Bancos estão a cortar nos financiamentos e asfixiam empresas da região e do país
Em Portugal existem 50 mil pequenas e médias empresas que empregam 2 milhões de pessoas
As dificuldades em obter financiamento constituem o problema central com que as pequenas e médias empresas se confrontam actualmente. Os bancos estão a cortar no crédito e só apostam nas empresas que exportam. Vive-se a era do “risco zero” onde, dizem os empresários, os bancos comeram à mesa com as empresas e deixaram a conta para pagar.
Não basta apoiar as 18 mil empresas que exportam, também é preciso apoiar as outras 32 mil que não o fazem e que, por apresentarem parâmetros de notação de risco mais elevado, não conseguem que os bancos lhes emprestem dinheiro. Esta foi uma das ideias principais levadas para o debate pelo presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, no Fórum PME, organizado pela AIP no centro de congressos de Lisboa a 29 de Setembro.“A reforma da justiça é importante, mas sem ela as nossas empresas sobreviverão até 2013. A reforma do Estado é imperiosa. Mas sem financiamento à economia é que tenho sérias dúvidas”, apontou o responsável perante uma plateia de 200 empresários. Os bancos portugueses estão a conceder cada vez menos crédito às pequenas e médias empresas (PME), deixando muitas delas numa asfixia financeira que as poderá levar a fechar portas em breve. Mais de 2 milhões de portugueses trabalham nestas empresas, que registam um volume de negócios anual próximo dos 200 mil milhões de euros.“Estão em causa operações correntes de tesouraria, financiamento à exportação, garantia de boa execução de obras e de contratos em mercados emergentes. Tudo isso está comprometido”, alertou o responsável no dia em que a AIP anunciou o lançamento de novos programas de apoio (ver caixa). José Eduardo Carvalho - que foi presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém _ Nersant durante a última década e meia - entende que é urgente a recapitalização do fundo de contragarantia mútuo, de forma a reforçar a intervenção das sociedades de garantia mútua nas empresas com maiores problemas. O secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação, Carlos Nuno Oliveira, garantiu que o Governo está a trabalhar para resolver o problema da falta de financiamento. “Temos de potenciar a entrada dos privados nos fundos de risco”, defendeu.Cortes na concessão de crédito são “uma inevitabilidade” As crescentes dificuldades em se financiarem nos mercados exteriores, o pessimismo, aversão ao risco e restrição na análise do rating de cada negócio são, para Rui Ferreira, consultor da AIP, as principais causas para as restrições de crédito da banca. João Salgueiro, economista, defendeu que “não basta entrar aflito num banco e pedir dinheiro. É preciso saber para onde se quer ir e ter um bom projecto”. Pedro Ferraz da Costa, presidente do grupo farmacêutico Iberfar, lamentou que não haja “uma palavra tranquilizadora do Ministério das Finanças nem uma concertação entre o Banco de Portugal e as empresas” sobre a falta de financiamento. “Ninguém sabe o que vai acontecer”, lamentou. Na mesma linha, o vice-presidente do Millenium BCP, António Ramalho, disse que os cortes na concessão de crédito são “uma inevitabilidade” e que o sacrifício dos bancos “também tem de ser vivido pelas empresas, Estado e famílias”. Outro banqueiro, Mira Amaral, assumiu que se os bancos deixarem de financiar as empresas “o país cai como um baralho de cartas” e informou que o Banco Português de Negócios, comprado pelo BIC, “não vai dar crédito ao consumo mas sim apenas a empresas”. Vários empresários do país questionaram os banqueiros sobre a matéria do financiamento mas estes foram insensíveis aos argumentos apresentados. Alguns empresários presentes na sessão garantiram a O MIRANTE que os bancos estão “a asfixiar” as suas contas e que, sem crédito, poderão vir a fechar portas. “Os bancos aliciaram-nos a viver com dinheiro emprestado. Agora puxam-nos o tapete e deixam-nos na rua”, refere Pedro Dias Monteiro, empresário da Póvoa de Santa Iria que esteve presente na sessão.AIP cria soluções para apoiar empresáriosO presidente da Associação Empresarial Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, anunciou durante o Fórum PME a criação de um departamento na associação destinado a coordenar todas as acções e projectos a desenvolver pelas empresas na área do financiamento. “Também aderimos a um fundo de capital de risco dinamizado pelo ISCTE, estamos a analisar a constituição de um fundo de obrigações participantes e um programa de titularização de carteira de crédito de pequenas e médias empresas”, informou. É objectivo da AIP implementar até 2014 um conjunto de intervenções e programas de dinamização da procura de instrumentos financeiros para empresas nas áreas do capital, dívida, mercado de capitais e melhoria de rating.
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