Somos todos cavaquistas
Nasci e vivo numa das regiões agrícolas mais ricas do país e provavelmente da Europa. Todos os dias passo pelo meio de pomares de laranjeiras carregados de laranjas que ninguém compra nem ao preço que pague o investimento nos adubos.Todos os dias ao almoço vou ao restaurante e pago dois euros por um copo de sumo natural feito com laranjas que parecem que vieram da lixeira: amarelas; engelhadas; raquiticas, azedas e com um travo a podre que até arrepia. Que país é este de gente acomodada que se deixa vencer pelas organizações das grandes superfícies comerciais que vão comprar as laranjas aos países da América Latina e desprezam a produção portuguesa que já foi das mais cobiçadas da Europa noutros tempos?Há uma multidão de políticos profissionais a conspirarem de quatro em quatro anos para ocuparem uma cadeira na Assembleia da República ou um dos milhares de lugares dourados que o Poder proporciona logo a seguir às vitórias eleitorais.E se a política deixasse de ser esse desejo pornográfico de todos os políticos saltarem para cima da mesma vítima e começasse a ser o exercício da cidadania ao serviço das várias associações de interesses que incluem a defesa da nossa economia até à luta contra a defesa dos direitos dos animais?O discurso do Presidente da República está quase sempre ao nível mais baixo da política à portuguesa; meias palavras, ameaças veladas; avisos à navegação, recados que quase sempre nos levam a dizer: “fala saco roto!“.Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, deixou escapar a grande oportunidade da reforma da administração pública em Portugal. Se ele tivesse cumprido um dos maiores desígnios da sua governação de dez anos outro galo cantaria nos de hoje.Toda a minha cultura democrática é de esquerda. Agora que estou na idade de fazer o percurso de todos os bons cidadãos sinto-me em contra mão sem medo de enfrentar os perigos de uma manobra perigosa.Enquanto o Presidente da República e os governos do meu país se deixarem gozar pelo ditadorzeco da Madeira vou torcer todos os dias para que a extrema esquerda renasça em Portugal e, à parte as bombas e as armas, faça alguma coisa de sério pelo país na defesa dos que não se sustentam na gamela do Poder.Quem olha para a pobreza franciscana dos nossos politícos, patrões e sindicalistas, alguma vez vai dizer que somos descendentes dos homens das caravelas? JAE
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