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Receitas para enfrentar a crise

O mundo mudou muito nos últimos tempos e os nossos empresários vão sentindo na pele as consequências dessa mudança. O que ontem eram verdades absolutas, como a facilidade no acesso ao crédito bancário, hoje são factos questionáveis. Os novos problemas exigem respostas diferentes e para se pegar a crise de caras é preciso engenho, arte e gosto pelo risco. A internacionalização e a criação de novos ramos de negócio são duas das opções encaradas como fundamentais para se atravessar os tempos difíceis que se vivem e que estão para durar. Outra é cortar nos custos. O MIRANTE foi ouvir alguns empresários que estiveram na cerimónia de entrega dos prémios Galardão Empresa do Ano realizada em Fátima.

À descoberta do Brasil e de Angola Empresa de referência nas áreas do software de gestão e consultoria informática, a Risa não atravessa “problemas tão graves” como os de outros sectores de actividade, nomeadamente a construção civil e obras públicas. “Paradoxalmente vamos admitir mais pessoas, isto pode parecer um contra-senso”, diz o administrador João Artur Rosa. Mas nem tudo são rosas. “As questões financeiras e de tesouraria da minha empresa em 35 anos de existência nunca tiveram um nível tão ruim como o actual”. Tudo devido às dificuldades de financiamento junto da banca e ao dinheiro que tem para receber dos clientes. A Risa está numa fase de crescimento, com a procura de novos mercados que se reflecte nos negócios recentes no Brasil e em Angola. “As coisas estão a correr bem em termos de trabalho, mas se não recebo como é que posso continuar a trabalhar?”, questiona.Estado não paga e a solução é reduzir pessoalO administrador da construtora EcoEdifica, empresa dedicada às obras públicas e engenharia civil, diz que, fundamentalmente, a sua resposta para a crise é cortar postos de trabalho. O engenheiro civil queixa-se da demora que o Estado leva a pagar as obras contratadas e executadas e que, face a essa realidade, não tem outra alternativa. “O banco não empresta um cêntimo, cortou totalmente, o Estado não paga, só tenho uma solução, é parar a empresa”. Mário Correia diz que os cerca de 150 trabalhadores “estão a ir aos poucos até chegar a zero”. E reforça: “Não temos hipóteses de continuar a trabalhar assim como isto está!”.Cortar nos custos e procurar novos negóciosO empresário do ramo imobiliário diz que o sector “está completamente parado”. Francisco Mendes revela que o que têm vindo a fazer desde há algum tempo é uma “completa redução de custos”, designadamente com pessoal e instalações, e também equacionar mudanças dentro do sector e até de ramo actividade. “Tem que se inovar e procurar novas alternativas, apesar de serem poucas nos tempos que correm. Temos alguns projectos em mente mas ainda é cedo para falar sobre eles”, conclui.Resposta foi criar quase 100 empregosO empresário do ramo dos curtumes afirma que as medidas que tomou para combater a crise foi meter 95 pessoas a trabalhar este ano, reconhecendo que está um pouco contra o ciclo da economia onde a crise é palavra de ordem. “Nos curtumes tivemos muito trabalho este ano. O grupo está a funcionar bem e não tem problemas com a banca”, garante António Cruz Costa, afirmando que o grupo empresarial quer continuar a estar entre os melhores.Sem trabalho não vamos a lado nenhumA melhor forma de enfrentar a crise e os tempos difíceis é ter forças para trabalhar. A sentença é de José Júlio Eloy, administrador da AgroRibatejo, empresa de comercialização de máquinas e equipamentos para a lavoura e para terraplanagens. “Sem trabalho não vamos a lado nenhum, já se sabe há muito tempo, mas agora é pior. Estamos a travessar uma crise muitíssimo grande e estamos a ver se nos aguentamos”. O empresário queixa-se que os seus clientes não têm trabalho e isso reflecte-se nas vendas. “O Estado não lança obras, não há estradas, terraplanagens”. Mesmo assim a AgroRibatejo mantém-se à tona. “Temos muitos clientes. Os grandes estão muito aflitos, sem trabalho. Dos pequenos lá aparece um trabalho aqui, outro acolá, lá se vão defendendo e nós vamos com eles”.Internacionalização é o caminho a seguirO administrador da Ribatel, empresa que trabalha nas áreas das telecomunicações, telemetria e sistemas de segurança, diz que a empresa está a enfrentar as dificuldades com pragmatismo e alguma audácia. “Temos em curso projectos de internacionalização com os produtos que desenvolvemos e estamos já com projectos piloto no Brasil. Com uma das principais empresas brasileiras de distribuição de gás estamos neste