Nos anos 80, sempre que havia um programa de rádio para gravar, Júlio Isidro comprometia-se a passar na cave onde Mário Viegas residia, em Lisboa, para evitar que o actor e declamador escalabitano, que arrancava as folhas dos livros de poesia, se atrasasse. Mário Viegas tentou sempre impedir que Júlio Isidro entrasse no seu espaço até que um dia a necessidade fisiológica do apresentador de televisão falou mais alto e Júlio Isidro entrou na casa de banho do actor. “Levantei a tampa da sanita e vi coladas no fundo duas fotografias: a do Papa e a de Ramalho Eanes. Contou-me depois que era para se lembrar deles sempre que ali precisasse de ir...”. A confidência arrancou as gargalhadas ao público que encheu o espaço da cafetaria do Centro Cultural do Cartaxo para ouvir Júlio Isidro. O apresentador, a residir há 12 anos na Ereira, foi convidado de José Raposo e contou histórias de artistas que ajudou a lançar e de talentos que teve o prazer de desvendar.Não esquece o dia em que foi com a equipa de produção a uma casa senhorial no Campo Mártires da Pátria, em Lisboa, para acompanhar ao programa uma menina que tocava piano. “Chama-se Maria João Pires e vive hoje no Brasil”, revela, e volta a surpreender a plateia.Júlio Isidro cortava o cabelo nos salões de Isabel Queirós do Vale e foi lá que um rapaz chamado António Variações lhe pediu que ouvisse uma música de sua autoria. O jovem cabeleireiro, de ar exótico, acabou por surpreendê-lo no restaurante ao jantar de capote alentejano e vara pau e entregou-lhe pessoalmente a cassete. Júlio Isidro gostou e convidou-o para o programa. O intérprete de “O corpo é que paga” teve uma curta carreira e actuou pela última vez no programa de Júlio Isidro onde apareceu usando um pijama com ursinhos e coelhinhos.Perante a esposa e mãe das suas filhas, que se encontrava na plateia, Júlio Isidro falou também com humor dos dois anos em que viveu com a actriz Ana Bola, com quem também trabalhou. “Houve um dia em que a Ana Bola tentou preparar-me um doce com leite condensado mas colocou a lata directamente ao lume. Ela entretanto deixou a casa e ficaram as estalactites no tecto”, comentou com carinho acrescentando que sabe que desde que é casada com Zé Nabo os seus dotes de culinária melhoraram.O músico que tocava “O malhão” à moda de “Mozart” também foi convidado do apresentador. Chama-se António Vitorino de Almeida e tocou no mesmo piano de meia cauda que foi roubado um dia da RTP sem que ninguém desse por isso. Na televisão pública houve até quem ajudasse na mudança.Júlio Isidro, 66 anos, vive na Ereira, no concelho do Cartaxo. Há dias cruzou-se com um senhor que jura ter visto a sua esposa a fazer compras no grémio da lavoura. Júlio Isidro explicou então, como de outras vezes, que a família não faz compras no grémio da lavoura muito menos para comprar ração para galinhas.Para acolher mais uma edição da iniciativa “José Raposo Convida”, que se realizou no domingo, 25 de Setembro, os colaboradores do centro cultural ofereceram salgados e creme de ervilha (sopa) regados com doses de humor e boa disposição servidas pelo apresentador de televisão.Carlos Miguel e Adelaide João são próximos convidadosO actor Carlos Miguel e a actriz Adelaide João são os próximos convidados de José Raposo no Centro Cultural Município do Cartaxo. “Fininho”, como carinhosamente é tratado pelo público, apresenta-se no domingo, 30 de Outubro. Adelaide João, Lalai para os amigos, estará à conversa a 27 de Novembro. Os encontros têm início às 21h30. As entradas são livres.“Ver televisão não é espreitar pelo buraco da fechadura”Júlio Isidro tem saudades dos tempos em que os espectadores ficavam presos ao ecrã de televisão a aprender a jogar xadrez e lamenta que hoje em dia o que capte a atenção sejam programas em directo sobre “quem dorme com quem” e ou sobre “quem cometeu um crime”, criticando a Casa dos Segredos. “Ver televisão não é espreitar pelo buraco da fechadura”, realça Júlio Isidro que recusa a filosofia de dar ao povo aquilo que se acha que o povo quer. “Podemos dar ao povo aquilo que o povo não sabe que quer mas gosta”, sugere.Aos 14 anos Júlio Isidro participou num casting para apresentar um programa de televisão. Foi o melhor mas não foi imediatamente chamado porque era o mais feio. Fez sucesso e num tempo em que conseguia o feito de ter 95 por cento das audiências as roupas que vestia esgotavam no dia a seguir na loja que patrocinava o programa.