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Ao Sporting Clube de Tomar só falta acreditar no seu valor

Técnico Nuno Lopes diz que é possível lutar com os grandes clubes sem complexos

Nuno Lopes, 39 anos, tem uma vida dedicada ao hóquei. Primeiro como jogador e desde os 30 anos como treinador. Está em Tomar há cinco épocas, à frente do Sporting Clube, e ajudou a cumprir o sonho do regresso à I Divisão Nacional de hóquei em patins. Diz que à equipa e a alguns jogadores só lhes falta acreditar no seu valor.

Como é estar com o Sporting de Tomar na I Divisão Nacional, defrontar Benfica, Porto, outras grandes equipas?Foi sempre um objectivo de vida. Como caracteriza a sua equipa?É uma equipa pouco confiante do valor que pode vir a ter. Há também jogadores como o Favinha, o Gonçalo e o Nuno Domingos que deviam acreditar mais no seu valor e não se inferiorizarem por não serem tão conhecidos como outros. Para chegar ao pé dos melhores é preciso investir em jogadores.O Ivo e o Favinha são os únicos jogadores de Tomar. Os restantes vêm da zona de Leiria de onde os conheço bem. Quando vim não mexi muito e fui, todos os anos, “retocando” o plantel até reunir o grupo mais forte. Onde é que se nota o amadorismo da equipa quando comparada com Benfica ou Porto?Esses clubes podem ter os melhores. Têm dinheiro para lhes pagar. E os jogadores fazem treinos bidiários porque não fazem mais nada na vida. Além disso há marcas que querem patrocinar esses clubes e que fornecem patins, joelheiras, luvas, todo o tipo de material Só o equipamentos de guarda-redes custa 1.500 euros. Se calhar um atleta do Benfica ou do Porto tem quatro ou cinco sticks. Nesses clubes o atleta só tem de pensar em jogar. A nossa realidade é totalmente diferente.Os orçamentos são díspares.O nosso anda na casa dos 120 mil euros e contempla tudo, equipamentos, deslocações, subsídios, etc. A I Divisão tem outro nível.Há regras exigentes para jogadores que vêm da II para a I Divisão?Quem quer apostar mais tem de ter regras com alimentação e com o descanso. É difícil para alguns, que têm outra profissão para além do hóquei. E também não podemos fazer mais de três ou qutro treinos semanais. Qual é a condição do treinador: amador, semi-profissional, profissional?Encaro isto como uma profissão. Sou um profissional não remunerado como tal e o mesmo acontece com os jogadores. São 100 quilómetros diários que realizo para Tomar desde a Marinha Grande. É um ano inteiro de fins-de-semana fora de casa.Bons momentos, goleadas e nada de amuletosA subida à I Divisão resultou de uma época marcada de peripécias?Foi uma época terrível. Éramos candidatos à subida, tínhamos os holofotes sobre nós, quando a equipa fraquejava instalava-se a descrença. Aqui tive uma quota-parte importante de não deixar desagregar o grupo. Foi a época mais dura que tiveÉ treinador de banco ou está sempre a dar indicações?Não paro quieto, mesmo durante o treino. Durante a semana tenho de ser o mais interventivo possível, e no jogo saber lê-lo. A este nível ser treinador não é compatível com palmadinhas nas costas. A gestão humana é fundamental e o jogador tem de acreditar no treinador. Aqui não resultam frases feitas ou chavões. Tenho que ser genuíno e ter algum jogo de cintura.Ficou algum episódio especial da época passada?O momento marcante foi a festa da subida feita em casa. Preparámos tudo para esse jogo. Desde a imprensa, à festa do pós-jogo, se tudo corresse mal era muito grande a desilusão. Este ano, já viveram muito momentos positivos?Já fomos ganhar a Barcelos, equipa que já foi campeã da Europa. Também já levámos 11-0 do Benfica, perdemos 8-1 em Vale de Cambra! Custa um bocadinho mas no início de época fomos fazer um torneio a Espinho em que fomos copiosamente goleados, o que fez despertar os nossos atletas para uma realidade que desconheciam. Tem rituais ou amuletos para o jogo?Já tive de tudo e mais alguma coisa. Cheguei a trazer as mesmas sapatilhas para os jogos. Encontrei uma mola de cabelo de menina e passei o jogo inteiro com ela e perdi. Era refém dessas coisas e agora não tenho absolutamente nada. Mesmo quando penso nalguma coisa contrario-me logo para acabar com a ideia.Com bolas de chumbo e sticks de madeira um jogador ou treinador arrisca-se a aleijar-se.Normalmente as lesões não passam de cortes ou nódoas negras. É difícil proteger a cara mas tem de ser assim.Quantas pessoas giram em torno da equipa?Além do treinador existe o preparador físico, uma psicóloga voluntária e alguém para as filmagens. Vemos alguns dos momentos importantes dos jogos e andamos a filmar 15 minutos do treino para eles verem a sua atitude no treino.Quem é o melhor jogador da equipa?Temos o Favinha, goleador nato. O Gonçalo, jogador que carrega a equipa e o Nuno Domingos que só precisa de mais maturidade. Foi meu colega de equipa durante