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Imprevisível Serafim das Neves

Escrevo-te em maré de tristeza. O presidente da Câmara do Cartaxo, Paulo Caldas, anunciou que não cumpre o mandato até ao fim. Um curtido daqueles que tantos e tantos e-mails do outro mundo tem inspirado, não devia fazer-nos uma coisa assim. É verdade que deixa no trono o vice, Paulo Varanda, mas estará o substituto à altura? É verdade que o homem é militar e sempre podemos arranjar umas piadolas relacionadas com a atitude firme e hirta que os militares são obrigados a manter mesmo que lhes caia uma terrina de pudim na cabeça ou lhes passe à frente dos olhos a Angelina Jolie em pelota, mas nada disso vai conseguir atenuar a saída de cena do mais divertido presidente de câmara de todos os tempos. Paulo Caldas deixa um legado inigualável. Nunca mais uma máquina fotográfica encontrará pela frente um autarca tão folgazão como ele. Nunca mais nenhum gravador registará tiradas tão entusiásticas sobre as propriedades de vinhos como os do Cartaxo. Nunca mais veremos um abstémio a beber tanto em nome de um município. Nunca mais veremos um presidente de câmara ser presente à justiça por ter sido apanhado com a pistola do avô da mulher. Resta-nos inventar anedotas sobre Paulo Caldas. Citá-lo mesmo que defeituosamente. Ler e reler o seu livro “Vinhas de Paixão” e esperar que nunca lhe dê a filoxera. Nem a ele nem à cepa de onde brota a sua poderosa seiva ...literária. Ao mesmo tempo podemos usar as suas fotografias nos suplementos humorísticos porque ficam sempre bem. Serafim, o Ribatejo está a ser invadido por uma organização empresarial nascida na América que promete fazer expandir negócios através do tradicional sistema do boca a boca. É um tipo de marketing primitivo que dispensa campanhas publicitárias, dizem eles como se tivessem inventado a pólvora. Ao pequeno almoço empresários trocam cartões de visita e vão para a empresa fazer alongamentos no escritório ou jogar minigolfe à espera que o telefone toque. Se eles souberem de um negócio que interesse a algum do grupo metem uma cunha e depois telefonam-lhe a avisá-lo. E a gentileza é recíproca. Pessoalmente não sei porque tanta gente se tem espantado com este sistema. Esta nossa mania de só dar valor ao que vem do estrangeiro faz-me rir. Então não é assim que se fazem negócios em Portugal desde a fundação da nacionalidade. “Eu tenho um amigo que tem um primo que é amigo de um tio de outro amigo que lhe pode fazer a casa por metade do preço”, sempre funcionou muito bem por estes lados.A prova da eficiência do sistema é estarmos num país onde os ajustes directos na função pública representam noventa por cento das adjudicações feitas. O passa-palavra não foi inventado na América não senhor. É nosso. É nacional. A única coisa que os americanos lhe acrescentaram foram aqueles dísticos enormes para os participantes porem nas lapelas dos casacos, a obrigatoriedade de ninguém falar mais de um minuto e sempre de coisas positivas, o que é uma tortura para qualquer português, seja empresário ou imite bem, o pagamento de uma quota e o horário das reuniões. Isto de um gajo ter que que se levantar de madrugada para começar uma reunião às 6h45 é uma violência do caraças. Não admira que se vejam por lá empresários completamente arrelampados e dispostos a assinar fichas de inscrição e o mais que for sem pestanejarem. Ou talvez pestanejem um pouco mas é só a tentarem manter os olhos abertos.Um abraço empresarialmente solidário Manuel Serra d’Aire

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