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O professor de matemática que nunca lidou com casos de indisciplina

Artur Silva chegou a ser director da Escola Secundária Gago Coutinho entre 1992 e 1994

O ex-professor da Escola Secundária Gago Coutinho, Artur Silva, recordou a O MIRANTE algumas experiências da sua profissão a propósito da celebração do 40º aniversário da Escola Secundária Gago Coutinho, localizada em Alverca do Ribatejo.

Um dia depois de acabar de leccionar as aulas nocturnas, Artur Silva saiu da escola por volta das 23h30 e encontrou um aluno à chuva. Perguntou-lhe se queria boleia e depois de insistir lá conseguiu deixá-lo em Arcena. No dia seguinte o aluno não apareceu na aula e o professor perguntou aos alunos se sabiam o que tinha acontecido. Descobriu que sempre que o pai se zangava com o filho não o ia buscar e obrigava-o a ir a pé da escola para casa. “Foi um exemplo que me marcou porque mostra o que muitas pessoas têm de sofrer para poderem estudar”, recorda o ex-professor, de 65 anos, que chegou a Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, em 1974 para dar aulas de matemática na Escola Técnica Gago Coutinho. Vivia-se um período conturbado do pós-25 de Abril, mas a escola esteve sempre dotada dos melhores professores, funcionários e alunos. No primeiro dia de aulas colocava logo um pequeno problema no quadro. “Queria desde logo que os alunos vissem quem é que dominava a matéria e também mostrar-lhes que eu estava ali para os ensinar algo que estava ao alcance de todos”, conta o professor que nunca se deparou com casos de indisciplina. Segundo o professor, os jovens são muito justos e rapidamente se apercebem se os professores têm ou não qualidade, passando ou não a respeitá-los. Entre 1992 e 1994 chegou a ocupar o cargo de director da escola. Depois de observar um jogo de basquetebol entre pessoas paraplégicas lembrou-se de contratar para guarda-nocturno da escola uma pessoa nas mesmas condições. “Não tinha dúvidas que uma pessoa paraplégica, munida de uma cadeira de rodas eléctrica e auxiliado por dois cães, cumpriria com grande eficiência a sua missão”, refere. Chegou a ser feito um canil na escola, foram comprados dois cães de raça pastor alemão e a Segurança Social chegou a adquirir uma cadeira eléctrica. O mandato terminou e o projecto acabou por ser abandonado pelo sucessor de Artur Silva. Este Verão encontrou um antigo aluno que está a trabalhar no Canadá e teve de realizar provas de matemática para poder entrar. “Veio agradecer-me por ter sido exigente com ele e isto é a maior compensação que um professor pode alcançar”, refere. Em relação à matemática garante que a dificuldade é muitas vezes uma questão cultural. “Por vezes são os próprios pais a dizerem aos filhos que a matemática é um bicho de sete cabeças e as crianças crescem a ouvir isso”, acrescenta. Desde 2006 que está aposentado mas continua a dar algumas aulas de formação a futuros professores de matemática para poder transmitir toda a experiência que acumulou durante a carreira.

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