alguns anos e nunca pensei que viria a ser seu treinador.Um ídolo da modalidade?Gostava do Chana. Também o Pedro Alves jogador que defrontamos e que já tem 40 anos. No desporto em geral gostava do Maradona. Gostava de ter um autógrafo dele. Sente-se bem num clube filial do Sporting? Claro, sou sportinguista desde miúdo. Também estive no Sporting Marinhense. Tenho paixão pelo Sporting, mas no hóquei não consigo dizer que gosto mais deste ou daquele. O meu clube é o Sporting de Tomar.Tem uma vida de jogador e treinador ligada ao hóquei em patins.Joguei hóquei no Estremoz nos escalões de formação, e estive no Marinhense, Marrazes, Turquel e Alcobaça, este último clube onde acabei a carreira de jogador e onde com começou a carreira como treinador. Esteve aí dois anos, três épocas no Marinhense e cinco épocas em Tomar. sou treinador de nível III, o que me habilita a treinar qualquer equipa de I Divisão.A ambição é um dia ser profissional do hóquei em patins?Sem dúvida. Aceito um convite na hora, adorava ser profissional da modalidade apesar de ser muito difícil. Era o sonho da minha vida, fazer só isto.Quando não pensa em hóquei, pensa no quê?Adoro música, tocar bateria. Fiz parte de um grupo chamado “Estado Sónico”, da Marinha Grande, que tocava rock. Mas adoro jantar com os amigos, estar com eles e conviver.A família acompanha os jogos?Esposa e filha algumas vezes e também os meus pais. Vive-se para o hóquei de patins lá em casa.Defina o Sporting de TomarÉ um clube que luta e ambiciona a ser conhecido a nível nacional e uma cidade apaixonada pelo hóquei. Tem grande tradição e pode afirmar-se definitivamente como clube de primeira divisão sem gastar o dinheiro que outros gastam. Precisa de coerência e de não viver com pressões para tomar as decisões certas.Sporting de Tomar vive o sonho de jogar entre os grandes do hóqueiFundado em 26 de Fevereiro de 1915, o Sporting Clube de Tomar – primeira filial do Sporting Clube de Portugal - criou a sua primeira equipa de hóquei em patins em 1950, com o florescimento da modalidade. Se durante vários anos reinou o futebol como modalidade principal, a partir daquela data foi o hóquei em patins a assentar arraiais e com ele chegaram os principais feitos nacionais e internacionais do clube.O Sporting Clube de Tomar foi campeão nacional da II Divisão nas épocas 80/81, 93/94 e 99/00. O clube participou ainda na Taça CERS, competição europeia de clubes, depois de ter sido quinto classificado num campeonato nacional da I Divisão.Nas últimas cinco épocas, desde que Nuno Lopes orienta tecnicamente a equipa, que o Sporting de Tomar vem lutando pela subida à I Divisão. Foi quarto, terceiro e segundo classificado em diferentes séries da II Divisão, acabando sempre por morrer na praia quanto ao seu objectivo principal.A época de 2009/2010 era decisiva. O clube preparou-se para não sofrer mais. Venceu os jogos decisivos e fez a festa em casa. Acabou o campeonato no segundo lugar da Zona Sul da II Divisão, atrás do Cascais, com 75 pontos. Resultado de 30 jogos realizados com 24 vitórias, três empates e apenas três derrotas. Duzentos e dois golos marcados, o ataque mais concretizador do campeonato, e 110 golos sofridos. A festa foi preparada pela secção de hóquei e equipa técnica. Com o triunfo a equipa garantiu o segundo lugar da zona sul do campeonato e o regresso ao convívio dos grandes.É com equipas como o Benfica, Porto, Óquei de Barcelos ou Oliveirense que o Sporting de Tomar se tem digladiado em 2010/2011 na I Divisão. A equipa não se tem dado mal, está classificada a meio da tabela mas o treinador Nuno Lopes quer sempre mais. A equipa custa cerca de 120 mil euros por ano. A maior parte dos jogadores é oriundo da zona oeste onde durante muito tempo se fixou Nuno Lopes, primeiro como jogador, depois como técnico. Este ano a equipa já cometeu a proeza de vencer em Barcelos mas também já conheceu o que é ser goleado por Benfica e Oliveirense. Seja qual for a classificação que obtiver a equipa já está a fazer história pelo Sporting de Tomar muitos anos depois do último contacto com os grandes. Esta época Nuno Lopes volta a comandar a equipa que é composta por Márcio Ornelas, David Gonçalves, Gonçalo Santos, João Lomba, Rui Alves, Orlando Fernandes, Tiago Barros, Ivo Silva, Nuno Domingues, Gonçalo Favinha e Fábio Guerra. Ricardo Cardoso é o preparador físico, Joaquim Palricas o enfermeiro, Álvaro Ventura o massagista e Patrícia Cardoso a fisioterapeuta. Fernando Silva é quem cuida das rodas e dos patins, o mecânico. A equipa conta ainda com uma psicóloga voluntária, Filipa Inácio, e com o apoio técnico de Romain Santos. António Rodrigues é o director desportivo de uma secção que conta com o apoio de António Dias, João Bernardino, Pereira da Silva, José Fernandes e Jorge Rufino.

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