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Ruy de Carvalho e a distracção quase “fatal” uma noite no Entroncamento

Ruy de Carvalho e a distracção quase “fatal” uma noite no Entroncamento

A passagem de um comboio provocou-lhe uma “branca” a meio do espectáculo
Foi há 61 anos mas o actor ainda se recorda como se fosse hoje. Ruy de Carvalho estava no Entroncamento a representar no “Teatro do Povo”, ao ar livre. A cidade é atravessada pela linha férrea e a certa altura passou um comboio. O barulho desconcentrou o actor que teve uma “branca”. E ali ficou ele no palco, mudo e a repetir o mesmo gesto para ver se conseguia retomar o fio à meada. Conseguiu...mas só depois do comboio acabar de passar. Foi em 1941. O episódio da falha de memória no Entroncamento foi contado na quinta-feira, 21 de Abril, na livraria bar “Mensagem Aberta”, na rua Miguel Bombarda (Rua Direita), em Vila Franca de Xira (onde o filho João de Carvalho é vereador com o pelouro da cultura), que se encheu para ouvir histórias de um actor consagrado que, aos 84 anos, completados a 1 de Março, mantém um refinado sentido de humor, uma memória intocável e a simplicidade que sempre lhe foi reconhecida.Ruy de Carvalho revelou que, em palco, não ouve apenas comboios a passar, como aconteceu no Entroncamento. Consegue aperceber-se de um rebuçado a ser desembrulhado ou do ruído que as senhoras fazem a mexer nas malas, para além de outros barulhos. “Os homens ressonam mais”, diz com humor. “Os médicos nunca desligam o telemóvel e fazem um sinal a pedir desculpa por terem que abandonar a sala quando recebem uma chamada de urgência”, conta. O actor é um apaixonado por viagens e tem África no coração. Já visitou 29 vezes aquele Continente e diz que ainda não acabou de o visitar. A poucos dias do Dia da Mãe, que se comemora este ano no 1º de Maio, elogiou a mãe dos seus dois filhos e sua companheira de sempre, Ruth de Carvalho, falecida em 2007 e aproveitou para louvar o trabalho das mulheres na sociedade portuguesa que na sua opinião “estão a ajudar o país a crescer”.Contou anedotas, falou dos truques dos beijos técnicos, das vicissitudes em palco e do livro de poesia de Ruth Ministro que está a ler: “A Minha Nuvem”. Bonito, descreve, não se aventurando pelas desventuras de amor da autora. Ainda a propósito de mulheres confessou como o incomodou o facto de José Saramago ter “apagado”, nas reedições dos seus primeiros livros a dedicatória a Isabel da Nóbrega, uma escritora e cronista com quem manteve uma relação amorosa entre 1968 e 1986 e com quem nunca mais falou desde essa altura. O Rei Lear de William Shakespeare, que representou em 1998 terá sido um dos seus principais papéis no teatro mas o actor relembrou na noite de conversa, a peça “O Render dos Heróis”, de José Cardoso Pires que estreou a 1965 no Teatro Império de Lisboa com música do guitarrista Carlos Paredes. Ruy de Carvalho interpretou um cego e aquele personagem acocorado a um canto, de viola aos pés, com uma lata na mão para receber esmolas marcou-o. “O povo português também é cego quando lhe apetece”, afirmou.
Ruy de Carvalho e a distracção quase “fatal” uma noite no Entroncamento

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