Um apaixonado pela cozinha que nunca deixou de aprender e descobrir
Manuel Vieira é o proprietário do único restaurante gourmet de Vila Franca
Nasceu na região do Minho mas cedo preferiu o sul ao norte. Estudou em Alverca, trabalhou na Vala do Carregado mas foi em Vila Franca de Xira que montou o sonho que o perseguia desde criança: ter um restaurante gourmet. Chegou a trabalhar de borla nos restaurantes dos principais chefes do país para aprender. Hoje é o dono do Club Restaurante, no Clube Vilafranquense.
Aos 47 anos Manuel Vieira diz que é um apaixonado pela cidade de Vila Franca de Xira, onde concretizou um dos seus sonhos há quase 10 anos: abrir um restaurante gourmet. Antes disso teve várias profissões, desde encarregado da limpeza da central termoeléctrica da Vala do Carregado a proprietário de uma charcutaria. Também abriu um bar mas desistiu pouco depois.Natural da região do Minho, viveu no norte do país até aos 14 anos, tendo frequentado a escola e, mais tarde, mudou-se para Braga. “Eu tive uma infância óptima, o meu pai era funcionário da hidroeléctrica do Cávado e tinha lá perto condições fabulosas, como piscinas, escolas e jardim. Só que o resto era tudo muito rural e deprimente. Em Braga a mesma coisa. Quis vir para o sul porque a mentalidade do norte é muito má, muito atrofiante. Queria algo mais descontraído”, confessa.Manuel aproveitou o facto de um familiar estar a morar em Alverca para vir completar os estudos na cidade. Alugou uma pequena casa e começou a trabalhar na termoeléctrica da Vala do Carregado. “Comecei nas limpezas mas como naquele tempo a progressão na carreira dentro da empresa estava dependente da antiguidade comecei a pensar que teria de mudar a minha vida. Só tinha três opções: ou apostar noutra carreira, prosseguir estudos ou montar um negócio. Optei pela última”, conta.Com apenas 20 anos, na companhia da mulher, abriu um negócio que não existia na cidade, uma charcutaria gourmet, com produtos diferentes de qualidade superior. “Eu percorria o país todo em busca de novidades e coisas diferentes para vender. Naquela altura não havia hipermercados, não havia concorrência. O negócio foi um sucesso”, partilha. Segundo Manuel Vieira “naquele tempo havia mais dinheiro em Vila Franca de Xira” e isso permitiu que muito comércio florescesse na freguesia. “Hoje Vila Franca de Xira está pobre, mas acho que isso é um reflexo de tudo o que se passa no resto do país”, lamenta.Mais tarde, com a abertura do centro comercial na cidade, o empresário viu uma nova hipótese de negócio e desfez-se da charcutaria para montar um restaurante no edifício, que ainda hoje se mantém. Empolgado com os negócios Manuel abriu um novo projecto, um bar na rua direita, que hoje também ainda tem as portas abertas mas com outros donos. “Eu estava muito motivado naquela altura. Abri o bar mas aquilo é para quem pode, não para quem sabe. A noite, os copos, é de gestão difícil. Estive com a gestão do bar durante dois anos, numa altura em que ainda trabalhava na central da Vala do Carregado, tinha o restaurante e o bar. Rapidamente abdiquei do bar”, conta.“Tive sucesso com o restaurante, o centro comercial naquele tempo era novidade, foi fácil ter sucesso, atraía muita gente. Mas eu já tinha uma ideia fixa daquilo que queria”, recorda a O MIRANTE.Há cerca de uma década, a convite do presidente do Clube Vilafranquense, António Matos, o comerciante foi convidado a abrir um restaurante na sede do clube. “Isto era um espaço amplo, só tinha um pequeno bar. Fui desafiado e aceitei, fizemos as obras e naquele tempo isto abriu com um ar arrojado e diferente”, recorda o responsável. Diz que nunca se encostou ao que alcançou, que gosta de experimentar, aprender e descobrir novas formas de inovar na cozinha. No restaurante é um “faz tudo”: cozinha, serve às mesas, limpa e faz a gestão do espaço. Durante algum tempo chegou a trabalhar de borla em restaurantes de chefes famosos do país para aprender a arte da cozinha, entre eles Bertílio Gomes, Sá Pessoa e Vítor Sobral. “No início começámos a fazer cozinha de autor com produtos da região, só que a coisa não funcionou muito bem. Isso criou um certo estigma de que este é um restaurante caro. Na altura em que abri o restaurante não era apenas para as pessoas da cidade mas também para as pessoas de fora virem experimentar”, conta. Pouco depois do arranque do restaurante a crise internacional bateu à porta e o restaurante sofreu modificações, actualizando-se aos tempos de austeridade, com pratos desde os 9 euros. “Vila Franca está a atravessar um momento de transformação, está a adaptar-se e vamos ver o que vai sair de todas essas transformações”, conclui.
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