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O homem dos sete ofícios que gostava de conhecer o mundo

O homem dos sete ofícios que gostava de conhecer o mundo

Miguel Guedes trocou o lugar de empregado pelo de patrão

Aos 32 anos Miguel Santos Guedes, residente em Vila Franca de Xira, gere os destinos de dois cafés no concelho. Já foi pedreiro, carpinteiro, pintor e outras tantas profissões que abraçou para ganhar a vida. A dada altura decidiu ser patrão e diz que não está arrependido, mesmo em tempos de crise.

Durante os seus 32 anos de vida Miguel Santos Guedes lembra-se de ter tido, pelo menos, umas seis profissões diferentes. Fez tudo o que era preciso fazer para poder ganhar a vida. Sonhava ser arquitecto ou engenheiro mas acabou por entrar no mercado de trabalho aos 14 anos. Mesmo assim não virou a cara à luta e hoje conseguiu deixar de ser empregado para ser patrão em dois estabelecimentos comerciais no concelho, o Alfa bar em Alhandra e o café restaurante Lusitânia em Vila Franca de Xira.Miguel nasceu em Lisboa e morou com os pais na freguesia de Marvila até aos 20 anos. Quando era criança desejava ser futebolista “mas os pés não ajudaram”, ironiza. Frequentou o ensino primário e secundário em Lisboa e quando fez 14 anos começou a trabalhar nas férias de Verão para ajudar o pai e amealhar algum dinheiro para sair com os amigos. Mais tarde, aos 16, começou a pensar em tirar engenharia ou arquitectura mas não conseguiu. “Era um curso extremamente rigoroso. Eu chumbei logo no primeiro ano. As matemáticas e o método de aprendizagem eram diferentes do que estava habituado. Na escola davam a matéria e ou se decorava ou perdia-se tudo com facilidade, era tudo a correr, à pressa”, recorda.Garante que nunca foi um aluno problemático mas desde esse ano nunca mais estudou e ingressou definitivamente no mundo do trabalho. Miguel teve de fazer pela vida. Entrou como carpinteiro e marceneiro numa empresa que fazia obras para o Estado, em Carnide. A vida era dura. Apanhava o autocarro às 06h00 para ir trabalhar. “Na minha infância nem uma bicicleta tive. Hoje por haver tanta facilidade em comprar as coisas e por haver tanta coisa à escolha as pessoas nem sabem o que querem”, opina. No seu primeiro emprego trabalhou dois meses sem folgar. “Estive nessa empresa uns 9 meses, o patrão era certo a pagar e eu conseguia, com as horas a mais que fazia, tirar perto de cem contos na altura (aproximadamente 500 euros)”, recorda. Parte do dinheiro usava-o para ajudar os pais.Ao ver-se desempregado decidiu arriscar como empregado de uma empresa de isolamentos. Depois foi estucador e arrancou por Itália onde foi servente durante três meses. Tinha 20 anos. “Depois um problema familiar trouxe-me de volta”, recorda. Nessa altura a mãe trabalhava no hospital de Vila Franca e decidiu adquirir uma casa no bairro de Povos para morar e ficar mais perto do local de trabalho. Miguel acompanhou-a. “O meu primeiro emprego em Vila Franca foi a fazer a construção de uma moradia com o meu pai. Entretanto ele ficou sem trabalho e eu encontrei um amigo em Povos que me indicou trabalho na remodelação de casas. Infelizmente a construção também parou e estive um tempo desempregado. Entrei numa empresa de pintura mas ela viria também a fechar e fiquei outra vez desempregado”, lamenta. Ainda arranjou uns biscates no hospital e na jardinagem mas cedo percebeu que não seria isso a meter-lhe comida no prato.Farto de obstáculos e de portas fechadas Miguel Guedes decidiu apostar o tudo por tudo num negócio seu. Encontrou um café no Bom Retiro para alugar e lançou-se à aventura. “Serviu para aprender muita coisa sobre o negócio e desde essa altura ficou o bichinho cá dentro do atendimento ao público, gosto de lidar com as pessoas”, refere.Diz que o seu maior sonho era viajar e dar a volta ao mundo. Actualmente mora em Povos com a companheira e tem uma filha de oito anos. “Para mim o mais difícil desta profissão é gerir as faltas e o material. Quem é dono tem de olhar ao que falta, o que é preciso encomendar. Não é fácil gerir tudo. Se não estivermos sempre em cima do assunto espalhamo-nos”, informa.Actualmente levanta-se às 05h15 para abrir o bar de Alhandra às 05h50 com bolos e pão prontos a sair para quem vai para a estação. As horas de ponta são onde o negócio rende mais. “Ir de empregado a patrão tem prós e contras. Temos o nosso horário sem sermos despedidos. Tem a vantagem de não termos de aceitar indicações de ninguém, fazemos tudo à nossa vontade. Mas em contrapartida temos de andar sempre a pensar em tudo”, diz com um sorriso.
O homem dos sete ofícios que gostava de conhecer o mundo

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