Comecei a fumar aos nove anos porque vivia no Bairro do Choupal e éramos obrigados pelos mais velhos. Era um ambiente duro. Não era uma forma de integração era mesmo uma obrigação. Tínhamos que comprar o tabaco e eles deixavam-nos jogar à bola. Deixei de fumar aos 13 anos. Por essa altura apanhei também a minha última bebedeira. Fiquei curado. Não me pergunte porquê. Talvez porque me tenha dedicado mais ao desporto. Hoje bebo mais cafés do que bebia. Sou benfiquista e essa é das poucas coisas na minha vida em que sou irracional. Sou de uma família de oito irmãos. Quatro raparigas e quatro rapazes. Todos intervalados: rapariga, rapaz, rapariga, rapaz… Somos praticamente todos benfiquistas. Foi um grande legado que o meu pai nos deixou. Os meus três filhos também são. É uma coisa que faz parte do meu dia a diaSe não fosse professor seria contabilista. Acho que fiz a melhor opção. Eu e outro colega éramos os melhores à disciplina de economia no Secundário e tirávamos sempre 20 valores. Sou professor de educação física de formação. Estou emprestado nas funções de administrador da Scalabisport. Tirei o curso no ISEF, actual Faculdade de Motricidade Humana, na altura Instituto Superior de Educação Física. Com uma semana de vida os meus filhos começaram a ir para o pavilhão. A minha esposa também é professora de educação física. A mais velha tem 20 anos e está a tirar o curso superior na área de Relações Internacionais e fez ginástica muito tempo. Tenho um filho de 15 anos que também faz ginástica, futebol e tem uma carreira artística e tenho um mais novo com nove anos que é o único que não gosta de ginástica. Estou há mais de quatro décadas em Santarém, já mudei várias vezes de casa mas sempre vivi na freguesia de São Nicolau. Somos cinco e por isso vivemos num dúplex nos prédios amarelos de São Domingos. Nasci em Torres Novas mas vim para Santarém com seis anos. Sou um apaixonado por astronomia. O meu grande problema foi a matemática. Se assim não fosse estaria decerto mais ligado à área. Vejo muito cinema e leio. Estou a ler um livro fantástico do Freitas do Amaral sobre Ciências Políticas. Acabei um de economia e estou a ler um que se chama “Por que é que o seu mundo vai ser muito mais pequeno” que explica um pouco a sociedade actual. Li um fantástico de um indiano sobre os mitos do terceiro mundo. À segunda-feira costumo ir jogar à bola com um grupo de amigos. Encontramo-nos na Scalabisport e damos uns pontapés na bola. Não faço tanto exercício como deveria. Durante muito tempo joguei à bola e fazia ginástica. Joguei futebol de salão e várias vezes fui o melhor jogador de alguns torneios. Fiz um pouco de karaté e de ténis.Os meus alunos raramente me chamam professor. Toda a gente me trata por Arrais. Quando algum dos mais novos me chama professor os mais velhos avisam que é Arrais. Não é por causa de isso que as pessoas têm mais ou menos respeito. Gosto. Dei aulas durante 35 anos de ginástica em clubes. Só saí agora dessa função para vir assumir as funções em Novembro de 2009 na Scalabisport. No ano passado tirei uma semana para ir ao Algarve mas tive que vir a Santarém três vezes. Sei a que horas entro mas nunca sei a que horas vou sair. Ao fim de semana temos sempre qualquer coisa. As semanas são todas pegadas. Passo menos tempo em casa do que aquele que gostaria mas vou levar e buscar os meus filhos às escolas e acompanho-os nas actividades. A minha música preferida é “Wonderfull day” de Louis Armstrong. Gosto de algumas músicas ligeiras dos “Heróis do Mar” que ainda continuo a ouvir. Adoro o tema “Povo que lavas no rio” cantado pela Amália. Com a idade vou gostando de ouvir clássicos. A música ajuda-me a arranjar ideias para resolver alguns problemas.O sucesso exige 10 por cento de inspiração e 90 por cento de transpiração. Sou um coleccionador de frases famosas mas esta de Albert Einstein é das minhas favoritas. Tudo o que conseguimos depende da nossa capacidade mas também do esforço. É um lema que é transposto para o desporto. Temos um Cristiano Ronaldo fora de série mas todos os colegas dizem que apesar do talento ele passa horas a aperfeiçoar a técnica. Só temos uma forma de ultrapassarmos as dificuldades: trabalhar para isso. Ana Santiago