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A comandante Isolina Silva e as jogadoras de futsal de Riachos que querem ganhar tudo

“As taxas que pagamos por cada jogo e o valor das inscrições são exorbitantes”

Foi jogadora de andebol e mais tarde de futebol. Agora é a responsável pela equipa feminina de futsal de Riachos. Isolina Silva tem 46 anos, nasceu em Alcanena, mora em Minde e trabalha numa escola. Diz que a gestão da equipa lhe tira algum tempo livre que gostava de ter para os amigos e tem dores de cabeça permanentes por causa das contas mas nota-se que está feliz. As suas jogadoras têm garra e ambição. Quem não gostaria de trabalhar com uma equipa assim??!!

Como se tornou directora da secção de Futsal Feminino do Clube Atlético Riachense (CAR)?Para ser sincera não sei bem. Joguei futebol durante muitos anos no Riachense. Dos tempos de jogadora ficaram algumas amizades. Houve uma altura em que me pediram para ajudar na parte de gestão e fui ficando. Com o clube e a secção a viverem alguns problemas financeiros eu não fui capaz de ir embora. Como é que o futebol entra na sua vida?O futebol aparece na minha vida por mero acaso. Eu sempre joguei andebol, durante muitos anos em Alcanena. Quando a equipa acabou surgiu a oportunidade de jogar numa equipa de futebol de onze em Santarém – Clube da Avenida – que precisava de uma jogadora esquerdina, como eu. Nunca tinha jogado futebol na vida mas comecei a ir aos treinos com o meu cunhado que era o treinador e acabei por me apaixonar pela modalidade.Como veio parar à equipa de futebol de Riachos?Quando a equipa de Santarém acabou tinha começado, entretanto, uma equipa em Riachos. O treinador perguntou-me se eu estava disponível para integrar o grupo e aceitei. É fácil conciliar este cargo com o seu emprego?Hoje em dia não porque o trabalho nas escolas não está fácil. Há hora para entrar mas não há hora para sair e isso pesa. No final do dia ainda venho assistir aos treinos, acompanho os jogos, tenho que estar atenta aos comunicados da associação. É cansativo. Mas quando se faz por gosto vale a pena o esforço.Esta dedicação ao clube reflecte-se na sua vida pessoal?Sim. Apesar de não ser casada nem ter filhos, não tenho tanto tempo como gostaria para sair e estar com os meus amigos. Quais são as maiores dificuldades deste cargo directivo?Ter que gerir a parte financeira. Fazer com que o dinheiro chegue para tudo. Atletas, treinador e dirigentes não têm vencimento, mas temos que pagar taxas de jogo exorbitantes. Cinquenta euros por cada jogo em casa, por exemplo.Concorda com o pagamento dessas taxas?Concordo que se deva pagar uma taxa, mas um valor tão elevado não. Somos amadoras, não ganhamos nada com a modalidade, praticamos futsal mesmo por paixão e cobram-nos. As taxas de jogo para o futebol 11 de iniciados, juniores e futebol sete são de cinco euros. Porque é que o futsal tem que pagar um valor tão alto? São nove jogos em casa, mais os jogos da taça e outros que vão surgindo ao longo do ano. É muito dinheiro. Além disso, temos as inscrições das atletas que este ano custaram cerca de 600 euros. Não faz sentido pedir tanto dinheiro.As jogadoras pagam para treinar.Pode-se dizer que sim. Por exemplo, uma das jogadoras, que vive em Tomar, trocou o seu carro de dois lugares para um de cinco para poder levar mais colegas para os jogos e treinos para pouparem dinheiro em combustível.Acompanha as atletas em todos os jogos?Sim, sou delegada da equipa nos jogos por isso não falto. Só se surgir algum imprevisto.Nunca pensou em ser treinadora?Não, acho que não tenho feitio para ser treinadora. Tenho o curso de treinadora de andebol, e cheguei a treinar, mas por pouco tempo. Prefiro ficar do lado de fora. Julgo que se fosse treinadora metade das jogadoras ‘fugiam’ porque comigo não havia queixas nem podiam demonstrar pouca vontade de jogar. Tinham que dar sempre o litro. (risos)Que características deve ter um treinador para ser bem sucedido numa equipa?Na minha opinião não bastam os conhecimentos técnicos. Acima de tudo é preciso saber chegar aos jogadores. Ser amigo dos atletas e compreendê-los. Tem que haver empatia e respeito entre treinador e jogadoras. Se isso não acontecer é muito difícil uma equipa alcançar bons resultados. As pessoas ainda estranham ver um grupo de mulheres a jogarem futebol?Não. Aqui em Riachos nota-se que as pessoas têm orgulho nesta equipa. Quando andámos a pedir dinheiro de porta em porta para mantermos a equipa a jogar, todos ajudavam. Diziam mesmo ‘É para as meninas do futsal?!! Claro que ajudo!’, e davam o que podiam. Este ano não conseguimos angariar tanto dinheiro, mas as pessoas aqui em Riachos só não dão mesmo se não puderem.Qual foi o momento mais marcante da sua experiência no Riachense?No primeiro ano em que estive no clube como delegada inscrita alcançámos o título de campeãs. Obtivemos os mesmos pontos que o CEF (Centro de Estudos de Fátima), mas como tínhamos mais golos marcados vencemos