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Um músico multifacetado e exigente que ajuda a reinventar o som da guitarra portuguesa

Custódio Castelo é arrebatador quando toca e diz que dá a alma em tudo o que faz

O som da sua guitarra portuguesa está espelhado por todos os discos de topo do fado. Para os especialistas já começa a ser fácil distingui-lo, graças ao seu carácter inovador. Mas apesar de se definir como músico especializado em acompanhamento, Custódio Castelo tem já editado um disco a solo, “Tempus” e prepara um segundo, “Ventus”, que diz procurar ser um hino à liberdade. Em 2010 ganhou o prémio Amália.

Começou a gravar o seu segundo disco a solo em 2010. Já está concluído? Quando vai ser lançado? Infelizmente tive problemas com a gravação que estava a ser feita e fui forçado a recomeçar praticamente do zero. Mas o CD, que se chamará “Ventus” deverá ser editado este ano. Nesta altura o primeiro trabalho a solo “Tempus” está a ser distribuído a nível de vários países, nomeadamente nos Estados Unidos. O que é que podemos esperar de “Ventus”?O “Ventus” foi concebido como um hino à libertação. À liberdade. Através da minha música procuro falar da liberdade de expressão; da liberdade de amar; da liberdade das crianças e da sua inocência...Este segundo disco é o cimentar da sua faceta de solista.Sou compositor, produtor discográfico e músico. Como músico a minha especialidade é o acompanhamento. Eu estou nos discos de topo do país. O meu trabalho está ali. Amo aquilo que faço. Há artistas que a solo dão cento e vinte por cento e a acompanhar dão cinquenta por cento. Eu não. Eu dou tudo. Eu dou a alma em tudo o que faço. Podia ser apenas solista como foi, Carlos Paredes, por exemplo? O Carlos Paredes é o Carlos Paredes. Eu não sou comparável a ele. É desta diversidade que se faz a nossa cultura. É esta diversidade que torna a guitarra portuguesa tão rica. Eu faço questão de dialogar. Com cantores. Com músicos. Eu transporto o meu país no som da guitarra portuguesa mas a abordagem que eu faço à guitarra portuguesa, procuro que ela atinja a universalidade.É no estúdio, numa gravação, que se consegue tirar o melhor som da guitarra?O estúdio é climatizado e não há diferenças de temperaturas o que é muito bom para a afinação dos instrumentos. Se houver oscilações de temperatura não se consegue segurar a afinação. Os instrumentos de corda como a guitarra são muito sensíveis, por isso os espectáculos ao ar livre são um problema. Nós começamos com uma afinação e depois o instrumento desce. O próprio calor do corpo vai introduzindo alterações.Em 2010 recebeu o prémio Amália de melhor instrumentista. Para quem conviveu com a fadista esta distinção deve ter sido um grande orgulho. Foi um reconhecimento talvez também pela amizade que me ligava à dona Amália Rodrigues. É assim que aceito as coisas. Receber um prémio daqueles é prestigiante, não só para mim mas para a classe da guitarra portuguesa e para toda a gente que aprendeu e continua a aprender a Amália. Não gostava muito de fado e aprendi a gostar com Amália. Tive o privilégio de tocar para ela, de a conhecer e isso para mim constituiu uma bênção. Além da produção do “Ventus”, que outros projectos tem o Custódio Castelo para este ano? Tenho em mãos o projecto de um disco novo da Cristina Maria que se chama “Percursos”. Tive o privilégio de produzir e tocar no primeiro disco “O Outro Lado”, em que ela, como escultora e mestre de cantaria artística, fez um disco dedicado à sua arte. Fui também buscar novos sons, enquanto produtor. Ainda não tinha ido em busca dos sons das pedras. As pedras também são música, como a madeira. Este vai ser um projecto para desenvolver ao longo deste ano. Para 19 Março está marcado um concerto de apresentação deste trabalho, em Leiria. Apesar do muito trabalho que tem, ainda consegue arranjar tempo para dar aulas de guitarra portuguesa na Escola Superior de Artes do Politécnico de Castelo Branco.Tenho essa missão de passar o conhecimento, mas também é um reconhecimento. Porque o que acontecia aos nossos guitarristas é que tocavam a vida toda e nunca tinham um reconhecimento. Alguns deixavam os discos, outros nem por isso. Hoje pode-se tirar um curso superior de guitarra portuguesa.O seu trabalho está nos discos de muitos artistas de topo, como a Mariza ou a Ana Moura, mas também está em muitos discos que não são de topo. Porquê? É o meu lado humano. Eu não tenho coragem de dizer que não. Nesta altura estou a fazer um disco de um fadista amador que sempre demonstrou uma enorme vontade de gravar comigo. Artisticamente muita gente me aconselharia a não gravar aquele disco mas vou fazê-lo. O Custódio Castelo pode sentir-se melhor como acompanhador mas a sua guitarra não se contenta com um lugar secundário. A certa altura a