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O maior capital de José Eduardo Carvalho é o gosto de assumir riscos e de viver no limite

Desportos radicais para queimar a energia que não consegue gastar a nível profissional

É conhecido como presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém mas a sua actividade profissional tem muitas outras frentes. O seu dia começa às seis da manhã e por vezes acaba muito tarde mas tem uma energia inesgotável. Se a adrenalina fosse dinheiro era um dos homens mais ricos do país.

A sua visibilidade a nível dos meios de comunicação está relacionada com a presidência da Associação Empresarial de Santarém e com a vice-presidência da AIP mas a sua actividade profissional vai muito para além desses cargos. Sou presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Tagusgás e administrador, gerente, sócio e accionista de diversas empresas.Uma delas é o TVT - Terminal Multimodal de Riachos - que inicialmente passou por uma fase difícil em termos de arranque. Qual é a situação actual?Estou na administração do TVT ao qual me dediquei com todo o entusiasmo nos últimos dois anos. Trata-se de um terminal rodo-ferroviário que assume actualmente uma importância muito grande nas operações logísticas do distrito de Santarém e de toda a região centro. Há um grande desconhecimento disso. Fazem-se ali as operações logísticas do IKEA, da Decathlon, da Nestlé e mais recentemente da Auto-Europa. Opera no TVT o operador Ferroviário Takargo, do grupo Mota-Engil. Qual o volume de mercadoria movimentada?As composições ferroviárias neste terminal, em 2010, foram mil cento e quatro. Um crescimento de 15 por cento em relação ao ano anterior num ambiente de recessão económica. Foram movimentados 90 mil contentores. Uma actividade só superada a nível dos portos de Lisboa, Leixões e Sines. Trabalham lá 10 pessoas. Também passa parte do seu tempo na DET – Desenvolvimento Empresarial e Tecnológico, que é considerada uma das três maiores incubadoras de empresas do país, uma vez que é administrador dos cinco parques de negócios em consolidação da região…Sim. E sou presidente do Conselho de Administração de três. Os parques de negócios são o principal projecto estruturante da região. Neste momento, mau grado o atraso do projecto relativamente ao planeamento inicial, devido às alterações do uso do solo e ao processo de licenciamento, os dados do projecto já são significativos. O apport accionista ao projecto é de 6,1 milhões de euros. O investimento efectuado pelas sociedades gestoras ascende a 22,3 milhões e temos 17 empresas instaladas ou em fase de instalação o que corresponde à criação de 643 postos de trabalho criados.O mais adiantado é o de Rio Maior.Em Rio Maior a primeira fase está construída. Já está na fase de comercialização. Faltam pequenos trabalhos para ser feita a recepção definitiva da obra. No Cartaxo, a primeira fase está neste momento em projecto de execução e já se abriu concurso. As obras iniciar-se-ão em Abril/Maio. A primeira fase de Fátima/Ourém está também em projectos de execução, assim como Torres Novas.É também presidente do Conselho de Administração da Tagusgás. Qual é a actual dimensão da empresa? Neste momento temos 735 km de rede construída e 30 mil pontos de entrega. Distribuímos 110 milhões de metros cúbicos. A área de exploração é muito grande. Temos Santarém e Portalegre. A empresa investiu 6,2 milhões de euros em 2010 e em 2011, vamos investir 4,2 milhões na extensão da rede e fazer conversões para obter novos clientes domésticos e terciários onde a rede já está instalada.Qual a percentagem de gás para consumo doméstico na área da Tagusgás?Cerca de 9 por cento. Tudo o resto é consumo industrial e terciário.Tem alguma conduta que atravesse o Tejo? Não. Não era rentável. Optámos por UGAs (Unidades Autónomas de Gás) que são abastecidas através de camiões cisterna. Temos uma em Alpiarça que alimenta aquele concelho e Almeirim e outra no Tramagal para alimentar a Mitsubishi. Foi um trabalho interessante do ponto de vista técnico e uma boa solução porque a construção do piping tinha custos extremamente elevados. Terminal Multimodal de Riachos, Parques de Negócios, Tagusgás…Tenho também outra empresa a Iberscal que também sou responsável pela sua gestão e que basicamente implementa sistemas de certificação de qualidade. É líder do sector em Santarém, Portalegre Leiria. E a Gama Própria.O que é a Gama Própria? Um dia, em Novembro do ano passado, eu e dois amigos acabámos por nos meter nesse projecto. É uma empresa de curtumes em Alcanena, que comprámos à família Monteiro-Ribas, que tem um terreno