o campeonato. Foi uma felicidade enorme, fizemos uma grande festa.Os laços de amizade com as jogadoras prolongam-se para lá das ‘quatro linhas’?Sim, sobretudo depois dos jogos e dos treinos saímos juntas. De vez em quando vamos beber um copo e descomprimir do stress do dia-a-dia e dos treinos. Quais os objectivos para esta época e para as próximas?Ganhar tudo o que pudermos ganhar. As jogadoras nem colocam a hipótese de não serem campeãs.Como assim?Há pouco tempo estava a conversar com a capitã de equipa no balneário e ela estava a perguntar como é que a secção estava de dinheiro. Elas estão a par de tudo o que se passa com a secção de futsal feminino. A meio da conversa ela diz-me que era bom conseguirmos arranjar mais um ‘dinheirinho’ para os jogos do campeonato nacional. Elas não colocam a hipótese de não serem campeãs distritais. É este espírito de competição e garra que existe nesta equipa que faz com que andemos sempre a lutar pelo título de campeãs.Como está a situação financeira da secção?Pensamos as coisas mês a mês, não podemos planear mais do que isso. A nossa situação financeira não nos permite fazer planos mais longos. No final de cada mês verificamos o que conseguimos em termos de dinheiro e percebemos que já dá para o próximo mês e assim sucessivamente.No final da próxima época correm o risco, novamente, de não terem dinheiro para continuar?Neste momento não conseguimos prever como vai estar a situação financeira da secção no final do campeonato. Todos os anos corremos o risco de não termos dinheiro para continuar com a nossa equipa.Têm alguma solução para resolver o vosso problema?Temos algumas ideias. Uma delas é organizar, no final desta época, um torneio de futsal feminino denominado “Torneio Sofia Vieira”, que actualmente joga futebol 11 no Atlético de Madrid (Espanha) e é jogadora da Selecção Nacional de futsal feminino. Já falamos com a jogadora que é aqui da região que já se disponibilizou e disse que pode trazer colegas da Selecção Nacional. Será uma forma de arrecadarmos algum dinheiro que nos permita continuar em prova.Como é que o Clube Atlético Riachense chegou a este ponto de não ter dinheiro para as várias secções?O problema do clube é não existir um presidente e uma direcção como existia há uns anos. Essa falta faz com que as secções não tenham apoios e corram o risco de fechar portas. Todos os anos andamos com o coração nas mãos a fazer contas a onde vamos buscar dinheiro para continuarmos com o nosso projecto. Quando havia presidente, cada um dos directores tinha funções atribuídas e estava tudo organizado. Mentalidade ganhadora A equipa de futsal feminino de Riachos nasceu na época desportiva 2001/2002 como uma secção do Clube Atlético Riachense. Continua a usar o nome do clube mas há cerca de três anos que se tornou autónoma. A situação foi motivada por problemas na estrutura directiva do Riachense. Em nove anos de existência a conquistou cinco campeonatos distritais, cinco supertaças e quatro taças do Ribatejo. Em 2010 só lhe escapou a conquista da Taça do Ribatejo que perdeu para a equipa de Paço dos Negros. No entanto, ganhou a supertaça e o campeonato distrital, o que lhe permitiu disputar o nacional, prova onde alcançou o terceiro lugar.A equipa surgiu da vontade das jogadoras originárias da terra que estavam dispersas por vários clubes da região. Todas concordaram em jogar no clube da vila se ele fosse criado e surgiu a secção de futsal do Clube Atlético Riachense. Na altura a secção era apoiada e suportada financeiramente pelo Clube. A equipa é composta por doze atletas. A mais nova tem 15 anos e a mais velha 35. Com os anos a equipa foi-se renovando e actualmente a maioria das jogadoras já não são de Riachos. Todas trabalham ou estudam e têm que conciliar a vida profissional com os treinos às terças e quintas-feiras, no Complexo Desportivo de Riachos e com os jogos, ao fim-de-semana. Nem sempre é fácil, mas a paixão ao futsal, dizem, faz milagres.O arranque da época 2010/2011, depois de terem conquistado o campeonato distrital, esteve tremido. Na época anterior tinha acontecido o mesmo. Os problemas financeiros do clube levaram a que a secção de futsal tivesse ficado sem qualquer apoio. Não havia como pagar as inscrições das jogadoras e as taxas por cada jogo realizado em casa. Mas é nas adversidades que se conhece a personalidade das pessoas e jogadoras e equipa técnica e directiva não baixaram os braços. Andaram pelas ruas de Riachos a pedir donativos. O peditório foi um sucesso o que permitiu correrem atrás do sonho de serem novamente campeãs regionais e participarem no nacional.Tanto as jogadoras como a direcção e equipa técnica consideram que o campeonato que disputam é muito competitivo. Existem quatro ou cinco equipas muito boas e todas querem ganhar. Mas às meninas de Riachos nem lhes passa pela cabeça não disputarem o campeonato nacional e tentarem ficar em primeiro lugar.

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