Família de João José Cochofel quer evitar esquecimento do poeta neo-realista
Antologia de poemas do escritor lançada no Museu no Neo-Realismo
Uma antologia que reúne alguns poemas de João José Cochofel, que integrou o movimento neo-realista, foi apresentado no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. A sessão serviu para todos os convidados e o público inclusive criticarem duramente o esquecimento a que foi votado o poeta em Portugal.
João José Cochofel é provavelmente um nome que não dirá nada a muitos leitores. O poeta, ensaísta, cronista e crítico literário e musical foi um dos mais importantes escritores do movimento neo-realista português. Triste por ver o poeta esquecido em Portugal, a família reuniu esforços e graças ao apoio da Câmara Municipal de Coimbra conseguiu editar uma antologia da poesia - “Breve” - com a chancela da Caminho Editora. O novo livro foi apresentado no sábado, 10 de Setembro, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.“A poesia de Cochofel como tudo o que deixa de ser visto, deixa de ser lida e lembrada e passa apenas a pertencer ao círculo de estudiosos da literatura portuguesa ou dos que o guardaram no coração. À dor da perda associou-se a dor do esquecimento a que foi votado”, começou por dizer a neta do escritor, Sofia Quintela Cochofel, responsável pela organização do novo livro. O impulso de unir esforços para relançar a obra do avô surgiu em 2004 quando uma professora do 8º ano de Português, em Chaves, reconheceu o nome “Cochofel” e perguntou à bisneta Ana, aluna na mesma escola, onde poderia comprar os livros do poeta. Foi com alguma dificuldade que Sofia Cochofel conseguiu arranjar alguns livros que chegaram já com as páginas amarelecidas. Nas aulas de português começou a dar-se o poeta neo-realista que teve “uma boa receptividade por parte dos alunos”. “Terão sido os únicos jovens do país a terem contacto com o Cochofel”, acrescentou Sofia com alguma tristeza. Também o jovem poeta e crítico literário António Carlos Cortez recordou um episódio que aconteceu em 2001 quando estava a dar aulas de português na mesma escola que a filha do escritor: “Depois de saber o apelido da Maria Eugénia, eu e um colega achamos que só poderia ser a filha do João José Cochofel e perguntámos. Foi com alguma emoção que a Maria Eugénia me respondeu que pela primeira vez desde que dava há anos aulas naquela escola um colega de português tinha reconhecido o nome Cochofel”. António Carlos Cortez criticou as sucessivas reformas na educação que levaram à eliminação dos programas escolares de autores fundamentais. “Quem lê hoje o António Ramos Rosa? Muitos nomes importantes foram desaparecendo nos últimos anos e se existe alguém que ainda persiste é o Herberto Helder, não só por ser um poeta extraordinário, mas também porque se criou um mito em torno dele”, exemplificou.Uma hora depois de a sessão ter começado, chegou o último escritor neo-realista vivo, Arquimedes da Silva Santos, que completou 90 anos em Junho. Depois de ter mostrado toda a indignação por não ter sido convidado para a sessão sobre um dos seus melhores amigos de sempre, o médico frisou que o Museu do Neo-Realismo ainda não prestou uma “homenagem digna a um dos maiores poetas da geração do neo-realismo”. Numa sessão marcada pela crítica dura ao súbito esquecimento do poeta neo-realista, Maria Eugénia Cochofel perguntou directamente ao editor da Caminho, Zeferino Coelho, porque é que os livros do pai não se encontram nas Feiras do Livro que se realizam em Lisboa e no Porto, tendo recebido como resposta um “nem sempre é possível”. O editor referiu ainda que é uma honra editar um escritor como Cochofel. O director do Museu do Neo-Realismo, David Santos, aproveitou para esclarecer que o museu estará sempre atento a tudo o que aconteça em torno do escritor e deixou em aberto a possibilidade de se realizar futuramente uma exposição documental e bibliográfica em torno do escritor, pedindo emprestado o espólio à Biblioteca Nacional.
Mais Notícias
A carregar...