uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Cinco euros para entrar na feira é um exagero

O preço das entradas na Feira Nacional de Agricultura e Fersant é considerado demasiado elevado pela maioria das pessoas ouvidas por O MIRANTE. O exemplo mais apontado para suportar aquela opinião é o total a pagar por uma família com três ou quatro elementos. Sobre a crise a opinião dominante é a de que pode ser importante para fazer a selecção entre empresas e empresários capazes e incapazes. Apesar de tanto se ter escrito e dito sobre as negociações da ajuda externa entre Portugal e a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), quase todos confessam ter dúvidas sobre as condições impostas para o empréstimo.

Joaquim Saramago, 66 anos, presidente Adega Cooperativa Alcanhões, SantarémPreço das entradas é exagerado Joaquim Saramago confessa que a crise não passou pela Adega Cooperativa de Alcanhões no ano em que mais anda na boca dos portugueses e das primeiras páginas da actualidade. “Estamos a vender mais vinho engarrafado que em 2010, o que é bom sinal. Estivemos na Festa do Bacalhau e há que continuar a apostar na qualidade e no marketing”, defende o presidente da adega. Para Joaquim Saramago podem acontecer bons negócios durante uma crise mas há que insistir e procurar essa sorte. É por isso que a adega vai apresentar durante a Feira da Agricultura e durante a Fersant o seu novo vinho de topo, o Cardeal Dom Guilherme Reserva. Sobre a ajuda externa a Portugal recorda o que muitos têm esquecido quando criticam as exigências. “Eles já nos deram as verbas comunitárias que muito desbaratámos”. Quanto à Feira considera que os cinco euros por entrada é um preço exagerado. “Uma família de três ou quatro pessoas fica logo desfalcada. Dois ou três euros seria muito mais razoável”, conclui.Madalena Apolinário, 52 anos, escriturária, Benfica do Ribatejo“Poderosos em Portugal deviam pagar a crise”Madalena Apolinário não gostou de ver a Troika em Portugal. Considera que a ajuda externa não seria necessária se fossem os mais poderosos a suportar a crise em Portugal em vez dos mais pequenos. “O dinheiro que pedimos lá fora vamos pagá-lo bem caro. Mas enquanto tivermos pessoas com três e quatro reformas e taxas de segurança social para empresas de 23 por cento vamos continuar a ter problemas”, analisa. A trabalhar numa empresa de máquinas agrícola, Madalena Apolinário refere que apesar da crise há sempre vendas no sector. “Temos sempre novidades para dar a conhecer num certame como a Feira Nacional da Agricultura. Às vezes aparecem bons negócios. A agricultura ainda é um sector importante e ainda vai ter peso maior para nos ajudar a sair da crise”, comenta. Considera muito cara a entrada para a feira e admite que muita gente leve farnel porque gasta a maior parte do dinheiro nas entradas.José Júlio Eloy, 75 anos, administrador Agro-Ribatejo, Santarém“Gostava de saber o impacto das medidas da Troika em cada sector de actividade”O administrador da Agro-Ribatejo compreende que as entradas para a Feira sejam cinco euros mas reconhece ser um preço elevado para a situação que se vive. “Quando vou a feiras no estrangeiro as entradas custam sempre 15 ou 20 euros. Há que arcar com custos de organização que são sempre elevados”, refere. Diz desconhecer as medidas concretas que foram impostas a Portugal. “Escreve-se muito, comenta-se muito nos meios de comunicação social e nem sempre ficamos esclarecidos. O que eu gostava de saber é o que devemos esperar para cada sector de actividade”, refere. José Júlio Eloy reconhece que nunca se sabe o que esperar de uma crise mas que no sector da maquinaria agrícola vale sempre a pena expor em certames como a Feira da Agricultura e aguardar por contactos posteriores.José Dias Castelo, 47 anos, empresário, Santarém “A crise separa trigo do joio”“Separa o trigo do joio e premeia o profissionalismo em detrimento de quem faz o seu trabalho com menor qualidade”. É assim que José Dias Castelo entende que são as crises, por isso concorda com a ideia de que nessas alturas podem surgir boas oportunidades de negócio. A situação só fica pior para os desempregados e para quem tem baixos rendimentos, reconhece. Lembra-se bem do tempo em que o FMI entrou em Portugal, em 1985 e diz que na altura deixou de fumar SG Ventile e passou para “Mata Ratos”, sinal dos tempos. “Hoje temos tudo, telemóveis, internet, mínimo de dois carros por família. Mas o pior que temos é a corrupção, políticos que não sabem gerir o país e muita gente a receber rendimentos sem trabalhar enquanto os que precisam recebem pouco”, analisa. José Dias Castelo gostava de perguntar aos elementos da troika se Portugal está mesmo na bancarrota, mas considera que já existe resposta aos problemas: “Temos que nos voltar para a agricultura e pescas que é o que temos!”. Para o empresário não se justificam cinco euros de entrada na Feira Nacional da Agricultura quando até para um stand mínimo a organização já pede uma fortuna.Paulo Coelho, 43 anos, gestor de após venda, Malhou“Troika passou para o papel medidas que políticos não tiveram coragem de tomar” Paulo Coelho costuma visitar a feira da Agricultura para jantar, assistir a um concerto com artista que lhe agrade e ficar para as largadas de toiros. Mas mesmo assim entende que o preço das entradas é exagerado. “Esse custo não deve afectar negócios, porque quem vai para os fazer entra sempre. Se calhar o visitante comum é que se vai inibir de entrar”, comenta o gestor de após venda da Santagri. Acredita que em tempo de crise existe uma selecção natural dos melhores a nível dos mercados e quem resiste é quem já está solidamente implantado . “No sector automóvel a crise faz-se sentir. As pessoas fazem menos quilómetros, assistem menos, compram menos, especialmente nas gamas mais baixas”, observa. FMI, BCE e Comissão Europeia são os actores da troika internacional que Paulo Coelho identifica na ajuda a Portugal. Considera que, no fundo, vieram apenas passar para o papel as medidas que os políticos portugueses sabiam que seriam necessárias mas que nunca tiveram coragem de pôr em prática. “Espero que quem vier a formar governo tenha coragem política para fazer cumprir essas medidas. Mas gostava de perguntar à troika qual é a nossa situação real?”, conclui Paulo Coelho.Manuel Rafael, 51 anos, presidente Adega Cooperativa da Gouxa, Fazendas de Almeirim“O sector do vinho tem conseguido saber fugir às crises”As exigências do FMI, Banco Central Europeu e União Europeia são um mal necessário. É essa a sua opinião. Se os elementos da Troika viessem à Feira, gostaria de lhes perguntar “qual é a taxa de juro que o país vai pagar pelo dinheiro emprestado?”, porque andam todos a dizer coisas muito confusas. Manuel Rafael considera que as crises nunca são bem vindas e que as grandes oportunidades de negócio só surgem pontualmente. Ainda assim diz que o sector dos vinhos é daqueles que consegue dar mais escoamento ao seu produto. Sobre o preço das entradas diz que é muito elevado.

Mais Notícias

    A carregar...