O presidente de junta que deixou a Marinha para se assumir como chefe de família
Jacinto Barbosa é presidente da Junta de Freguesia de Coruche a cumprir o segundo mandato a tempo inteiro
Electricista de profissão, está em situação de pré-reforma mas podia ter sido oficial da Marinha.
Pode-se dizer que o amor e a responsabilidade tiveram uma palavra decisiva na vida profissional de Jacinto Barbosa. O presidente da Junta de Freguesia de Coruche não esquece um episódio que marcou a sua juventude, quando recebeu da então namorada a informação de que era pai, após uma visita a casa a meio da comissão militar em Moçambique, durante a guerra colonial, ao serviço da Marinha. “Não estou arrependido de não ter seguido a carreira militar. Troquei a paixão pela minha mulher em detrimento da paixão pela Marinha. Quando soube que ia ter a que é hoje a minha filha mais velha, que foi ao casamento da mãe”, recorda com um sorriso o autarca, reconhecendo que poderia ser hoje oficial da Marinha.Com 62 anos, Jacinto Barbosa é electricista de profissão ao serviço da EDP desde praticamente que se casou mas encontra-se em situação de pré-reforma desde os 53 anos. Com o tempo disponível, foi cabeça de lista à junta em 2005, que ganhou para o PS no mandato 2005-2009, vitória que confirmou no actual mandato. Desde 1992, tem um passado como autarca ligado à CDU como presidente da assembleia de freguesia entre 1992 e 2001. “Tenho um passado de 28 anos ligado ao PCP, ao operariado e às comissões de trabalhadores, que começou logo após o 25 de Abril e que nada renego. Mas era necessário evoluir, mudar de linguagem e devo dizer que me senti aliviado”, conta Jacinto Barbosa. Em 2005, o autarca optou por estar a tempo inteiro na junta mas no actual mandato optou por não onerar os cofres da junta com um vencimento, recebendo apenas senhas de presença.Jacinto Barbosa nasceu na freguesia de Santana do Mato, é casado e tem duas filhas. A vida de trabalho começou cedo, aos 11/12 anos, após cumprir a quarta classe, mas nem fez grande sacrifício. Foi para uma padaria fazer um trabalho familiar que já acompanhava em casa com a mãe e avó no forno de lenha. Irrequieto em novo, foi marçano (aprendiz de caixeiro) de um conhecido republicano da vila e foi ganhando instrução e conhecimentos pelos muitos jornais que o rodeavam. Ali ficou três anos, mais um numa tipografia. A tropa chamou-o durante quatro anos para a guerra colonial de onde regressou com 25 anos para casar e constituir família. Trabalhou ainda na área da segurança e no tratamento de águas no nascimento do complexo de Tróia.Desde os 25 anos e até aos 53 anos trabalhou na manutenção de estruturas eléctricas, nos piquetes de reparações de avarias. “Tanto na Marinha como na EDP recebemos sempre formação e crescemos como pessoas e profissionais”, recorda. Numa ocasião, em que repunha electricidade com colegas numa propriedade em Montinhos dos Pegos, foi bater à porta da casa e recebido com o cano da caçadeira apontado à cara, mesmo quando se identificou. Jacinto Barbosa mantém o hábito de se levantar cedo e às 07h15 já costuma estar na junta. Durante a manhã vê o expediente, conversa com os fregueses que vão chegando e planeia o trabalho com os funcionários que trabalham nos jardins e nos quatro cemitério da freguesia. “Temos 17 funcionários, a maior parte deles coveiros e cantoneiros, além de três administrativas. Além desse trabalho, fazemos um trabalho conjunto com entidades como a Cáritas, os Vicentinos, para apoio às pessoas e famílias mais carenciadas”, conta o autarca.Como presidente de junta ainda não enfrentou gestos desse tipo mas tem com que se preocupar: afinal a freguesia de Coruche tem 256 quilómetros quadrados, mais do que 11 concelhos dos distrito de Santarém, como faz questão de exemplificar. Defende a atribuição de mais competências às juntas de freguesia pela câmara municipal no âmbito do licenciamento urbano e até dos mercados, a par de uma maior autonomia em matéria de intervenção social. Quando há tempo morto vai lendo legislação em permanente actualização. À tarde costuma dar uma volta pela freguesia para falar com as pessoas e reúne com representantes de várias entidades. Nos tempos livres, Jacinto Barbosa aproveita para ver corridas de toiros de Espanha nos canais de cabo, admitindo que a antiga paixão pelo ciclismo, atletismo e natação que praticou em novo estão postos de lado e a fazer aumentar o peso. Outros bons momentos de descontracção são as cantilenas em torno de bebida e petiscos com os amigos na tertúlia de sua casa. “Gosto de cozinhar nestes convívios. Ainda por cima reunimos um grupo de amigos que gostam de tocar instrumentos. Eu sou apaixonado da guitarra portuguesa e ainda tenho dois cavaquinhos, um bandolim e uma viola de 12 cordas”, conta.
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