Investimento de Coruche na promoção da cortiça e do montado de sobro já está a dar resultados
Presidente da câmara, Dionísio Mendes, fala num bom momento para os produtores do concelho
Queremos ser os maiores do mundo em tudo e mais alguma coisa mas quando somos os maiores do mundo em sectores como a cortiça parece existir algum alheamento. É por isso que Coruche construiu o observatório da Cortiça há três anos e faz desde então uma feira que é única no mundo. O presidente da Câmara mantém o entusiasmo inicial e a aposta vai-se reforçando com novas parcerias e investimentos.
Um sobreiro demora uns bons trinta anos até começar a dar cortiça. Quanto tempo será necessário para extrair algo desta aposta do município neste sector? Muito menos tempo do que demora um sobreiro a dar cortiça. Vamos fazer pelo terceiro ano a Ficor e já se nota a sua importância, não só localmente mas sobretudo ao nível da fileira da cortiça. Esta é uma Feira única no mundo dedicada à cortiça, ao montado de sobro e a tudo o que lhe está associado e por isso lhe chamamos, com toda a propriedade Feira Internacional da Cortiça. Coruche tem indústria ligada à cortiça, nomeadamente à produção de rolhas, mas a sua maior riqueza está ao nível da produção. Ao nível do montado de sobro. E esta feira dá grande visibilidade a essa realidade. Pretende mostrar aquilo que é o montado de sobro e aquilo que é a actividade dos produtores florestais. Aquilo que, no fim de contas, tem a ver com todo o ecossistema do montado que é um ecossistema único no mundo e que para além de ser, do ponto de vista produtivo de grande rentabilidade económica, está hoje identificado como um dos ecosistemas mais equilibrados em termos de fauna e flora. Temos um papel pioneiro mas tínhamos essa obrigação porque, historicamente, somos o maior produtor de cortiça a nível mundial. O Observatório, aproveito para lembrar, foi uma oportunidade que surgiu com o programa Valtejo. O cidadão comum não se apercebe ainda da importância estratégica da cortiça para o nosso país e muitas vezes desconhece o facto de sermos o maior produtor mundial. Isso é verdade. Daí o nosso esforço para divulgar e promover este sector. Este ano o período em que decorre a Ficor foi alargado para haver mais tempo para determinadas actividades. De 30 de Maio a 1 de Junho, vamos levar jovens estudantes das nossas escolas e de escolas de outros concelhos, nomeadamente de Politécnicos, Universidades e Escolas Profissionais a visitar herdades para que percebam melhor e se interessem pelas virtualidades do ecossistema e da importância económica que a cortiça tem para Portugal e para as nossas exportações. A esse nível, por exemplo, houve um aumento de 11 por cento nos primeiros dois meses deste ano. Deve ser o único produto português que cresce tanto. E cresce numa altura de crise. Há um ambiente positivo à volta da cortiça e da extracção de cortiça e fala-se também num crescimento em termos de pagamento aos produtores para este ano. Falar de cortiça já não é apenas falar de rolhas. É um produto que tem cada vez mais visibilidade noutros sectores, nomeadamente na moda, joalharia, mobiliário, no sector automóvel...Não sabemos muito sobre o que é genuinamente português.Não sabemos assim tanto e não damos a devida importância à cortiça. Mas ela é um produto estratégico para o nosso país e para o concelho de Coruche em particular. E tem futuro, até porque do ponto de vista ambiental é do mais amigável que há. O ecossistema do sobreiro é equilibrado do ponto de vista da fauna, da flora, do sequestro de carbono, etc. Face ao metal ou plástico a cortiça ganha dez a zero porque não tem contra-indicações e é super amigável do ponto de vista ambiental. Há receptividade em relação às visitas promovidas durante a Ficor? Este ano, durante a Feira, teremos entre nós um grupo de americanos que trabalha na embaixada e uma delegação de uma dezena de eurodeputados de vários países, ligados à área da agricultura. Por outro lado as pessoas estão ávidas do contacto com a natureza. Querem ver o observatório, ir ao montado. No domingo, dia 29, vamos realizar visitas ao montado de diversas maneiras. Desde visitas em balão de ar quente, bicicletas Todo-o-Terreno, passeios a pé, percursos de orientação, actividades de extracção de cortiça, reportagens fotográficas. Vamos levar as pessoas a partilhar um ambiente saudável e equilibrado.Como está a decorrer a implementação de alguns projectos anunciados para o Observatório da Cortiça? Já temos o observatório aberto diariamente e temos a funcionar lá um centro de investigação que é o CETCOR - Centro Tecnológico da Cortiça. Trata-se de um centro de investigação aplicadao à cortiça que tem sede em Vila da Feira e tinha uma delegação no Montijo que entretanto encerrou e abriu esta delegação em Coruche no edifício do observatório da cortiça onde tem um espaço administrativo e uma área para a investigação. Este é um ponto de partida desejado por nós para termos uma área de investigação voltada para as questões que se colocam aos produtores de cortiçaEstão a desenvolver outras parcerias com quem? Temos parceria com o Instituto Superior de Agronomia e com a Universidade de Évora. Estas duas entidades fazem com alguma regularidade encontros, visitas, trabalhos de investigação. Tanto uma como outra têm trabalhos de campo aqui na área do concelho de Coruche e vêm com regularidade ao terreno verificar os ensaios, colher amostras e servem-se do observatório como retaguarda técnica. Neste momento está entre nós uma equipa de investigadores alemães que está a estudar o montado de