com 50 mil metros quadrados. Este projecto tem dois desenvolvimentos. Obviamente que se vai manter a produção tradicional. Há um projecto de internacionalização subjacente a esta aquisição e também um outro projecto, num outro sector de actividade, que justificou este investimento. É um investimento que deve ultrapassar o milhão e meio de euros. Apaixonado por desportos radicaisComo alivia o “stress” associado às suas múltiplas actividades como gestor?O desporto constitui um factor de equilíbrio. É uma forma de libertar a minha agressividade natural. Levanto-me todos os dias às 6h. Durante a semana vou dois dias ao ginásio. Começo às 7h. E há um dia em que faço footing a partir das 6h30. No fim-de-semana pratico regularmente futebol, canoagem ou footing.Não é segredo que é adepto de desportos radicais. Nas várias edições do Challenger Nersant destaca-se sempre pela sua boa forma física.É verdade. Adoro desportos radicais. Pratico frequentemente rafting, canoagem, slide, rappel e orientação. Tenho o brevet de paraquedismo e sou um amante de ski alpino. Frequento estágios de slalom gigante e participo em provas de competição para veteranos.Até onde vai o seu gosto por situações limite e de desafio às suas capacidades? Há 14 anos tive um princípio de um enfarte. Estive três dias nos cuidados intensivos no hospital de Santarém. Para testar se o meu coração estava capaz ou não, oito dias após ter tido alta, fui tirar o brevet de pára-quedista em Tancos, no pára-clube Os Boinas Verdes. Gosto de andar nos limites.E actividades mais tranquilas? Gosta de ler, por exemplo?Sou leitor assíduo de jornais e livros. Actualmente estou a ler “Nó cego da economia”, de Vítor Bento, “Depois da crise”, de Mira Amaral e “Fontes Pereira de Melo”, de Filomena Mónica.Liderança credível José Eduardo Carvalho foi o homem certo no momento certo para a Associação Empresarial de Santarém. Com ele a Nersant cresceu, consolidou-se e ganhou estatuto e força reivindicativa. Com tenacidade e firmeza constituiu uma equipa, traçou um rumo e marcou a diferença num pulverizado movimento associativo empresarial. Fez ouvir as reivindicações dos empresários da região nos centros de decisão e foi muitas vezes um interlocutor privilegiado.Em 2010 conseguiu convencer novos e importantes investidores a instalarem-se na região, dinamizou novas iniciativas que reforçaram a ligação da associação à sociedade e conseguiu avanços significativos no desenvolvimento dos cinco Parques de Negócios que são já considerados pilares essenciais do desenvolvimento da região. O presidente da Nersant atingiu um nível de credibilidade acima da média não só a nível do distrito mas a nível do movimento associativo empresarial do país. Vice-presidente da AIP, foi eleito membro da Direcção Confederação Empresarial de Portugal, em Janeiro de 2011.José Eduardo Marcelino Carvalho nasceu em Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo, em 9 de Setembro de 1957. É licenciado em Sociologia, tem uma pós-graduação em gestão empresarial e frequência do Mestrado na mesma área.Trabalhou no Instituto de Ciências Sociais em projectos de investigação, foi director de recursos humanos de importantes empresas e professor do ensino superior. Iniciou a sua actividade empresarial em 1991.É presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Tagusgás e administrador, gerente, sócio e accionista de diversas empresas. A nível do associativismo empresarial foi presidente do Clube de Empresários de PME’s, é presidente da NERSANT desde 1994 e vice-presidente da AIP. Foi eleito membro da Direcção da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, em Janeiro de 2011. Não há uma cultura propícia ao aparecimento de empresasSe os governos tivessem estado mais atentos ao que os empresários e as suas associações têm dito nos últimos anos, seria mais fácil à nossa economia aguentar esta crise?O problema é saber que empresários é que os governos ouvem. Em Portugal há perto de 700 associações empresariais. Ninguém sabe como existem ou como subsistem. Algumas só têm existência porque é importante para o seu presidente ter um acesso directo ao secretário de Estado. Claro que esta divisão do movimento associativo agrada a quem governa. Por outro lado, em determinados momentos os governos são mais sensíveis aos argumentos dos banqueiros e dos grandes grupos do que aos argumentos das associações empresariais. Os empresários não conseguem influenciar as decisões dos governos?Há situações em que isso acontece mas são raras. É um desencanto. O que os empresários pensam não é tido em conta a maioria das vezes. Os pequenos-almoços