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Uma dança que une o desporto à arte

Dança desportiva no Ateneu Artístico Vilafranquense tem 16 alunos inscritos

Numa noite de treino intensivo para uma competição que se avizinha, os pares de dança desportiva seguem os ritmos das músicas que saem da aparelhagem comandada pelo responsável técnico, Armando Baptista. Esta é mais uma das aulas que decorrem semanalmente no Ateneu Artístico Vilafranquense. Os que praticam assumem que é um vício que não conseguem largar.

Quem vai tomar um café ao Ateneu Artístico Vilafranquense, em Vila Franca de Xira, depois do jantar, às segundas e quintas-feiras, depara-se sempre com a aula de dança desportiva. Os rapazes conduzem as damas pelo salão, seguindo esquemas previamente delineados pelo professor para cada dança executada. Os pais e outros curiosos enchem as mesas para assistirem aos treinos da modalidade que é mais conhecida por “danças de salão”. Vestidos com roupa confortável e os sapatos obrigatórios de dança, os pares vão dançando ao som das músicas latino-americanas e clássicas, orientados sempre pelos reparos e incentivos do professor Armando Baptista. Numa outra sala, voltada para um grande espelho, a professora Sílvia Carvalho, de 31 anos, ensina passos básicos de dança a duas meninas. Todos os alunos têm de passar por esta turma de iniciação antes de passarem para a competição. Mas para além de aprenderem a técnica, também precisam de arranjar par. “Existem mais raparigas na dança desportiva e muitas permanecem durante anos na turma de iniciação até conseguirem arranjar um par. É uma modalidade ingrata porque precisa de ser praticada a dois”, explica a professora. Muitas desistem, outras são mais resistentes, como a própria Sílvia Carvalho que ao entrar com 15 anos para a modalidade esperou dois anos até arranjar um par. Dos 16 alunos inscritos, oito pares entram em competições duas vezes por mês em Portugal e levam também o nome da escola e de Vila Franca de Xira a outros países. Os apoios e os patrocínios revelam-se fundamentais. Um vestido de alta competição oscila entre os 800 e os 3600 euros e um par de sapatos não custa menos de 80 euros. O ideal era trocar de vestido em todas as competições, mas nem sempre é possível. “A maior parte das vezes temos mesmo de mandar fazer o vestido nas costureiras, com as ideias que vamos tirando de outros fatos, para ficar mais em conta”, explica Miriam Chaparro, de 15 anos, que treina há 10 anos. Nos pares do ateneu funciona o “pai-trocino”, como explica o professor que tem pena de não ver a modalidade mais apoiada. Muitas vezes o par que a música juntou pode dar em namoro e casamento, mas não é muito comum ao contrário do que se possa pensar. “Quando o par começa a namorar muitas vezes não conseguem separar a relação pessoal da dança, o que acaba por prejudicar o trabalho”, alerta Sílvia Carvalho. É a vertente competitiva que puxa mais para a dança o par Miriam Chaparro e Diogo Simões. “Trabalhamos para atingir um objectivo e isso é muito motivador”, aponta Diogo Simões, de 18 anos, que de momento não está em competição por causa de um problema de saúde. “Há alturas em que pensamos que conseguimos viver sem a dança, mas depois de 10 anos a praticar já não é possível”, nota. Também Miriam Chaparro destaca a cumplicidade que se cria com os restantes colegas. Mal a conversa termina, os dois saem disparados em direcção à música para continuarem a dançar. Muitos pensam, segundo Armando Baptista, que a dança desportiva é um “bailarico mais cuidado”, mas nada mais errado. “Somos atletas de alta competição e todos os nossos pares seguem uma dieta rigorosa e também fazem ginásio”, revela o professor que descreve a dança desportiva como “um misto de arte com desporto”. Quem desejar entrar para a modalidade pode fazê-lo sem ter obrigatoriamente de entrar em campeonatos. “Estamos abertos a alunos dos 5 aos 95 anos e podem vir todos os elementos da família”, diz Sílvia Carvalho, assegurando que toda a gente consegue aprender, mesmo os que se consideram “um pé de chumbo”. A aulas da turma de iniciação decorrem às segundas e quintas, entre as 19h30 e as 20h15 para os mais pequenos e entre as 20h15 e as 21h00 para os adultos. O custo da mensalidade é de 25 euros para os sócios do Ateneu Artístico Vilafranquense.Um amor unido pela dança Os professores da dança desportiva do Ateneu Artístico Vilafranquense, Armando Baptista e Sílvia Carvalho – são casados e foi a paixão pela dança que os uniu. Sílvia Carvalho estava longe de imaginar aos 15 anos que se casaria com o homem que era na altura o seu professor de dança. Depois de uma incursão pela escola de dança Alunos de Apolo, em Lisboa, Sílvia Carvalho regressou, em 2001, ao ateneu para dar aulas. O par começou a namorar e quatro anos depois casaram. Neste momento a professora dedica-se só às aulas de dança. O marido é comandante de uma unidade de emergência durante o dia, dando aulas todos os dias à noite. Para além de Vila Franca de Xira, tem turmas em Lisboa e Santarém. Ao fim-de-semana sobe ao norte do país para orientar alguns pares do Porto e de Braga. “Diariamente é uma luta muito violenta, mas quando se gosta vale a pena. Vivo o fascínio pelos meus alunos.” diz Armando Baptista. Dos 200 pares que existem em competição em Portugal, é responsável por 84. Em 1995 conseguiu ser campeão ibérico e já com a Sílvia Carvalho como par conseguiram ficar em 32º lugar no Campeonato do Mundo. Os dois decidiram sair da competição, mas não escondem a tristeza. “O melhor é sair quando se está no topo da carreira. Há que libertar o lugar para os outros e nunca permitir que um aluno possa ficar à nossa frente”, aponta o professor.

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