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José António Ouro

José António Ouro

61 anos, empresário de restauração, Almeirim

Trabalhou na Direcção de Finanças durante mais de trinta anos e, após a reforma, dedicou-se à restauração, abrindo o restaurante “ O Zézano” em Almeirim, onde trabalha conjuntamente com a esposa, as duas filhas e o genro. O culto do trabalho é um legado dos pais que respeita e tenta transmitir.

Nunca me imaginei a trabalhar na restauração. Abri a sociedade no restaurante porque, após a reforma, tinha a intenção de arranjar uma ocupação. É uma empresa familiar. Estou aqui como sócio da empresa mas o futuro é deles. A minha mulher está mais direccionada para a doçaria e toma conta dos netos (risos). “Zézano” era o nome pelo qual a minha mãe me chamava quando eu fazia maldades. Nunca mais ninguém me chamou isso mas na altura em que estávamos para escolher o nome uma das minhas netas chamou-me Zézano. Achei piada e propus que ficasse com esse nome. Acaba por ser uma homenagem à minha mãe, falecida em 2003. O meu apelido (Ouro) também pode parecer singular mas no Crato é muito usual. É um nome descendente das pessoas da Beira que iam trabalhar para o Alentejo.Lido pouco com o cliente. O nosso restaurante é pequeno, pelo que a nossa comida caseira é acompanhada por um atendimento muito personalizado. O cliente tem que ser tratado como família. Eu ajudo no atendimento, mas trato mais das compras e gestão da empresa. As minhas especialidades são a Massa à Barrão, o Magusto e pratos Alentejanos.Isto é uma autêntica prisão. É muito difícil arranjar empregados por causa dos exigentes horários do sector. Trabalhamos sempre que é necessário. Só descansamos à segunda-feira quando há possibilidades. Se tiver que ser teremos que começar a abrir, também nesse dia, é a crise. A restauração trabalha quando os outros estão de descanso, não há férias nem feriados. Fui funcionário das Finanças durante quarenta anos. Reformei-me em 2007. Foi o meu primeiro emprego. O meu pai trabalhava na Metalúrgica do Crato, empresa que faliu, e pôs-me a trabalhar nas Finanças aos 18 anos. Embora fizesse inspecções a restaurantes, estava longe de ter uma ideia do seu funcionamento. Abrimos no dia 1 de Abril de 2008, depois de estar alguns meses em casa. Nunca me imaginei, reformado, a jogar às cartas num café. Quando nos reformamos pensamos que vamos ter tempo para fazer tudo o que queríamos fazer, quando ainda estávamos a trabalhar. Mas ao fim de dois meses já fizemos tudo e já andamos chateados. Quem está habituado a lutar todos os dias para se sustentar estranha, um dia, não ter que fazer nada. Não fui educado para estar sem trabalhar. O meu pai foi um exemplo para mim nesse sentido. Procuro transmitir isso às minhas filhas. Digo-lhes sempre, olhos nos olhos, o que penso.Normalmente, quando posso, pego no carro e vou ao Crato. Visito os meus sogros e vou ver a casa que os meus pais me deixaram e que fui restaurando aos poucos. Tenho lá os meus cães que levava comigo quando caçava. Mas gosto de viver em Almeirim. É a minha segunda terra. Vivo as tradições mas confesso que não sou fã de touradas. Não me identifico. Gosto mais de ir ver um jogo de futebol a Lisboa. Um dos problemas dos jovens é não quererem aprender com os mais velhos. Já não digo aprender mas pelo menos ouvir os seus conselhos. Penso que isso iria facilitar o seu caminho. Elsa Ribeiro Gonçalves
José António Ouro

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