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Aula de história e arquitectura pelas ruas do centro histórico de Santarém

Aula de história e arquitectura pelas ruas do centro histórico de Santarém

Participantes percorreram caminho que começou a ser feito há três mil anos
Uma verdadeira aula de história e arquitectura salpicada com recordações de quem cresceu e viveu em Santarém foi aquilo a que tiveram “direito” as cerca de duas dezenas de pessoas que participaram em mais uma edição das “Visitas com História” promovida pelo Centro Cultural Regional de Santarém.O convidado desta sessão, o historiador Jorge Custódio, não esteve presente por afazeres profissionais mas o arquitecto José-Augusto Rodrigues deu conta do recado. Às dez da manhã de domingo ainda o centro da cidade dorme e são poucas as pessoas que por ali passam. A maioria das lojas está fechada. Apenas o cheiro a café e bolos que sai de uma ou outra pastelaria dá sinal de alguma vida.A viagem começa no Largo do Seminário em direcção à Rua do Milagre e Bairro do Pereiro, aquelas que os estudiosos entendem ser as ruas mais antigas do planalto escalabitano. Logo à entrada da Rua Capelo e Ivens, junto à pastelaria Biju, João Moreira, 89 anos, aponta para a placa de estacionamento ali “esquecida” e recorda o tempo em que naquele local se podiam estacionar os automóveis. “Nunca tinha reparado na placa e passo aqui muitas vezes”; “Já nem me lembrava que existia aqui um parque”, confessam alguns dos ‘alunos’.A aula de história segue com muitas paragens para explicações. Os participantes não se cansam de perguntar. Afinal, estão a percorrer um caminho que começou a ser feito há cerca de três mil anos e o único trilho que ligava Santarém a Lisboa. À passagem pelo Bar Postigo, na rua Pedro Canavarro, João Moreira informa que foi no primeiro andar daquele bar que estudou Bernardo Santareno, a poucos metros da sala de leitura com o nome do escritor escalabitano.Maria Manuela Marques observa todos os edifícios com especial atenção. É uma apaixonada pela cidade onde cresceu. “Estou a rever memórias da minha vida e aprendo coisas sobre ruas que palmilhei tantas vezes e não sabia nada das suas histórias. Temos tendência a ver apenas ao nível do nosso olhar e não olhamos para a totalidade dos edifícios, o que é uma pena”, afirma durante o passeio.O arquitecto José-Augusto Rodrigues explica as características do urbanismo no centro histórico e ficamos a saber que as ruas sinuosas e com muitos becos são características do urbanismo árabe. “Existem becos que já foram ruas mas ao longo do tempo houve apropriação do espaço público para o privado, o que cortou algumas ruas que agora desapareceram”, explica.Antes de chegarmos à Igreja do Milagre João Moreira mostra mais uma vez o seu enorme conhecimento pelos recantos da cidade e partilha com os ‘colegas’ que onde hoje é a loja Ornatus era há 50 anos o Café Portugal. “Jogava-se às damas e xadrez e no primeiro andar havia mesas de bilhar”, recorda. A viagem prossegue pelas ruas estreitas, embora nalguns pontos tenham sido alargadas. “As casas foram sendo recuadas para permitir que o sol entrasse nas ruas e casas”, refere o arquitecto.Os participantes ficam a saber, entre muitas outras coisas, que no actual Largo de São Julião, onde hoje está um prédio de habitação existiu a igreja de São Julião que em 1889 já estava em ruínas. Os historiadores acreditam que o Bairro do Pereiro deve o seu nome à Ordem Militar de São João do Pereiro, de Leão (Espanha), cujo patrono é São Julião. A visita terminou junto ao cemitério dos Capuchos, onde José-Augusto explicou, com recurso a mapas, a evolução de Santarém ao longo dos séculos.Retirada da candidatura de Santarém a património da humanidade foi má decisão José-Augusto Rodrigues é arquitecto e fez parte da equipa da candidatura de Santarém a Património Mundial da Humanidade. Apaixonado pela história de Santarém foi com tristeza que viu a candidatura ser retirada há 10 anos. Uma decisão com a qual não concordou e considera que foi uma “má decisão política”. “A candidatura foi retirada por motivos políticos, locais e nacionais. Depois da retirada da candidatura de Santarém, Guimarães venceu a mesma candidatura”, explicou.Responsável técnico pelo centro histórico de Santarém durante mais de uma década, José Augusto Rodrigues saiu da câmara há sete anos. Apesar da retirada da candidatura garante que não considera ter sido tempo perdido as horas que demoraram a preparar o processo. “A cidade nunca aproveitou as suas potencialidades. O centro histórico está cada vez mais degradado e desprezado. Se a candidatura tivesse ido avante o centro histórico não estaria como está”.Afirma, no entanto, que agora já não faz sentido avançar com uma nova candidatura. Defende que teria que haver 20 ou 30 anos de recuperação correcta para apostar numa nova candidatura.
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