”, sem no entanto a justificar por que razão não foi dada uma explicação ao vencedor do concurso.
“Medalha censurada” mancha centenário da República

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