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Aumento dos roubos por esticão, assaltos a residências e furtos de gasóleo requerem acção enérgica

Ana Oliveira, Comandante de Destacamento da GNR de Vila Franca, empenhada em combater criminalidade

Aumentaram os roubos por esticão, os assaltos a residências e os furtos de gasóleo na área da GNR no concelho de Vila Franca de Xira. Vialonga e Castanheira do Ribatejo são as freguesias mais problemáticas. É por isso que a prioridade da nova comandante de destacamento, a tenente Ana Oliveira, é o combate à criminalidade mais do que a aplicação de multas de estacionamento.

A população de Vialonga queixava-se há uns anos da caça à multa e excesso de zelo por parte da GNR sobretudo em relação às infracções de estacionamento. A situação alterou-se?Cada comandante gere o efectivo que tem consoante determinada estratégia. Entretanto o comando do posto também mudou. As infracções certamente continuam a verificar-se e os militares continuam a actuar mas se calhar as prioridades estarão direccionadas noutro sentido. Enquanto comandante de destacamento, a um nível mais alargado, quais são as suas prioridades?Neste momento preocupa-me muito o aumento da criminalidade, sobretudo no que diz respeito aos crimes contra o património e contra as pessoas. Isto mexe com o sentimento de segurança dos cidadãos. Preocupa-me mais os roubos por esticão do que as infracções de estacionamento. É claro que se virmos um carro mal estacionado actuamos. A criminalidade tem aumentado na freguesia de Vialonga? Até diminuiu ligeiramente mas registámos um aumento de roubos por esticão. Estamos atentos a esse fenómeno vocacionando as patrulhas para as zonas onde têm ocorrido. As pessoas não se sentem seguras na rua com ocorrências deste tipo. Até Agosto registámos nove casos em Vialonga. Quais são as zonas mais problemáticas?A zona da Flamenga e da Icesa. Temos colocado mais patrulhas no local e temos notado um abrandamento fruto desse patrulhamento mais intensivo. Temos alguns suspeitos identificados e no decorrer do processo certamente conseguiremos constituir arguidos. Não há gangs organizados. São dois ou três indivíduos que se colocam em fuga a pé ou têm um carro à espera. Levam a mala, a carteira ou o fio de ouro. As zonas próximas de Lisboa são apetecíveis por serem locais de passagem…As vias de comunicação trazem estes fenómenos de criminalidade que é transversal a todo o país. Com facilidade fazem explodir uma caixa multibanco, como aconteceu em Vialonga, e têm muitas possibilidades de fuga. Normalmente nesses casos são pessoas que vão para longe da sua área de residência. O estigma do bairro da Icesa corresponde à realidade?O estigma deve-se ao elevado número de pessoas que lá estão concentradas. Existem ali grandes diferenças, muitas culturas e há ali um grande choque. A crise vai piorar a situação?As pessoas não tendo trabalho e não tendo dinheiro fazem outras coisas que se calhar não devem. Com a crise a agudizar-se a criminalidade tem tendência para aumentar. Vialonga é a freguesia mais trabalhosa de todo o destacamento?Sim, mas a Castanheira tem tido um grande crescimento populacional o que também se tem reflectido em termos de criminalidade. No que diz respeito aos crimes contra o património passámos de 148 casos em 2010 para 223 em 2011. Aqui já não se trata de roubo por esticão mas de furtos no interior de residências. Como justifica este fenómeno?Todo o ambiente socio-económico que temos vivido, propicia esta situação. É uma freguesia em crescimento. Cada vez há mais pessoas e consequentemente mais crimes. Registamos furtos a residências mas também a gasóleo de veículos pesados, cobre e sucata. Qual foi a situação que mais a chocou?Há situações que nos tocam sobretudo quando envolvem crianças. Há pais que não têm condições e ficam sem as suas crianças. Sempre que isso acontece é triste. A Guarda é chamada para acompanhar as técnicas quando é necessário institucionalizar uma criança. Às vezes não são questões de violência. Pode ser um pai ou mãe que vai trabalhar e deixa os filhos sozinhos em casa ou que não tem condições de o alimentar. É capaz de compreender, pondo-se num lugar de pai ou mãe de família, alguém que entra num supermercado para roubar alimentos?Todos os guardas antes de serem guardas são pessoas. Como pessoa, e não como comandante da GNR, compreendo. Deve ser aflitivo ter filhos e não ter como alimentá-los. Uma mãe se não tiver comida de certeza que vai roubar para não deixar os filhos morrer à fome. A criminalidade é acentuada por estas questões. No Bairro da Icesa, em Vialonga, por exemplo, existem muitas situações identificadas e daí haver tantas associações de apoio. Da carência surge tudo o resto. Posto móvel precisa-se para circular nas freguesias ruraisUm posto móvel, que circule pelas três freguesias mais distantes servidas pela GNR da Castanheira do Ribatejo, no concelho de Vila Franca de Xira, é um projecto que aquela força de segurança está a tentar implementar com o apoio das juntas de freguesias. Em Vialonga e Castanheira do Ribatejo existem postos da GNR, mas Calhandriz, Cachoeiras e São João dos Montes (freguesias patrulhadas por militares do posto da Castanheira) não têm espaço de atendimento. A ideia é que o posto móvel, que seria fornecido pelas autarquias e caracterizado pela GNR, pudesse rodar pelas três freguesias e ter um operacional que registasse as queixas sem obrigar os munícipes a deslocarem-se a grandes distâncias.Um posto móvel de Lisboa já passou pelas freguesias a título experimental. “Percebemos que seria um projecto muito positivo para aquelas freguesias. Falta arranjar um posto móvel e colocá-lo a funcionar”, admite a comandante de destacamento Ana Isa Oliveira. “Há poucos transportes públicos e em vez de irem ao posto da GNR da Castanheira as pessoas de Calhandriz, por exemplo, preferem ir à PSP de Alhandra que é mais perto”, ilustra. Apesar de serem freguesias pouco populosas a comandante salienta que é importante que a GNR lá passe para que as pessoas sintam que não estão esquecidas. A divisão geográfica não facilita o trabalho da GNR que para chegar mais depressa a algumas freguesias tem que passar pela área da PSP. “Há freguesias que distam 20 quilómetros do posto sede. Para chegar a Calhandriz, por exemplo, temos que atravessar a área da PSP e ir por Alhandra. A distribuição não é, na minha óptica, a ideal”.Uma mulher que comanda mais de 200 militares da GNRTem 27 anos, é tenente de infantaria e comanda desde o dia 5 de Setembro o Destacamento da GNR de Vila Franca de Xira. Ana Isa Oliveira, mãe de Carolina, de dois anos, é casada com um militar da Guarda. A patente do marido é inferior mas as questões profissionais não interferem com a vida do casal, que reside em Lisboa, admite a comandante com bom humor. “Muitas vezes quando sou chamada durante a noite é o marido que fica com a nossa filha. Quando ele está a trabalhar também tenho a sorte de ter os meus pais a morar perto”, explica. A experiência no comando de um destacamento não é nova para Ana Isa Oliveira que já esteve à frente da mesma estrutura em Alenquer e Mafra. Já tinha ocupado também o cargo de adjunta em Vila Franca de Xira e por isso conhece o território.Formou-se na academia militar na Amadora. A ideia era tentar a medicina mas acabou rendida ao rigor e disciplina das ciências militares. Concorda que as militares da Guarda não possam usar unhas compridas e vermelhas porque há a imagem da instituição a respeitar. Para Ana Isa Oliveira comandar não é só dar ordens. “Se queremos melhorar o sítio onde estamos a trabalhar temos que ter conhecimento do que se passa, detectar o que está mal e tentar implementar medidas de controlo e supervisão para melhorar o trabalho”, garante quem chegou e arregaçou mangas. Quer saber onde estão os problemas para direccionar o patrulhamento para os sítios certos e, para isso, conta com os comandantes de posto. Como comandante de destacamento é sobretudo gestora de recursos humanos. Está contactável 24 horas por dia porque um militar da GNR tem o dever da disponibilidade permanente. Um comandante tem esse peso redobrado e os dias de folga não são previsíveis. Não leva o trabalho para casa mas muitas vezes o trabalho acompanha-a. “Quando o banco explodiu em Vialonga eu estava a substituir o comandante e ligaram-me a meio da noite. Era uma situação inédita. Nunca se tinha visto nada assim”, recorda. Comanda um destacamento com um total de 244 militares, dos quais apenas 12 são mulheres. Além de cinco freguesias do concelho de Vila Franca de Xira o destacamento inclui ainda o concelho de Arruda dos Vinhos e algumas freguesias do concelho de Loures. O aeroporto e o Ministério das Finanças também dependem do destacamento mas a missão é distinta. Desvaloriza o facto de ser uma mulher a comandar homens. O cenário já não é novidade. “Já ninguém me encara como uma coisa estranha. Olham para mim como comandante e não como mulher”.A exigência da profissão faz com que atrase por vezes os afazeres domésticos e acumule duas máquinas de roupa por passar. Fora das paredes do quartel gosta de levar a filha ao parque e praticar desporto. Aproveita para soltar o cabelo, que anda apanhado sem tocar no colarinho, e dá atenção àquilo que veste. Uma militar da GNR não tem que ser menos feminina por usar uma farda, garante.Criminalidade aumentou e número de militares também A criminalidade geral na área da GNR no concelho de Vila Franca de Xira tem aumentado nos últimos três anos. Em 2011 foram registadas 904 ocorrências, mais do que em 2010 (892) e 2009 (851). A freguesia de Vialonga é que regista maior criminalidade (554). O aumento é potenciado também pelo elevado índice de crimes contra o património registado na freguesia da Castanheira do Ribatejo no último ano (223). As freguesias de São João dos Montes, Cachoeiras e Calhandriz, também da área da GNR, apresentam números residuais.Numa altura em que enfrenta um aumento da criminalidade o destacamento da GNR de Vila Franca viu já este ano reforçado o contingente. O posto da Castanheira do Ribatejo, que serve quatro freguesias, funciona agora com 29 militares. Vialonga funciona com 36 militares. No total o destacamento, com sede em Vialonga, envolve 244 militares.

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