Quando tanto se fala de empreendedorismo e de competitividade como receitas para combater a crise, tenho de tirar o chapéu à ladroagem que ganha a vida no nosso país e particularmente na nossa região, pelo seu arrojo, criatividade e espírito de sacrifício. Assim fossem todas as outras classes profissionais. Só gente destemida volta tantas vezes ao local do crime para roubar cabos telefónicos e extrair o fio de cobre. Só gente arrojada se dispõe a fazer explodir caixas multibanco para levar umas notas chamuscadas. Só gente com engenho se lembra de roubar os oito motores que propulsionavam o palco flutuante comprado pela Câmara de Vila Franca de Xira e que, a bem dizer, para pouco ou nada vinham servindo. E é de realçar que esta classe trabalha sobretudo de noite, sacrificando o seu tempo junto da família para ganhar a vida, exposta à fúria dos elementos atmosféricos e sujeita a levar bordoada da grossa se for apanhada. No entanto, não se lhes ouve um queixume, uma reivindicação, uma ameaça de greve, uma manifestação. Nada! É deste exemplo de abnegação que o nosso país precisa nesta hora difícil, em vez de andar com lamúrias.Outro exemplo de audácia vem do Porto Alto, onde alguns miúdos da escola primária aproveitaram o trajecto a pé entre a escola e o refeitório onde vão almoçar para darem à sola perante a impotência das auxiliares. Uma espécie de deserção que acabou por ser penalizada com dois dias sem almoço na cantina. E os putos bem podem mandar foguetes pela brandura da pena. No nosso tempo, uma aventura dessas daria direito a sobremesa de régua e cana da Índia na escola e a um jantar de cinto paterno em casa. O presidente da Câmara de Torres Novas disse recentemente que há hospitais públicos a mais na região, deixando de boca aberta quem anda mais atento, pois é a primeira vez que se ouve tal coisa da boca de António Rodrigues, que até viu a sua cidade ser contemplada com um hospital novinho em folha não há muito tempo. E que se saiba ninguém o ouviu reclamar. Por este andar, ainda o vamos ouvir dizer que há rotundas a mais em Torres Novas ou que já está farto de ir em missão autárquica a Cabo Verde. Indelével Manuel Serra d’Aire não sei se leste a entrevista do padre José Luís Borga ao Diário de Notícias onde critica o Vaticano pelo escarcéu que fez por causa de uma fotomontagem de uma campanha publicitária da Benetton onde o Papa aparecia a beijar um sacerdote muçulmano. O pároco que reza missa no Entroncamento diz que, se fosse com ele, ria-se e talvez até pusesse a foto na porta do Vaticano. Uma resposta que engloba riscos. Eu se fosse a ele tinha cuidado na hora das confissões, não lhe vão aparecer por lá devotos com ideias mais afoitas a pedinchar um “chocho” do padre/músico em vez da absolvição. Cruzes canhoto!Beijinhos à prima e um abraço para ti do Serafim das Neves