Uma festa de três dias onde não falta o convívio, a sardinha assada e o caldo verde
Há quem não dispense as sardinhas assadas e o caldo verde por altura do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. Na hora dos toiros saírem à rua alguns arriscam outros mantém a distância de segurança. A festa brava corre no sangue de muitos aficionados que vivem de forma intensa os três dias de festa na cidade. Não há crise que abane uma tradição com raízes profundas.
Um fã das festas e da tradiçãoAntónio Manuel Martinho, 43 anos, administrador, Vila Franca de XiraParticipar nas festas do Colete Encarnado é já um acto natural para António Manuel Martinho, um “aficionado desde sempre” que diz ser fã das festas e da grande tradição que encerram. “Além de ser a tradição é a altura de rever amigos que não encontramos há muito tempo. Amigos de escola e da infância. É uma altura boa que privilegia o convívio. Dá para meter a conversa em dia”, garante. Não tem por hábito comer as sardinhas e o caldo verde que é oferecido na festa e defende que um maior envolvimento da população na organização seria uma mais-valia. “Se estiver mais gente envolvida há mais gente a pensar e isso é uma vantagem”, refere. Em tempo de crise o administrador de empresas considera que a contenção deve ser feita mas com limite. “Quando temos recursos escassos devemos concentrar esses recursos em menos eventos mas melhores”, defende o gerente da Pedro Lamy, em Vila Franca de Xira.Assistir às largadas de toiros sem saltar lá para dentroPaula Sequeira, 30 anos, empregada de balcão, Vila Franca de XiraO Colete Encarnado é para Paula Sequeira a melhor festa do concelho de Vila Franca de Xira. “Gosto muito do ambiente e do convívio que se gera entre as pessoas”, garante atrás do balcão do Café Sky, onde trabalha. Desde os seis anos que mora na cidade e já vive a tradição como se cá tivesse nascido. Tem pena de ver mais pessoas de fora do que vilafranquenses a participar na festa. Gosta de assistir às largadas de toiros mas não se atreve a saltar para dentro da arena improvisada. “No ano passado as largadas foram muito fracas. Os toiros não prestavam e nós precisamos é de animação”, refere. Não costuma ficar para provar a sardinha assada e o caldo verde porque são distribuídos muito tarde. Vê cada vez mais jovens nas ruas e acha que a organização do Colete Encarnado deveria criar espectáculos para a faixa etária mais jovem. Este ano, como manda a tradição, voltará a marcar presença nas festas do Colete Encarnado.Visitar a festa sim, brincar com toiro nãoRui Lopes Agostinho, empresário, 52 anos, CartaxoA falta de tempo é o maior problema de Rui Lopes Agostinho, empresário de 52 anos, residente no Cartaxo. Não fosse isso, garante, estaria preparado para viver com intensidade a festa do Colete Encarnado. Considera-se pouco aficionado mas respeita quem gosta dos toiros. A mudança da sua empresa para novas instalações vai retirar-lhe tempo para visitar a festa deste ano mas confessa que já viveu bons momentos em Vila Franca de Xira. “Fui à festa muitos anos porque trabalhava lá perto. Tenho muita gente amiga que relembro com saudade. Por eles gostava de voltar mas não me convidem para brincar com o toiro”, diz com um sorriso. Costuma comer as sardinhas e o caldo verde sempre que lhe são oferecidos. A contenção de custos em ano de crise é de louvar, defende. “Tem de haver contenção, não apenas nas festas como em tudo. Há que começar por algum lado”, apela o administrador da Imporgo, empresa distribuidora da papel.Sem coração para arriscar na arenaSamuel Póvoa, 67 anos, comerciante, Vila Franca“Nunca tive coração para ir brincar com os toiros”, diz Samuel Póvoa, por detrás do balcão da Ourivesaria Samuel, frente à Igreja Matriz de Vila Franca de Xira. Aproveita para mostrar fotografias a preto e branco de um irmão já falecido que desafiava os toiros no Colete Encarnado. Samuel Póvoa gosta de entrar para a arena improvisada e pisar a areia salvaguardando a distância de segurança. É um saudosista de outros tempos do Colete Encarnado. “Os toiros agora são muito batidos”, diz com tristeza. É defensor da tradição e acha que nestas festas só deveriam entrar fados e ranchos. “Os jovens já tem espaços próprios para a música. Não podemos desvirtuar o colete”, diz o comerciante que não se lembra de perder uma única edição da festa. A distribuição da sardinha e do caldo verde também deveria ser mais espalhada na sua opinião. Uma festas destas não se pode poupar. Já se gasta dinheiro mal gasto noutras coisas”, conclui o vila-franquense, que tinha 13 anos quando foi aprender o ofício de relojoeiro. Há 19 anos juntou-se às irmãs e abriu a ourivesaria.Saudades da festa de outros temposAlice Lambuça, 72 anos, comerciante, Vila Franca de Xira“Tenho saudades da verdadeira festa do Colete Encarnado”. É esta a frase que sai da boca de Alice Lambuça quando se pergunta como vive a mais importante festa de Vila Franca de Xira. A festa já não é o que era e vê-se cada vez menos gente. “Existem muitas festas no concelho que acabam por dispersar e essa poderá ser uma das