guitarra portuguesa foi conotada exclusivamente com o fado. A guitarra servia o fado. Onde havia guitarra portuguesa havia fado. Os guitarristas estavam a servir de suporte, nem tinham direito a ter o seu nome divulgado. Num filme português dos anos 50 a certa altura o apresentador depois de dizer o nome do fadista tenta apresentar o guitarrista e diz qualquer coisa como: “À guitarra o famoso, o conhecido…o polidor”. O polidor era a profissão do senhor, não era nome. Hoje em dia não é assim. Se eu posso segurar algum estandarte, após 25 anos a tocar este instrumento, é o de ter contribuído para o levar a todo o mundo dando-lhe o devido destaque.Para gravar discos de artistas amadores é porque se revê nesses trabalhos…Não me envergonho de nada que fiz até hoje. Dedico-me a esses trabalhos assim como me dediquei, com grande êxito, à carreira da Cristina Branco, que também, de certa forma, foi a minha carreira e um projecto de vida, naquela altura. A fama não lhe sobe à cabeça.Se fosse pessoa de ostentação não ligava aos artistas amadores. Mas sou uma pessoa simples e humilde. Na adolescência descobriu a guitarra portuguesa e apaixonou-se por ela mas não gostava de fado. O seu interesse resumia-se ao instrumento. Utilizou-a para tocar rock ligada a um amplificador e com uma afinação igual à de uma viola. Qual é a sua relação actual com o fado?É verdade que com a guitarra portuguesa foi amor à primeira vista. E dediquei-me a ela com toda a minha alma. Quanto aos fados, foi realmente diferente. Tive que adaptá-los à minha maneira para poder gostar deles. Foi esse o percurso que me levou ao que eu sou agora enquanto músico e compositor. Recria esses fados?Não posso menosprezar aquilo que é a nossa raiz. Quando me pedem o Fado Mouraria ou o Fado das Horas eu toco-o na íntegra, como eu aprendi. E faço questão de respeitar. Mas para amar o fado tive que lhe dar um cunho pessoal. Como é que se define o Custódio Castelo?Há blues, Jazz, fado, morna…eu não defino a minha música como fado. A minha música é aquilo que eu sinto. Mas a sua música está quase toda em discos de fado. Por vezes há pessoas que vão comprar discos de fado que eu produzi e onde toco para ouvirem o que eu toco. Para verem as introduções que fiz para os fados; os sons que eu faço lá no meio. Às vezes em casos extremos, nem ligam a quem está a cantar mas apenas aos solos, contrapontos, etc. Nunca fazer igual Custódio Castelo é um dos melhores guitarristas portugueses da actualidade. O músico, compositor e produtor discográfico nasceu em Almeirim a 23 de Dezembro de 1966 e reside no Monte da Vinha, uma pequena localidade da freguesia de Fazendas de Almeirim. É pioneiro na utilização de uma guitarra sem costas ou sem fundo. Usa um instrumento com aquelas características criado por Óscar Cardoso, um dos mais conhecidos construtores de guitarras do país. Em 2010 foi distinguido como melhor instrumentista pela Fundação Amália, a fadista que encantou Custódio Castelo e que ele chegou a acompanhar. O trabalho do guitarrista, que se considera um especialista em acompanhamento, está nos principais discos dos melhores fadistas nacionais, entre os quais Mariza ou Ana Moura, por exemplo. Paralelamente desenvolve um projecto a solo. Tem no mercado o disco “Tempus” que está a ser distribuído a nível internacional e iniciou a gravação de um segundo trabalho que deverá ser editado com o nome “Ventus” e cujo fio condutor é a liberdade.Antes de chegar à guitarra portuguesa tocou viola em grupos de música popular portuguesa e bandas rock. Foi responsável por grande parte dos trabalhos da cantora Cristina Branco com quem foi casado, tendo editado discos que foram considerados inovadores.Aos 20 anos foi convidado por Jorge Fernando a gravar um álbum. Ficaram amigos e Custódio Castelo acompanhou Jorge Fernando em todos os seus discos de fado. Em conjunto gravaram trabalhos para artistas como Argentina Santos, Mariza, Ana Moura, Maria da Fé, Gonçalo Salgueiro, Fernando Maurício, Raquel Tavares… A sua paixão, a sua vida, é a guitarra. Gravou com Ana Moura e Jorge Fernando, num convite de Tim Ries, dois temas (Brown Sugar e No Expectation) no segundo volume de “ The Rolling Stones Project “. A sua guitarra está cheia de autógrafos de artistas portugueses e estrangeiros com quem se cruzou, como Jorge Fernando, Ana Moura, Joana Amendoeira, Mick Jagger, entre outros. Está também envolvido num projecto, o Custódio Castelo Trio. É um músico que procura criar novas melodias e reinventar a guitarra portuguesa. Como solista já participou em vários conceituados festivais de música do mundo como, o Festival de Belo Horizonte (Brasil), World Music Festival of Philadelphia (Estados Unidos da América), Festival du Sud (França), entre outros.

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