sobreo numa herdade, em parceria com o Instituto Superior de Agronomia. Os componentes desse grupo vão ficar três semanas. Estão alojados em Coruche, fazem diariamente esse trabalho de campo e vão com regularidade ao Observatório da Cortiça.Não há qualquer parceria com o Instituto Politécnico de Santarém, nomeadamente através da Escola Superior Agrária? Essa parceria é desejável e estamos disponíveis para a estabelecer. Estamos a fazer investimentos, com o apoio de fundos comunitários em equipamento laboratorial e no Centro de Documentação, para podermos ter capacidade de acolher novos projectos. Para darmos condições efectivas para o trabalho de investigação. Fizemos também uma candidatura com municípios e outras entidades, nomeadamente com a Associação de Produtores Florestais de Coruche e concelhos limítrofes e estamos a estudar a hipótese de situar a sobroteca no próprio observatório. Uma espécie de biblioteca multimedia dos sobreiros onde se apresentem, por exemplo, as amostras que dão origem aos encontros anuais da chamada plataforma da cortiça. A formação profissional para o sector tarda em arrancar? A ideia é que o CINCORK - Centro de Formação Profissional da Área da Cortiça, que está sedeado em Santa Maria de Lamas, descentralize alguma da sua formação para o Observatório da Cortiça em Coruche. Para além do montado temos aqui fábricas e haverá uns quinhentos operários corticeiros. Não faz sentido que tenham que se deslocar ao Norte para ter formação. Nós desafiámos o CINCORK e mais recentemente a NERSANT para criarem oportunidades de formação para a área da cortiça e para a área florestal em geral. Muito do trabalho florestal ainda é feito por trabalhadores que adquiriram os seus conhecimentos vendo os outros fazer. Nunca se viu um tirador de cortiça a fazer formação profissional ou um empregado de uma herdade que faz a poda dos sobreiros fazer formação. Trabalham por imitação. Por experiência adquirida ao lado dos mais velhos. Há herdades onde estão a decorrer processos de certificação de qualidade e para que isso corra bem é necessário que esses trabalhadores tenham formação profissional.O esforço que a câmara municipal está a fazer ao nível da cortiça é bem compreendido?Não temos tido muitos apoios mas não há incompreensão. O observatório é aceite como uma pedrada no charco. Como uma atitude inovadora. Na fileira da cortiça há unanimidade. Somos bem aceites quer nacionalmente quer internacionalmente. Feira Internacional da Cortiça quer mostrar aos jovens uma das maiores riquezas naturais do paísA FICOR, Feira Internacional da Cortiça, que se realiza de 27 de Maio a 1 de Junho, em Coruche, aposta, nesta terceira edição, na inovação e no envolvimento dos mais jovens. Este ano a Ficor tem mais dois dias, terminando a 1 de Junho, Dia da Criança e Dia Nacional do Sobreiro.A feira prossegue o objectivo de divulgar outros usos da cortiça para além do que tem representado a sua “mais valia”, a rolha, dando evidência ao seu uso na moda, no design, nas artes e na construção civil.Tendo em conta que 2011 foi declarado pela ONU Ano Internacional das Florestas, este será o tema dominante do certame, que aliará a promoção do sector à divulgação das boas práticas ambientais e sustentabilidade ecológica garantida pela exploração do montado.O programa inclui painéis de carácter científico dedicados a profissionais do sector, workshops de culinária associados aos sabores do montado (abertos a todos os visitantes), actividades de natureza (como balonismo e passeios no montado), o desfile de moda Coruche Fashion Cork e a reunião da comissão executiva da Rede Europeia de Territórios Corticeiros (Retecork), entre outras iniciativas.Confirmando a importância da FICOR, o ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, António Serrano, irá inaugurar a Feira no dia 27 de Maio, na presença do grupo de eurodeputados da Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu. Será também apresentada a Plataforma de Transacção da Cortiça no stand da APFC. O programa da Feira irá manter o seu carácter científico com vários seminários dedicados ao sector. Para o dia 28 de Maio (sábado), está marcado o colóquio “Melhor montado, melhor cortiça”, organizado pela APFC e para dia 30 (segunda-feira), a conferência “Inovar Cortiça”. O CORUCHE FASHION CORK está também de regresso, no dia 27 de Maio, com a presença assegurada de várias figuras públicas da moda e da televisão. Liliana Santos, Sara Barradas, Nuno Pardal, Sara Prata e Santiago Romero, actores da telenovela Espírito Indomável, têm já presença garantida neste desfile de moda dedicado à cortiça. A manequim e apresentadora Isabel Figueira irá também desfilar por terras coruchenses. A apresentação deste desfile ficará a cargo de Vanessa Oliveira. Tiago Bettencourt & Mantha é o projecto musical que irá animar a noite de sábado, dia 28 de Maio. Um espectáculo gratuito. Depois dos espectáculos a festa promete continuar com o espaço Cork by Night.Durante os seis dias realizam-se vários workshops de enologia e culinária associados aos sabores do montado e abertos a todos os visitantes, workshops de artes decorativas em cortiça, provas de vinho promovidas pela AMVP, actividades de natureza como balonismo e passeios no montado, btt, corridas de galgos, demonstração equestre, visitas à corticeira Amorim e demonstrações de descortiçamento. Destaque ainda para a 7.ª edição da Corrida das Pontes e da Família que este ano se realiza no dia 29 de Maio (domingo) e que reúne todos os anos centenas de participantes.
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