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Promessa de novos negócios leva trezentos empresários a madrugar

Promessa de novos negócios leva trezentos empresários a madrugar

Alguns presentes no pequeno-almoço em Abrantes classificaram a reunião como uma espécie de congregação religiosa
Juntar trezentos empresários em reunião não é para todos. Juntá-los antes das sete da manhã ainda é mais difícil. Mas foi mesmo isso que aconteceu na manhã de sexta-feira, 6 de Maio, no Parque de São Lourenço, em Abrantes, a convite do BNI (Business Network International), uma organização internacional que se está a multiplicar no nosso país. Por sete euros e meio, os empresários tomaram o pequeno-almoço no restaurante São Lourenço, cujo sócio-gerente é Luís Pires, precisamente o director do BNI Estratégia em Abrantes que, pelo menos nesse dia, teve lucro garantido. A frase “Não há almoços grátis”, do economista americano Milton Friedman, Prémio Nobel da Economia, e considerada por muitos como a lição n.º 1 de Economia, deve ter ecoado na cabeça de muitos presentes enquanto ouviam as promessas dos promotores da iniciativa.Se para António Gonçalves, gerente de uma agência de viagens e membro do BNI, o encontro foi “uma agradável surpresa e mostrou que em Abrantes ainda há empresários inovadores”, para Miguel Martins, delegado comercial de uma empresa de móveis da Golegã, soube-lhe a pouco. “É um projecto que me parece ter algumas pernas para andar mas o que foi dito é muito vago. Primeiro pagamos e só depois nos vão dizendo mais. Ou seja, ninguém dá nada a ninguém”, refere, acrescentando que foi a primeira vez que reuniu tão cedo a pensar no seu negócio.Já Manuel Timóteo, contabilista, saiu desanimado da sessão. “O modo como falavam, as frases que diziam, as promessas de um futuro risonho... Parecia que estávamos numa reunião da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Basicamente estavam ali a vender o seu peixe e nós ainda pagámos, e não foi pouco, para assistir”, disse. Entre as sete e as nove da manhã ouviram-se slogans de “atitude positiva” como se de uma reunião de uma qualquer empresa de venda de aspiradores se tratasse. E ainda se disse que o grupo BNI não é para todos. Porque o que serve a toda a gente não serve. Aplausos, chavões e até prémios para quem distribuísse mais cartões empresariais foram distribuídos na sala onde empresários de todos os ramos de negócios, uns mais desconfiados outros mais convencidos, ouviram o que a organização chama de marketing “passa a palavra”. Para os promotores, a reunião tem lugar às 06h45 porque esta é a hora a que o telefone não toca, ninguém chega atrasado e que a concorrência está a dormir. Uma sessão idêntica já tinha reunido, o mês passado, 150 empresários na Casa Cadaval, em Muge, concelho deSalvaterra de Magos para dar a conhecer o conceito. De acordo com o website do grupo “BNI” , esta é uma organização que oferece a profissionais de negócios “motivados”, um pequeno-almoço que lhes pode garantir novos contactos. A ideia assenta no “passa a palavra”, de uma forma estruturada e positiva, como estratégia fulcral para o crescimento das empresas.Convidados não sabiam ao que iam“Pensava que vinha para algo relacionado com a venda de colchões”. Esta pode não ser a mensagem mais correcta para passar o espírito de uma reunião do grupo BNI que juntou uma dúzia de pessoas na sexta-feira, 13 de Maio, no Santarém Hotel. Mas não andamos longe do espírito que parece transparecer dos empresários que estão a ser desafiados para as reuniões do BNI por todo o Ribatejo.Fazer um empresário levantar-se às seis da manhã para ouvir durante cerca de hora e meia uma explicação exaustiva sobre o BNI é obra de profissional. Segundo Filipa Daniel, directora de área para o Ribatejo presente na reunião, o dinheiro pago por cada membro para entrar no mundo BNI serve para gerir toda a logística da empresa. “É para despesas com manuais, formações e deslocações dos directores para formações e reuniões com as várias empresas”, explicou a directora a O MIRANTE.Convidado por um dos membros da nova empresa a participar na reunião, Jacinto Brandão, proprietário de um restaurante no concelho de Santarém, não chegou a preencher a ficha de candidatura. “Não sabia bem ao que vinha. Disseram-me apenas que seria uma boa forma de conquistar mais clientes. Mas para mim não dá porque começo a trabalhar às sete da manhã e deito-me muito tarde. Isto exige uma grande disponibilidade de tempo que eu não tenho”, confessou no final da reunião e antes do pequeno-almoço.A seu lado estavam duas sócias da área dos seguros que abriram recentemente o seu negócio. Ambas preencheram a ficha de candidatura mas, segundo informação dos responsáveis da empresa, só uma poderá integrar a rede. “No início de qualquer actividade profissional é sempre bom novos contactos e aqui vamos ter acesso privilegiado a mais contactos profissionais por isso é uma vantagem”, referem.ComentárioEm tempo de crise todos somos presas fáceisO associativismo é a única solução para os problemas de uma comunidade. Se estivermos a falar de empresas então o associativismo é ouro sobre azul para os empresários mais aflitos que, por qualquer razão, escorregam numa casca de banana.Por ser tão importante é que é difícil cultivar o associativismo entre as empresas. O NERSANT é um bom exemplo nacional. Mas a Cacer em Almeirim já é bem o espelho dos seus dirigentes máximos e um caso que deveria merecer estudo já que Almeirim era, entre os concelhos da região, o mais exemplar em termos de associativismo.A empresa que promove estes encontros entre empresários às seis da manhã é parte de uma engrenagem que visa o lucro fácil e se aproveita da falta de um Estado forte que apoie os empresários e as suas associações. Só há lugar para este tipo de iniciativas bem sucedidas em sociedades onde a crise fala mais alto que alguns valores éticos e de responsabilidade social e económica.Embora as associações empresariais da região, como é o caso da NERSANT, não possam evitar este tipo de fenómenos, devem pelo menos vir a público dar conta da importância da sua existência e, em conjunto com os empresários, tentar perceber o que é que ainda não estão a fazer junto da classe que os faz serem presas tão frágeis de vendedores de banha da cobra. JAE
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