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Ainda hoje não me sinto patrão

Ainda hoje não me sinto patrão

Filipe Faria, 51 anos, empresário, Torres Novas

José Filipe Faria dos Santos nasceu a 5 de Agosto de 1960 na aldeia de Carvalhal da Aroeira, Torres Novas. Há 28 anos comprou a empresa de reclamos luminosos ao patrão. Hoje a “Filipe Faria”, situada na Zona Industrial de Torres Novas, agrega 62 funcionários e tem clientes em todo o país e no estrangeiro, nomeadamente em Angola. Tem a seu lado, desde sempre, a esposa, Celeste Lobo. Lamenta não ter tirado mais tempo da empresa para acompanhar o crescimento das duas filhas.

As pessoas mais chegadas chamam-me Zé Filipe. Filipe Faria é o nome da empresa porque, na altura do registo, nenhum dos nomes que apresentei foi aprovado no Registo Nacional de Pessoas Colectivas. Como tínhamos um incentivo a decorrer para jovens empresários e uma das condições era constituir firma, coloquei Filipe Faria para acelerar o processo. Comecei a trabalhar neste ramo com 13 anos. Foi na Coriluz, nas Terras Pretas, a quatro quilómetros da minha casa para onde ia a pé e mais tarde de bicicleta. Aos 18 anos já era encarregado de uma empresa onde trabalhavam sete pessoas. Os patrões não se entendiam e não metiam lá os pés. Vi-me sozinho a gerir a empresa. Aos 22 anos tornei-me empresário. Comprei a Sirluz ao meu patrão.Gostava de ser carpinteiro. Sou oriundo de uma família humilde e tenho um irmão mais velho que tinha esta profissão. Sempre tive jeito para trabalhos manuais. O meu pai foi caseiro numa quinta, onde vivi até aos seis anos. Sou o quarto de cinco irmãos e tenho uma diferença de nove anos em relação ao terceiro. Não pude continuar a estudar porque os meus irmãos também não tinham estudado. Fiz a quarta classe e fui trabalhar. Foi um momento que me marcou porque achei que já não éramos tão pobres. Mais tarde, com 14 anos, um dos meus irmãos mais velhos obrigou-me a ir tirar o 9.º ano à noite. Tirei o curso geral de Electricidade. Ainda hoje não me sino patrão. Gosto muito da produção. Cheguei até aqui com trabalho, trabalho, trabalho. Lembro-me que tínhamos uma forte concorrência local. Conhecia uma pessoa em Lisboa que começou a ser o meu representante e, naquela altura sem auto-estradas, começamos a ter mercado na capital. Trabalhávamos bem e ao fim de dois, três anos começámos a ver dinheiro, o que nunca tinha acontecido. Hoje a empresa tem 62 funcionários e não me apetece reduzir. Fazer bem hoje para não remediar amanhã acaba por ser o lema da minha empresa. É muito mau quando enganamos alguém mas é muito pior quando nos enganamos a nós mesmos. Ou nós conseguimos arranjar mercado que absorva parte da nossa produção ou Portugal não pode progredir. Sou exigente com a minha equipa mas começo por pedir exigência a mim mesmo. Foi o mercado que me emperrou para o crescimento. Sempre disse que me queria reformar aos 50 anos mas já fiz 51 e ainda cá estou. Quando comecei a empresa era só eu e a minha esposa, Celeste. Estamos casados há 25 anos e temos duas filhas. É uma companheira de vida. Tenho necessidade de estar numa terça-feira, numa esplanada, a apanhar duas horas de sol. Nunca fiz isso. As minhas férias são sempre com o telemóvel ligado e nos três primeiros dias está sempre a tocar. Se fosse hoje tinha passado mais tempo com as minhas filhas e menos tempo a trabalhar . Gostava de ter tido uma participação maior na sua educação, que foi assumida pela minha mulher. Gosto de viajar e faço-o muitas vezes em trabalho especialmente para Angola. Mas a esposa não me acompanha e eu acabo por não viajar tanto como gostava porque fazemos uma vida muito em conjunto. Não tenho hobbies.Nunca tive a ambição de ser alguém na vida. Ainda hoje as pessoas não conhecem o Filipe Faria. Não sou de me mostrar. O meu grande objectivo é um dia a minha equipa dar continuidade a isto. Com muita pena minha, não me parece que esta empresa tenha sucessão familiar, através das minhas filhas.Elsa Ribeiro Gonçalves
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