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Da restauração ao negócio das mudanças

Da restauração ao negócio das mudanças

Fernando Mendes iniciou-se no mundo laboral a trabalhar na churrasqueira dos pais e aos 37 anos decidiu mudar de vida

Gosta do que faz e se a situação financeira o permitisse aumentaria a frota automóvel e investiria mais no negócio.

Fernando Mendes, 42 anos, iniciou-se nos transportes de mudanças quando não havia negócio semelhante em Tomar. Hoje a concorrência cresceu, mas os “Transportes Gualdim” continuam a beneficiar de um sector que ainda tem bastante espaço no mercado. Não fosse este o tempo das insolvências e das penhoras. Um caminho pelo qual Fernando Mendes optou depois de mais de 20 anos na restauração. Para fazer transporte de mudanças é preciso força física mas sobretudo força de vontade, porque neste sector, curiosamente, só aparecem funcionários com mais de 50 anos.Nasceu em Angola, em Moçamedes, mas veio para Portugal com sete anos. “Foi uma mudança tremenda, sobretudo no que toca ao clima. O meu pai esteve por lá cerca de 20 anos. Portugal não tinha nada a ver com Angola, mas adaptei-me”. Estudou até ao 6º ano. Com 15 anos foi trabalhar na churrasqueira dos pais, um espaço no Mercado de Tomar que fechou há poucos anos. Fez o serviço militar e ainda passou por uma pequena experiência como electricista automóvel na Câmara de Tomar. “Estava nas oficinas, cheguei a tirar um curso na área, mas acabei por abandonar o serviço porque, enfim, queria uma vida melhor”.Até aos 37 anos permaneceu na churrasqueira da família. Desses tempos ficou a lembrança do convívio com os clientes e os amigos que aí fez. “Estava sobretudo ao balcão, a churrasqueira era da família e havia certos dias que chegavam ali a juntar-se uma dúzia de pessoas a trabalhar. Foi um tempo que passou”.Decidiu que era o momento de criar o seu próprio negócio. Tinha a carta de pesados e criou uma firma de mudanças. “Na altura em Tomar não havia nada deste género. Fui aprendendo, tirei algumas formações entretanto”.“É duro” sublinha Fernando Mendes quando lhe perguntam pela exigência do trabalho. Já chegou a despejar apartamentos num 13º andar, mas explica que muitas vezes chega a ser mais fácil um serviço deste género com o apoio de elevadores, que despejar um rés-do-chão ou um 1º andar. “É necessária força física, vontade de trabalhar e também alguma habilidade para este serviço”, refere, uma vez que é necessário desmontar móveis. Apesar de tudo, os jovens de 20 e poucos anos não se sentem atraídos pela profissão e quem aparece são já homens de meia-idade.Para além das mudanças tradicionais a particulares, Fernando Mendes faz também penhoras. Uma área de trabalho com bastante que fazer nos últimos tempos mas que nem sempre é fácil para quem está no sector. “Faço penhoras em Tomar, Ourém, Abrantes, Ferreira do Zêzere e um pouco por todo o país consoante as necessidades. Tem havido muitas penhoras, sobretudo no concelho de Tomar. É um serviço que me custa porque mexe com as pessoas, há sempre por ali crianças, pessoas a chorar, até algumas que ameaçam. Vai sempre a PSP. É muito doloroso”.Mas há sempre histórias para contar, independentemente dos serviços. A primeira coisa que os clientes avisam é para se ter cuidado com os móveis, para não riscar. “Já transportei móveis antigos, peças valiosas, estruturas daquelas que levam horas e horas a desmontar. Peças que se vê que são caras, heranças. Mas tenho seguro para tudo e nunca tive problemas”, refere. “Uma mudança demora em média, se tudo correr bem, sete a oito horas de trabalho”.Há dias que correm menos bem e é nesses momentos que Fernando Mendes pensa em mudar de área, mas vai ficando. “Quando fechar as portas queria ser o último a fechar”, comenta. Gosta do que faz e se a situação financeira o permitisse aumentaria a frota automóvel e investiria mais no negócio. “Tenho pessoal fixo que me ajuda, mas nem sempre é fácil ter pessoas disponíveis”. Fernando Mendes conduz os camiões de mudanças e ajuda a condicionar a carga. “É a minha profissão, motorista de pesados”. O transporte de mudanças está a estabilizar e prevêem-se tempos mais calmos. “Vou tentando segurar o barco. Este é um trabalho difícil, stressante e com algum desgaste mesmo a nível emocional”.
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