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Maria faz roupa por medida

Maria faz roupa por medida

Costureira de Fátima ganha a vida numa actividade em vias de extinção

A costura foi a profissão que sempre quis exercer, mas se a vida tivesse dado outras voltas teria ido para enfermeira.

Maria Ferreira da Silva, 48 anos, vive em Fátima, Ourém, e desde muito pequena que sentiu o gosto pela costura. Comenta que muitos se surpreendem por ainda existir quem confeccione roupas por medida e são poucos os que se interessam por aprender esse ofício. Trabalha sozinha e tem na rádio a sua companhia. A costura foi a profissão que sempre quis exercer, mas se a vida tivesse dado outras voltas teria ido para enfermeira.O entusiasmo pela costura cresceu consigo, desde que aos quatro anos a costureira passou a ir a sua casa fazer alguns trabalhos. “Era dos momentos mais felizes que lá passava”, recorda, lembrando que procurava depois imitar o que via, sozinha, utilizando alguns trapos e confeccionando os vestidos para as bonecas. “Via como ela cortava e tentava imitar. As experiências eram bem sucedidas, mas a mãe não gostava porque eu estava sempre a perder agulhas”.A sua primeira grande aventura na área foi com 12 anos, quando foi buscar uma camisa do pai e fez para si uma blusa, que ainda usou durante bastante tempo. “Era a melhor camisa do meu pai e quando a minha mãe descobriu não ficou nada contente”.Fez a 6ª classe da altura e passou por vários hotéis de Fátima, chegando a tirar o curso de quartos e pastelaria. Com 21 anos emigrou para França, onde permaneceu cerca de quatro anos. “Fazia limpeza, passava a ferro, cuidava de crianças e idosos. Oito patrões ao todo. Nos tempos livres, ao fim de semana, dedicava-me à costura e ia sonhando em ter o meu espaço quando regressasse a Portugal”. Foi o que aconteceu quando voltou a casa, montado o seu ateliê de costura.Foi tendo algumas clientes, o nome foi passando de boca em boca e hoje já tem a sua própria clientela. Conhecida por “Bia”, faz desde arranjos simples a conjuntos completos de roupa. Já lhe apareceu um pouco de tudo, mas afirma que a área onde se sente com mais gosto a trabalhar é na dos vestidos de cerimónia, para casamentos. “É mais criativo, mais trabalhoso, mais bonito”, comenta.Já teve uma ajudante, mas actualmente trabalha sozinha. “Sinto-me realizada e nunca me sinto só. Estou sempre ocupada, há sempre pessoas a entrar e a sair e só o facto de se fazer o que se gosta é muito importante”, refere.Também já teve quem se interessasse por aprender o ofício, mas rapidamente desistiram. “Quando vêem que é um trabalho muito manual, perdem o interesse”. Mas esta “não é uma profissão complicada, apenas temos que ter gosto, criatividade e sermos muito organizados”. O trabalho mais difícil que se recorda de fazer envolveu um vestido de noiva, cujo corpete foi drapeado. Nunca tinha feito algo do género e as tentativas foram sendo realizadas no corpo da noiva. O resultado foi satisfatório e deixou muito satisfeita a cliente e a costureira. Mas o pedido mais estranho que lhe surgiu já foi há muitos anos, nos seus primeiros tempos, quando recebeu uma cliente que lhe pediu que confeccionasse uma lingerie. Trazia o desenho, sabia exactamente o que queria. Ela ficou surpreendida com a ideia, “era uma peça muito íntima”, e recorda que o trabalho exigiu muita minúcia, tinha muitos pormenores e teve que ter muitos cuidados. “Tinha um feitio estranho, nunca mais me esqueci”.“As pessoas por vezes ficam admiradas como hoje existe tanto pronto-a-vestir e ainda há tantas costureiras que fazem roupa por medida. Depende muitas vezes dos corpos das pessoas”, explica. “Com os tempos de crise o que tenho notado é que os mesmos clientes que mandavam fazer roupa nova trazem peças já antigas e pedem para as transformar”, dando-lhes assim nova utilidade.Apesar de ainda se irem encontrando costureiras, há cada vez menos e em breve começarão a escassear. “Bia” também compra roupa, confeccionando apenas os seus trajes de cerimónia. Adora o seu trabalho, mas se tivesse tido a hipótese de fazer outra coisa teria seguido enfermagem. “Tive a oportunidade de cuidar de um doente em França e foi um trabalho que gostei muito de fazer”, recorda. Na sua área lamenta apenas a falta de horários e não ter uma hora fixa para regressar a casa. No seu ateliê perguntam-lhe opiniões sobre moda, cores, feitios, comentam-se as curvas do corpo, discute-se o dia-a-dia.
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