Trabalhar para cumprir o sonho de ser matador de toiros
Jovens têm como mestre Victor Mendes na Escola de Toureio José Falcão em Vila Franca de Xira
Talento não é só o que se exige a um matador de toiros. Para domar o animal é preciso força de espírito e muito trabalho, diz o director da Escola de Toureio José Falcão, em Vila Franca de Xira, o maestro Victor Mendes. Tiago, João e Pedro são apenas três dos jovens que dão os primeiros passos no mundo da tauromaquia a sonhar com um lugar ao sol.
O Tiago, o João e o Pedro têm um sonho em comum: querem ser matadores de toiros. E vão no bom caminho: nas mãos já têm a elegância ao rodar o capote e na língua a defesa da tauromaquia.O Tiago não gosta de “nada que é dado” e o toureio “não é nada fácil”. Com 18 anos faz todos os dias mais de cinquenta quilómetros até à Escola de Toureio José Falcão, em Vila Franca de Xira, onde treina de manhã e à tarde. “O mundo do toureio é de sacrifício e tem que lutar-se por aquilo que se quer. É único porque se podem viver todos os sentimentos num dia de corrida: desde a dor ao sofrimento”, descreve o aspirante a matador de toiros.O Tiago já toureou em praças espanholas e este ano estreia-se no Campo Pequeno, em Lisboa. “É uma emoção e uma responsabilidade muito grande. Queremos estar no nosso melhor, que as pessoas falem de nós. É aí que nos sentimos verdadeiros toureiros”, conta.É para viver este sentimento que não só o Tiago, mas também o João treina todos os dias, durante mais de seis horas, depois das aulas na escola. Fora do campo continua acompanhado pelo mundo do toureio. “Na maior parte das vezes quando estou em casa ao computador só vejo é toiros. Gosto muito disto”, admite. O gosto pelo toureio começou cedo: no bairro em Vila Franca, onde vive desde criança, sempre brincou aos toureiros. “A gente tinha um par de cornos, pegava numas mantas velhas e treinava”, conta João.Hoje, quase uma década depois das brincadeiras, sabe que quando crescer quer seguir os passos dos seus ídolos. O espanhol “El Juli” ou o francês Sebastián Castella são os matadores de toiros que tem como referência.Também Pedro, 16 anos, admite que quer ser matador de toiros em Espanha. Começou a interessar-se pela tauromaquia nas corridas e programas especializados que via na televisão. Há três anos convenceu os pais a inscreverem-no na escola. Desde então que todos os dias depois da escola deixa o centro de Lisboa e ruma até Vila Franca de Xira.Apesar de “gostar de tudo” no mundo dos toiros, sabe que nem todos os amigos aceitam o seu sonho. “Cada um tem a sua opinião e todos têm direito a ela”, acaba por rematar.Tal como Pedro, Tiago e João sabem de cor os argumentos desfavoráveis à festa tauromáquica, mas respeitam-nos e apelam ao diálogo com os movimentos anti-tourada.“Não tenho nada contra desde que não interfiram nem prejudiquem as pessoas que gostam. Até tenho muito gosto em falar com as pessoas anti-tourada, em tentar mostrar-lhes como é este mundo, porque algumas só conhecem a parte do sangue e daquilo a que chamam tortura do animal”, diz Tiago.O director da escola de toureio, o antigo matador de toiros Victor Mendes, acredita que estes três adolescentes podem vir a chegar longe no mundo da tauromaquia. Cada um com o seu estilo de toureio.“Num nota-se mais maturidade, outro tem mais garra, outro mais elegância. Mas é preciso muita virtude para se ser matador de toiros. Não é só o talento, é preciso muita força de espírito para se enfrentar o animal”, afirma Victor Mendes.O antigo matador de toiros acredita que “95 por cento não serão profissionais do toureio”. Mas serão, “com certeza, aficionados com conhecimento de causa”.Afinal, numa escola não se treina só a parte prática. Na teoria ensinam-se os conceitos, o vocabulário e as diferentes técnicas, mas também o “respeito pela festa dos toiros”.
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