causas”, analisa. A comerciante tem saudades do tempo em que era a Sevilha Portuguesa. Nota que aos poucos muitas feiras estão a desaparecer da cidade, como a do melão e o salão do cavalo. Só espera que o Colete Encarnado e a Feira de Outubro não acabem. Nunca brincou com os toiros. Prefere assistir.O Colete Encarnado é uma óptima oportunidade para vender os produtos regionais de Vila Franca que tem na loja “A Casa Sónia” há mais de 20 anos.Três dias sem ir à camaAntónio José Pereira, 35 anos, cabeleireiro, Vila Franca de XiraAs festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira são vividas “intensamente” por António José Pereira. “São três dias sem ir à cama”, garante. É um aficionado que gosta muito de assistir às esperas de toiros mas nunca arrisca brincar com os animais. “Tenho-lhes muito respeito”, confessa. Do que mais gosta na festa é do convívio com os amigos. Não costuma comer as sardinhas nem o caldo verde. “Acho que podiam melhorar a festa se colocassem de novo um palco na rua Miguel Bombarda. Era uma maneira de trazer a festa para a zona alta da cidade. Só está no centro o que é pena”, defende. Com boa vontade e pouco dinheiro também se faz a festaJosé Brás Simões, 38 anos, agente funerário, Vila Franca de XiraAs festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira estão no roteiro de José Brás Simões que marca presença no evento todos os anos. Gosto muito da festa. Tanto das corridas como das largadas de toiros. Acompanho quase tudo o que diz respeito ao colete encarnado”, conta com orgulho o agente funerário de 38 anos. Já não costuma brincar com os toiros porque a idade não perdoa. Nos últimos anos não tem comido as sardinhas assadas e o caldo verde que é oferecido pela cidade mas defende que é uma tradição a preservar. O agente funerário de Vila Franca de Xira defende que em época de crise se poupe também nas tradições. “Eu concordo que se poupe em tudo. Há coisas mais importantes que a festa que pode sempre ser feita com pouco dinheiro, desde que as pessoas tenham esse espírito”, sugere o funcionário da agência funerária “Machado”.Um aficionado em aprendizagem que não dispensa as largadasJosé Fidalgo Gonçalves, 56 anos, presidente de junta, Vila Franca de XiraO presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, José Fidalgo Gonçalves, considera-se um aficionado “em aprendizagem” e também por isso não dispensa as festas do Colete Encarnado. Gosta de se envolver no evento, quer nas largadas de toiros, quer nas tradicionais corridas que decorrem na Praça de Toiros Palha Blanco. “É um bom momento para estar com os amigos. Já brinquei mais com o toiro. Agora não arrisco tanto como no passado”, confessa. Não costuma comer as sardinhas assadas que são oferecidas durante a festas porque prefere outros petiscos. “As tertúlias têm um papel importante e podem envolver-se mais na festa”, defende o autarca. José Fidalgo Gonçalves considera que a actual crise económica deve ser tida em conta na organização da festa e por isso vê com bons olhos toda a poupança que se conseguir fazer.Uma festa que promove o convívio nas ruasMónica Pedro, 33 anos, comerciante, Vila Franca de XiraMónica Pedro, nascida e criada em Vila Franca de Xira, sempre participou na festa do Colete Encarnado. Este ano vai fazer questão de cumprir a tradição. “Está dentro de mim”, deixa escapar. É mais adepta de toiradas do que das largadas e apesar de não apreciar muito a sardinha assada não deixa de marcar presença no evento. “Nestas alturas existe um maior convívio e ligação entre as pessoas e é óptimo viver este espírito nas ruas de Vila Franca”, assegura. Mesmo sendo das festas mais importantes do concelho a comerciante acha que os gastos devem ser comedidos. Embora os fados e ranchos sejam imprescindíveis, Mónica Pedro vê com bons olhos o aparecimento de outros espectáculos para cativar os mais jovens. “Tem de ser uma festa para todos”, refere a proprietária da loja de roupa multimarcas “A Estrelinhas”, aberta desde 2007 em Vila Franca de Xira, que criou depois do nascimento da filha.Bravura precisa-se em tempos de crise Manuela Soares, 48 anos, médica dentista, Benavente“A Festa Brava em Vila Franca de Xira perdeu todo o carisma que tinha há uns anos”, diz Manuela Soares que vê a própria cidade descaracterizar-se também. As inúmeras festas ligadas à tauromaquia que existem no concelho e arredores contribuem para dispersar o público. A médica dentista, residente em Benavente, defende que o Colete Encarnado não deve estar confinado a um ponto da cidade mas em várias ruas. “Era importante as pessoas conhecerem a verdadeira história do Colete Encarnado. Não é só uma festa para beber cervejas ou ver os toiros passar. É preciso voltar a dar mais ênfase à terra, ao papel do campino que está a desaparecer”, nota. Dos toiros sempre manteve distância e acredita que a bravura é necessária agora para os tempos difíceis que se avizinham. Exemplo de persistência é a própria Clínica de Medicina Dentária Dr. Fernando Soares, implantada em Vila Franca de Xira há 52 anos.
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