Escrito na testa
Escrever faz bem à saúde. Comer, beber, dormir e amar deviam ser os quatro pilares da felicidade humana e exercício obrigatório a partir de tenra idade. Escrever porquê? Porque obriga a pensar, apurar o gosto, a saber dar valor às palavras, olhar o mundo com os nossos próprios olhos, enfim, escrever porque escrever foi o ofício de Sócrates, Ovídeo, Platão, Rilke, Virgílio, Homero e tantos outros autores anónimos que foram geniais e escreveram em tempos antigos como muitos esculpiram e pintaram sem gravarem o seu nome para conhecimento e fama.A palavra escrita é o maior inimigo dos corruptos, dos hipócritas, dos intelectuais sabujos, dos vendilhões do tempo e, acima de tudo, a palavra escrita é a verdadeira arma apontada aos espertos.Confesso que muitas vezes escrevo por obrigação. Chega a ser doloroso. Escrevo também com preguiça e com o sentimento de que “palavras leva-as o vento”. Também escrevo com prazer. Às vezes salvo o meu dia quando ajudo a escrever uma boa estória, preparo uma entrevista ou simplesmente ajudo a pôr de pé um texto que parecia uma cepa torta.No dia em que exercitei a escrita deste texto, para chegar até aqui, levantei-me às sete da manhã e deitei-me às duas do outro dia. Comecei o dia no campo e acabei a noite na cidade. De manhã mergulhei no Tejo. À tarde mergulhei no mar. De manhã fui à drogaria, ao estaleiro, ao café do centro da vila e ao supermercado e ainda tive tempo para apanhar e comer figos maduros da figueira do do meu quintal.A meio da tarde comi uma salada ao lado das tias e dos tios de Cascais. Nadei no mar e mergulhei do cimo de um pontão com rapazes e raparigas que pareciam deuses. À noite andei a vagabundear numa cidade cheia de turistas e acabei a noite numa esplanada a apanhar banhos de vento.Escrever também é omitir. O mais importante que me aconteceu neste dia ninguém vai saber por mim embora esteja escrito na minha testa. JAE
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