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“No período mais forte da carreira corria 12 mil quilómetros por ano”

Carlos Lopes foi o convidado do talk-show desportivo “Scalabisport convida...”

O campeoníssimo do atletismo português e internacional, Carlos Lopes, foi o convidado do talk-show desportivo “Scalabisport Convida...”, na noite de sexta-feira, no restaurante El Galego, do Complexo Aquático de Santarém. Carlos Lopes contou vários episódios da sua carreira e recebeu a visita de Moita Flores e do campeão Rui Silva.

Se a volta ao mundo, seguindo a linha do Equador, terá pouco mais de 40 mil quilómetros de extensão então o campeão da maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (Estados Unidos) em 1984 e ex-recordista mundial dos dez mil metros, sempre com a camisola do Sporting Clube de Portugal, Carlos Lopes, já viajou que se farta à volta do planeta.Com 64 anos, o ex-atleta, natural de Viseu, contou algumas histórias que o marcaram, respondeu a perguntas e encontrou caras conhecidas da modalidade, perante uma plateia de cerca de uma centena de curiosos.Nos tempos áureos dos recordes mundiais e do título olímpico, Carlos Lopes fazia cerca de 12 mil quilómetros por ano em treinos e corridas, à razão de 1.200 quilómetros por mês. “Mas não era a oito nem a nove à hora, era a vinte quilómetros por hora, o que hoje muitos jovens não fazem. Nove quilómetros por hora fazia eu no aquecimento”, contou, perante a risada do público. O resultado de muitas vitórias foi abordado ao longo da noite, em mais de duas horas. Os troféus de uma longa carreira estão guardados na garagem de casa, bem apertadinhos. Os prémios mais marcantes estão em locais mais reservados. “Algumas pessoas já me pediram medalhas mas ninguém leva nenhuma. Está ali o meu trabalho”, disse a todos.Mas será que quem ganhou tantas corridas nacionais e internacionais, bateu recordes europeus e mundiais e ganhou em jogos olímpicos está rico? Carlos Lopes responde de pronto. “Sou rico como pessoa”, disparou, para logo garantir que, apesar de tudo, não se sente injustiçado. “Se ganhei algum dinheiro a maior parte foi conquistado em provas no estrangeiro. Quando saí do Sporting em 1985 ganhava 80 contos. Fui muito mal pago para o que fiz e comparado com o futebol”, admite.O presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flores, juntou-se à conversa para confessar a sua admiração por Carlos Lopes, ou não fossem ambos sportinguistas dos sete costados. “Admirava-o sobretudo por dar sempre o máximo, fosse qual fosse a prova e lembro-me bem da noite dos dez mil metros em que correu com o Fernando Mamede - que ia à mama e ganhou - em que com um grupo de amigos da terra celebrámos o recorde mundial a comer uma vitela”, contou o autarca. Disse ainda que o talento só chega depois do trabalho e que esse foi o mérito do antigo atleta. Alberto Pisco, atleta que foi treinado por Carlos Lopes em miúdo lembrou da dureza dos treinos. “O Carlos exigia sofrimento e esforço para se alcançar um patamar superior. Uma vez foi para o Castelo de S. Jorge esperar por nós. Cheguei lá de bofes de fora e ainda achou que o tempo era mau”, recordou o ex-atleta, para Carlos lhe responder que passou ao lado de uma grande carreira “se não fosse mandrião”.Outra surpresa da noite foi a presença de Rui Silva, atleta do Cartaxo que se tem notabilizado no Sporting e na selecção nacional, com várias medalhas conquistadas em campeonatos europeus e mundiais.Rui Silva mostrou-se um admirador de Carlos Lopes e diz que o seu início no atletismo teve a ver com o ouro olímpico que Lopes conquistou na maratona. “Foi um marco assinalado na TV e que foi decisivo para eu praticar atletismo, o que até àquela data não fazia parte dos meus planos”, referiu Rui Silva, que pensa terminar a carreira nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Os elogios foram retribuídos por Carlos Lopes que não deixou de achar que Rui Silva podia estar hoje a um grande nível nas provas de fundo ou maratona se tem deixado mais cedo os 800 e os 1. 500 metros. “É um atleta com supercaracterísticas que não foi totalmente aproveitado, mas continua a mostrar um futuro com potencial para a maratona”, assinalou o ex-campeão.A noite à conversa com Carlos Lopes, numa sessão apresentada por Luís Paradiz, contou com intervenções musicais de Madeira Show. Atletas e responsáveis do Centro de Cultura e Desporto “O Alvitejo”, de Vale de Figueira, Rogério Filipe, Bruno Leitão e João Fortunato, deram os seus testemunhos sobre as provas amadoras e expressaram admiração por Carlos Lopes. A conversa, que começou pouco depois das 21h30, estendeu-se até perto da meia-noite, com Carlos Lopes a dar autógrafos e a tirar fotografias com fãs.Episódios futebolístico-atlético-criminaisNuma noite que juntou atletas, ex-atletas, autarcas e um ex-agente da Polícia Judiciária, não faltaram algumas histórias. Carlos Lopes, por exemplo, de tanto ter corrido na vida, bem e depressa, diz que lhe fazem impressão algumas coisas que se passam quando está sentado no seu lugar cativo no estádio Alvalade XXI. “Eu não me enervo, fico doente, quando o Sporting joga a dez à hora ou quando joga mal”, contava o ex-campeão, perante o riso do público, sobre a equipa de futebol.Francisco Moita Flores preferiu contar uma história de polícias mas que também mete atletismo, sobre uma intervenção realizada no Casal Ventoso, em Lisboa, à caça do criminoso chamado Quitó. “Ele foi encurralado em casa e saltou pela janela onde estava o meu chefe da altura, que fumava quatro maços de cigarros por dia mas que o pegou. Ele conseguiu fugir e foi ganhando distância, dez e vinte metros, até que o meu chefe lhe grita: «Podes correr à vontade que eu faço dez quilómetros todos os dias». E não é que o parvalhão parou mesmo e foi apanhado, enquanto o meu chefe o agarrava e ia tentando encontrar espaço no pulmão para respirar”, lembrou, arrancando a risada geral à plateia.

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