momento a apostar na telemetria na área dos combustíveis e de gás”. Armando Rosa diz que se não for assim vai ser muito difícil sobreviver. “A internacionalização é a única resposta possível neste momento para sobreviver, porque não há mercado em Portugal nem se antevê também grande mercado na Europa. No Brasil esperamos que em 2012 as coisas corram bem”.Acesso a financiamento é uma questão crucialApoiar as empresas nas áreas da formação e internacionalização e tentar encontrar alternativas para as ajudar em termos de financiamento são receitas que o presidente da comissão executiva da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant, considera fundamentais para as tornar mais aptas a atravessar a crise. “A grande questão que as empresas nos colocam é a do financiamento. Essa é uma questão que compete muito ao Governo e nós já apresentámos um estudo com situações alternativas que podem ser implementadas”, afirma António Campos. Investir mais é a solução“Para enfrentar a crise tenho que investir mais”, diz Carlos Henriques, do grupo El Galego, que explora vários restaurantes e cafetarias em Santarém e ainda um talho e um restaurante na Póvoa de Santarém. “A solução é investir. Isso é o que o nosso grupo tem feito e é o que vai continuar a fazer para tentarmos ser os melhores”, reforça Carlos Henriques, sócio-gerente da empresa que tem criado postos de trabalho e aberto novos estabelecimentos nos últimos anos, um pouco em contraciclo com a tendência dominante na área da restauração. Quanto a 2012, as perspectivas não são muito risonhas. “Acredito que com a alteração do aumento do IVA sobre o sector da restauração a vida vá ser mais complicada para o sector, mas criando condições e investindo vamos tentar ultrapassar” mais esse obstáculo.Controlar custos e adaptar preçosO responsável pelo Hotel Dom Gonçalo, em Fátima, diz que já “há largos anos” está habituado a viver com dificuldades de mercado e com diferentes conjunturas, com a empresa a adaptar-se à realidade de cada período. “Neste momento é mais uma situação dessas, em que temos de puxar pela imaginação, controlar bastante os custos e adaptar os preços ao mercado. De uma forma geral penso que as coisas irão correr bem”. Jorge Heleno refere que a indústria hoteleira tem um grande potencial e é um sector onde Portugal consegue posicionar-se correctamente e vender para exportar. “À partida estamos confiantes no futuro. O mercado de Fátima é um nicho muito particular. Nós já há vários anos que temos vindo a trabalhar este mercado e estamos agora a colher os frutos de todo esse trabalho de longo prazo e de grande esforço e dedicação”, conclui.Estado demora a pagar mas é ágil a cobrarJorge Pisca, patrão da Signatus, que se dedica às áreas da estampagem e gravação diz que o principal problema com que se debate na gestão da sua empresa é a de cobrar a tempo e horas pelo trabalho executado. Designadamente aos organismos do Estado, com quem trabalha muito. “O Estado paga tarde mas é muito ágil a cobrar”, considera. Uma situação que gostaria de ver ultrapassada, já que acaba por minar a economia afectando a saúde financeira das empresas. Por isso pede aos políticos que comecem a levar mais em atenção o valor dos empresários. “Antes havia a possibilidade de ir com as facturas do Estado à banca e assim conseguíamos um empréstimo para aliviar a tesouraria. Hoje isso já não acontece. A banca hoje está muito mais complicada”, diz.Vale mais não vender do que vender e não receberVale mais não vender do que vender e não receber. A máxima é de Custódio Antunes, proprietário da empresa Móveis Antunes da Golegã que só vende a pronto pagamento. “Se não o fizermos não conseguirmos sobreviver nestes momentos menos bons”, refere o proprietário da empresa que em 2008 venceu o prémio Micro Empresa Galardão do Ano. Em alturas de crise o empresário garante que a solução é trabalhar mais e gastar menos. Além disso, andam a estudar a possibilidade de investir em novos mercados. “O país é muito grande e ainda existem muitos locais para explorar”, diz.Custódio Antunes também sente os efeitos da crise no seu negócio de comércio de todo o tipo de mobiliário. Anda, no entanto, à procura de mais funcionários e essa, garante, nem sempre é uma tarefa fácil. O forte da empresa é fazer aquilo que os outros não fazem. A Móveis Antunes executa trabalhos por medida o que, na sua opinião, é uma enorme vantagem em relação à concorrência. “Estamos sempre a tentar inovar nos produtos que fabricamos para estarmos sempre na vanguarda da modernidade”, conclui.

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