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Valoroso Serafim das Neves

Um dos verbos mais utilizados pelos nossos queridos autarcas é desvalorizar. Eles desvalorizam a torto e a direito a propósito de tudo e de nada. Uma atitude saudável que mostra a fibra de quem nos governa a nível local. Esta semana o presidente da Câmara de Torres Novas, o inefável António Rodrigues, desvalorizou uma das muitas dívidas do município. Transformou um milhão de euros em 50 mil com a mesma facilidade com que Cristo transformou água em vinho nas bodas de Canaã. Antes já o autarca tinha desvalorizado todas as outras dívidas que ascendem a mais de doze milhões de euros. De cada vez que sou confrontado com estas desvalorizações fico de boca aberta. Quem me dera a mim desvalorizar como eles. Ser um rei das desvalorizações. Chega um credor ao pé de um presidente da câmara como o Rodrigues e ainda mal abre a boca já lhe desvalorizaram o calote. “O quê, o senhor vem aqui incomodar-me por uma ninharia dessas??!! Trezentos e cinquenta mil euros??!! Ó meu amigo, dívidas dessas como eu ao pequeno-almoço. Cresça e apareça que eu agora só já ligo a dívidas superiores a um milhão. E mesmo a essas é só quando estou muito distraído”. E lá vai o fornecedor acabrunhado. Envergonhado por ter tido o desplante de ir falar de ninharias a pessoas tão atarefadas.Num país deprimido sabe bem este à-vontade dos presidentes de câmara. A sua descontracção é luminosa. É inspiradora. Há presidentes de câmara cujos municípios estão enterrados em dívidas até ao pescoço, que continuam a sorrir. São herdeiros dos náufragos do Titanic que continuaram a dançar enquanto o navio se afundava. O Cristiano Ronaldo quando falha um golo de baliza aberta ainda deita as mãos à cabeça, coisa que já nenhum presidente de câmara faz quando lhe põem a lista de dívidas à frente. Vê lá o Moita Flores, por exemplo. Os credores estrebucham à porta da câmara e o que é que ele faz? Dedica-se às sete maravilhas da gastronomia. Oito, se contarmos com a Catarina Furtado. Serafim, convido-te a desvalorizares. Enche o peito de ar, afivela um sorriso displicente e desvaloriza. Desvaloriza por completo. Desvaloriza até ao tutano. Conjuga o verbo desvalorizar nos tempos todos. Sê um verdadeiro desvalorizador. E se te chamarem nomes feios não te preocupes. Acredita em mim, tudo pode ser desvalorizado.Aproveito este e-mail para fazer justiça ao governo e destacar a sua generosidade numa altura em que todos lhe dão na cabeça por nos andar a esmifrar a torto e a direito. Sim, é verdade que Passos Coelho imaginou o seu governo como um espremedor gigante e os portugueses um género de limões com perninhas e bracitos. Mas também é verdade que dá limonada fresca a muita gente. E não é só aos administradores e banqueiros. Vê lá tu os médicos da Costa Rica, por exemplo?! Aqui para os nossos lados estão meia dúzia deles a passar férias há mais de três meses sem qualquer custo. Para além do subsídio mensal, que alguns dizem ascender a três mil euros têm direito a casa à borla. E tudo isto pelo simples facto de terem declarado que tinham muita vontade de ajudar Portugal a suprir as carências de médicos de família. Este é um verdadeiro sistema euromilhões. Eu não sou contra, não senhor. Quem me dera a mim ser médico costa-riquenho. Saudações terapêuticas Manuel Serra d’Aire

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