Viga das torres gémeas de Nova Iorque aguarda há dez anos pela colocação num espaço público em Alverca
A peça de metal está num jardim particular à espera que a Junta de Freguesia se decida
Uma viga com duas toneladas e meia, vinda da “zona zero” de Nova Iorque poucos meses depois do atentado do 11 de Setembro de 2001, está hoje num jardim particular em Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, a aguardar um local público onde possa ser exposta. “Esta peça veio de Nova Iorque depois da remoção do entulho, veio de barco e foi posta aqui com o intuito do Governo português, que estaria interessado, fazer qualquer coisa, mas até hoje nada aconteceu”, explicou à Lusa Rute Cabeça, proprietária do espaço onde se encontra a peça.Eduardo Cabeça, o irmão, trabalhava em 2001 em Nova Iorque e tinha contacto com os responsáveis que procederam à remoção dos escombros no World Trade Center (WTC), depois dos ataques do 11 de Setembro. Na altura surgiu a oportunidade de distribuir peças pelos países que lamentaram cidadãos mortos ou desaparecidos e Portugal não foi excepção. “A peça foi oferecida ao Governo português, que nunca a foi buscar”, contou Eduardo Cabeça, actualmente a viver e a trabalhar em Angola. “Como me relacionava com as pessoas que estavam encarregues da limpeza dos escombros disse logo que levava a peça para Portugal”, acrescentou Eduardo Cabeça. O transporte foi feito de barco e os custos rondaram os 10 mil euros, explicou. Para Eduardo Cabeça, a viga de 2,5 toneladas, “pertencente ao piso 51 ou 52” das Torres Gémeas, “simboliza todas as pessoas que morreram lá”.Segundo o proprietário, “a peça foi oferecida ao município de Vila Franca de Xira, que se mostrou interessado, mas até hoje não a colocou em nenhum jardim”. Ligado ao ramo da construção civil, Cabeça conta que tem tido ofertas, nomeadamente de coleccionadores, mas nunca quis desfazer-se da peça.“Se me apresentassem um projecto era capaz de tratá-la e metê-la em algum sítio, mas para a levarem e porem num lugar qualquer, fica no meu jardim”, disse.A irmã Rute Cabeça é que contacta com a viga, todos os dias, no jardim da sua Quinta, em Alverca, vocacionada para a organização de eventos, e não esconde o simbolismo que representa. “Olho para ela com bastante medo por causa do acto em si, por causa do terrorismo a nível mundial, o que me assusta bastante porque acabam por pagar os inocentes”, disse à Lusa. Rute Cabeça acrescenta ainda que tem sempre presente “a imagem das pessoas em sofrimento”. “Vejo muita gente a tentar salvar-se e a cair lá de cima, é horrível para mim olhar para esta peça”, disse. Em relação ao destino a dar àquele objecto, defende que “o Governo português, em conjunto com a embaixada americana, poderia dar uma solução a esta peça”. “Para mim só é importante ser exposta para que as pessoas não esqueçam que o terrorismo é permanente”, referiu, acrescentando que “devia ser colocada algures para que os governantes tivessem presente esta situação e que olhassem para ela e desejassem que o mundo fosse melhor”.Contactada a Junta de Freguesia de Alverca, o presidente da autarquia Afonso Costa referiu que está a ser procurado “um espaço público”, mas “ainda não está definido o local” onde será colocada a peça. “Pela peça que é, se estiver num local público com muito acesso, pode-se tornar perigoso”.
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