que se possam ter com o ministro ou com o secretário de Estado; as pequenas reuniões ou a participação nos conselhos económico-sociais não chegam para influenciar decisões a nível da economia. Quais os resultados obtidos pela NERSANT junto dos governos nos últimos anos?Tivemos um ministro que nos ouviu muito no tempo dos governos de Cavaco Silva, que foi o Engº Mira Amaral (Indústria e Energia). Mas os ministros do Partido Socialista ouviram mais a Associação e os interesses dos empresários do distrito de Santarém que os Ministros do tempo de Durão Barroso e Santana Lopes.Nem sempre a NERSANT anda a pregar no deserto. Não. Em relação às medidas anti-crise, por exemplo, um conjunto significativo de propostas que nós fizemos, foi aceite e implementado. Por exemplo, a criação dos fundos de fusões e aquisições, para as empresas ganharem dimensão e internacionalizarem-se. A criação de um fundo de investimento imobiliário. Arranjar uma forma de fazer protecção social aos empresários, nomeadamente aos empresários em nome individual, em situações de insolvência ou de falência. Foram propostas que se fizeram e que tiveram acolhimento.Todos os processos que o governo pôs à disposição para criação de empresas já satisfazem a Nersant?Em relação ao processo de formalização de empresas Portugal está à frente de muitos países da Europa. Em termos de apoio à criação de empresas e de incentivos ao empreendedorismo não estamos tão avançados.Quais são as falhas?Em primeiro lugar é preciso que se refira a questão cultural. Não há uma cultura propícia ao aparecimento de empresas. Na década de 80 houve um “boom” graças a algumas medidas implementadas mas se formos verificar onde estão e o que fazem, descobrimos que o tal “boom” não foi tão importante quanto isso. E a partir de uma certa altura houve um enorme refluxo. Nós temos dificuldades todos os anos em atribuir o Galardão para o Jovem Empresário, o júri tem dificuldade em escolher. Poucos jovens se sentem atraídos para esta actividade. Foi presidente da Associação Empresarial de Santarém durante 14 anos. O que é preciso para exercer essas funções?Muita coisa, mas fundamentalmente é preciso disponibilidade e motivação. E isso nunca me faltou. E foi gratificante. Mas este trabalho não foi só meu. Foi feito por um grupo coeso de pessoas e de uma forma muito empenhada. Isso tem que continuar. Nunca tivemos rupturas e passaram pela direcção cerca de 40 pessoas. Nunca houve uma demissão. Nunca foi posta em causa uma decisão tomada. Isso foi fundamental. Quando se perde tempo a dirimir conflitos não se está a trabalhar e acrescentar valor às instituições. O que deixa como legado?Deixo uma Associação Empresarial com 1400 associados; com um activo líquido de 15,6 milhões de euros; com um património invejável e com um volume de proveitos que este ano vai ultrapassar os 3 milhões de euros. A conjugação dos associados, do activo, do património e valor dos proveitos, transforma esta associação na terceira associação empresarial do país. E tem condições para continuar a acrescentar valor e a crescer. O volume de projectos aprovados nesta altura e que o próximo presidente vai trabalhar é de 15 milhões de euros. Isto dá alguma solidez.Imagina como teria sido a sua vida se não tivesse estado estes anos todos na Nersant?Não sei. Não imagino o que se teria passado se não tivesse aceite o convite que há 15 anos me foi feito pelo José Eduardo Marçal a quem nesta altura de despedida tenho que agradecer. É uma pessoa a quem o Nersant deve muito. Deveria ser muito difícil numa altura como aquela, andar à procura de sítios, mobilizar pessoas, etc...normalmente quem arranca com os projectos tem, de facto um grande valor. Quanto a mim e voltando à pergunta, ganhei numas coisas e perdi noutras. Provavelmente ganhei mais do que perdi.A coesão directiva de que falou foi o único segredo do sucesso da Nersant? Definimos à partida que a associação não poderia ter apenas a matriz tradicional. Fazer formação, seminários e uma feiras, como outros fizeram. Definimos também que não poderia ser apenas representativa dos interesses das empresas. Tinha que ter um papel interveniente no desenvolvimento regional. É neste modelo que assenta o sucesso, bem como num grupo de bons colaboradores, entre os quais destaco o Engº António Campos que foi director-geral durante 13 anos. Nunca tivemos uma ruptura e mantivemos uma relação de grande lealdade e eu tenho que realçar isso.A vida política activa é uma possibilidade para si? Política não. De certeza absoluta. É o que tenho mais certo na vida.

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