uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
José Canais

José Canais

Proprietário da empresa Canais Peças e Acessórios Automóveis, 63 anos, Santarém

Começou o negócio no armazém da sua casa, em Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo. Está na zona industrial de Santarém há onze anos e trabalha com os dois filhos, o que o deixa feliz. Pouco dado a tarefas domésticas, dedica-se a andar de bicicleta como passatempo. Depois de ter estado na guerra em Angola, considera-se um homem sem medos.

A minha infância foi passada na cóboiada na charneca. Aquilo ali era tudo meu. Eu e os meus amigos fazíamos os trabalhos de casa, quando os fazíamos, e depois íamos brincar para a rua. Ou para o campo de futebol ou para a charneca. Jogávamos à bola ou brincávamos com carrinhos que construíamos. São coisas que as crianças agora já não conhecem. Sentam-se em frente a um computador e ali ficam.Sonhava ser mecânico mas fui aprender a ser bate-chapas. Estudei até ao quinto ano e comecei a trabalhar aos doze anos numa oficina. As crianças têm sempre mais tendência para alguma coisa e no meu caso dava-me mais para os carros. Depois fui convidado para uma casa de máquinas e ferramentas. Quando essa casa fechou comecei a trabalhar por minha conta. Na minha própria casa, em Vila Chã de Ourique, tinha um armazém e fazia as minhas coisinhas. Aos poucos fui ganhando clientela e com a evolução do negócio acabei por me instalar aqui na Zona Industrial de Santarém. Estamos aqui desde 2000. Deu trabalho e foi difícil, mas se fosse agora, nesta conjuntura, teria sido muito mais complicado.Com os meus filhos a dar continuidade ao negócio, morro satisfeito quando chegar a minha hora. Sou casado, tenho um filho e uma filha e já sou avô de um casalinho. Os meus filhos trabalham aqui comigo embora não tenha feito força para isso. Se eles tivessem boas carreiras, o que hoje é difícil, não me chateava nada que eles não dessem continuidade a isto. Mas não sendo o caso, logicamente que era chato ver uma empresa que me deu tanto trabalho e pela qual fiz tanto sacrifício a ir por água abaixo. Assim, fico feliz por eles cá estarem e se levarem o barquinho a bom porto, melhor.Aquilo a que dou realmente valor é ao que consigo graças ao meu trabalho. Sempre fui uma pessoa habituada a ter as coisas por mérito. Se me saísse muito dinheiro no euromilhões era capaz de dar em maluco como aconteceu a muitos. Apenas ambiciono uma vida normal, não quero grandes coisas. Logicamente que, se fosse uma quantia razoável, era bom para dar um jeito à minha vida e ajudar os meus filhos. Mas o dinheiro é uma coisa que tanto pode trazer felicidade como infelicidade.Ninguém me tira o passeio de bicicleta ao domingo de manhã. Foi um passatempo que já comecei há alguns anos, mas que pratico mais ultimamente. Não tenho grandes passatempos e a minha rotina é simples. Levanto-me às 7h30 para estar no trabalho às 9h00. Chego a casa lá pelas 19h30, 20h00, como qualquer coisa e vou beber um café. Quando era mais novo ainda ia ver umas provas de perícia automóvel porque tinha ajudado um dos pilotos a transformar o carro, mas nunca me dediquei a esses desportos. São caros e para serem levados a sério não pode ser de ânimo leve.Sou pouco dado a tarefas domésticas porque nunca fui habituado e não tenho jeito. Em termos culinários sou capaz de estrelar um ovo ou assar uma febra e pouco mais. Se calhar se praticasse até me safava, mas nunca me deu para aí. Passo mais tempo no quintal onde tenho flores, cães e pássaros. Eu andei na guerra, por isso não tenho grandes medos. Guardo na memória o dia em que fiz 22 anos e embarquei para Angola. Fiquei lá dois anos. Tive fases boas e más. Não posso dizer que foi uma boa experiência mas foi, sem dúvida, uma grande aprendizagem de vida. Não acho que faça falta a ninguém porque em muitos casos só atrasa os planos de uma pessoa. Eu, se não tivesse ido para a guerra, gostava de ter tirado um curso de engenharia mecânica. Agora com esta idade já não o vou fazer porque acho que esses cursos cheios de facilidades são a brincar. É bom para ocupar o tempo em vez de ir para o banco do jardim, sempre se aprende qualquer coisa, mas não mais que isso.Liliana Martins
José Canais

Mais Notícias

    A carregar...