Posso dizer que tive seis mães. Os meus pais são da Chamusca, mas quando eu nasci já estavam a viver em Lisboa. Tinha nove meses quando a minha mãe faleceu e não guardo qualquer recordação dela. Fiquei a viver com a avó materna e o meu pai. Também se juntaram as minhas tias na minha educação. Cresci num reino de mulheres. Uma das minhas brincadeiras preferidas era andar a roubar fruta. Sempre fui uma criança muito traquina. Estava sempre a fugir com a bola nas mãos à polícia. Também andava com os meus amigos nos campos da Amadora a roubar fruta. Jogávamos hóquei no alcatrão onde as sarjetas eram as próprias balizas, os paus das vassouras os sticks e as bolas eram roubadas das mesas de matraquilhos. A minha avó andava sempre a ameaçar-me que ia contar ao meu pai e ele depois colocava-me de castigo. Mas tive uma infância muito feliz.Em vez de estar nas aulas ia para o jardim zoológico. Nunca chumbei na escola primária, sempre fui bom aluno, especialmente a matemática. Depois de passar para o liceu que existia ao lado do Jardim Zoológico de Lisboa, passei a trocar muitas aulas pela paródia no zoo. Nós conhecíamos o jardim zoológico por dentro e por fora e entravamos sempre às escondidas por buracos que descobríamos na rede.Conheci a minha esposa aos 15 anos e foi amor à primeira vista. Quando fui para o Liceu Nacional de Queluz sentei-me ao lado da minha colega de carteira que é hoje a minha esposa. Nunca mais voltei a largar a Maria José. O meu sogro tinha cinco filhas e sofri uma pressão imensa para conseguir a aprovação. Há 36 anos que estamos casados, temos dois filhos e duas netas. Por muito respeito que possa ter pelas outras esposas, podem existir muitas iguais, mas de certeza que não existe nenhuma melhor. Decidi assumir a responsabilidade do casamento e larguei os estudos para trabalhar. Comecei a trabalhar logo na restauração. Entrei numa empresa como despenseiro e depois subi até chegar a gerente. Depois de entrar em duas sociedades criei com o meu pai em 1980 a minha própria sociedade - Hiperserve. Tivemos uma série de refeitórios até eu decidir vir para o restaurante “A Coudelaria” em 1996, integrado no espaço da Companhia das Lezírias. As coisas não poderiam estar a correr melhor e já tenho praticamente todos os fins-de-semana reservados até ao final do ano. Se não fossem os filhos e os netos já me tinha mudado para a Ilha Terceira, nos Açores. Durante quatro anos representamos o Ribatejo na Feira da Gastronomia da praia Vitória. Fiquei com grandes amigos, cheguei a ter lá um restaurante. De três em três meses tenho de lá ir matar saudades. Levo todos os anos os meus colaboradores para umas férias no estrangeiro. Já estivemos no Brasil, México, República Dominicana, Tunísia ou Cuba. Quem trabalha merece. É preciso muita dedicação na restauração. Eu trabalho quase 24 horas por dia. Demoro duas horas por dia só em viagens entre a minha casa, em Santa Cruz, Torres Vedras, e o Porto Alto. Levanto-me por volta das 6h30. Se não tiver jantares saio do restaurante por volta das 20h00, senão só lá para a 1h00. Só folgo à segunda mas como também tenho outros negócios acabo por ter a vida muito preenchida.Tenho em casa um jardim zoológico. Moro à beira-mar, na Praia de Santa Cruz. É lá no meu recanto que às segundas de manhã cuido das minhas cabras, ovelhas, pavão, coelhos, tartarugas ou peixes. Também sou um apaixonado pelo ciclismo e sempre que posso vou dar uma volta. Outra paixão que cultivo é o mar, gosto muito de pescar, de andar de barco, de estar na praia.Eduarda Sousa