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Se fizermos bem o nosso trabalho estamos a ajudar o país a ultrapassar a crise

Pedro Nunes, director executivo da Risa e presidente do Clube Business Angels de Santarém, diz que é optimista e que acredita em Portugal

É director executivo da Risa e presidente do Clube Business Angels de Santarém. Apaixonado pelo trabalho de consultoria confessa que não está nos seus planos criar qualquer empresa. Aconselha as pessoas a concentrarem-se no seu trabalho e a deixarem as questões estruturais para os decisores políticos. Elogia uma nova geração de jovens empreendedores e diz que Portugal tem futuro.

Considera-se um homem de sucesso? Considero-me uma pessoa feliz.O que foi fundamental para o seu percurso, para além da formação, que muitos jovens que não tiveram sucesso também tinham?Penso que foi a paixão que coloco naquilo que faço. Eu gosto muito do que faço. Felizmente consegui encontrar uma carreira profissional que tem muito a ver comigo e com a minha forma de estar. Isso ajuda imenso. A paixão e o gosto pelo que faço todos os dias têm sido fundamentais.Muitos jovens acabam a universidade e entram numa empresa dizendo desde logo que não aceitam menos que serem presidentes do conselho de administração.Não foi o meu caso. Para quem está a começar acho que é fundamental ter humildade e vontade de aprender e de vencer. Para vingar hoje em dia é necessário ter muita força. Muito empenho. Anda há anos e anos a ajudar outros a lançarem os seus negócios e a ir buscar apoios. Tem alguma empresa sua? Eu gosto muito do que faço e continuo apaixonado pelo que faço, por isso não quero alterar. Quero desenvolver o meu trabalho nesta área.Quer ser uma espécie de Mourinho da área empresarial? Ele é um bom treinador mas como jogador nunca foi brilhante.O meu objectivo é fazer sempre mais e melhor na minha área de actividade. Uma boa ideia vale sempre milhões? Quantos milhares de excelentes ideias ficam diariamente pelo caminho? Nem sempre uma boa ideia dá um bom negócio. Por vezes uma ideia que não é tão brilhante dá um bom negócio. Quando vou falar com jovens que estão a terminar os seus cursos. Coisa que faço com muito prazer em Universidades e Politécnicos, noventa por cento das minhas intervenções são a falar de exemplos.E dá os exemplos do facebook, google...Claro que os exemplos internacionais são os mais conhecidos mas também falo dos exemplos nacionais e regionais. Temos muitos casos de sucesso de ideias de negócios que correram bem. Que são hoje um sucesso. É lógico que a dimensão de Portugal não se compara à dimensão dos Estados Unidos, por exemplo.Porque é que uma excelente ideia pode ser um fracasso e uma ideia menos boa um sucesso? Por vezes quem faz a diferença é quem tem a ideia e não a ideia em si. A forma como a pessoa agarra na ideia e a consegue fazer vingar. Nós temos exemplos interessantíssimos. Um deles é o projecto dos hambúrgueres h3. Um grupo de jovens portugueses lançou um novo conceito de hambúrguer décadas depois dos hambúrgueres terem sido lançados e teve sucesso. Ali o segredo não foi tanto a ideia mas a forma e a capacidade empresarial. Eles colocaram dentro de uma ideia base factores que os pudessem diferenciar dos outros e onde pudessem sustentar a sua competitividade.Depois desta entrevista vai para uma reunião mas agora está sem gravata. Tem uma colecção de gravatas no carro e vai escolher uma a seguir? Deixei de usar gravata há cerca de quatro anos porque tive um problema na cervical e os médicos recomendaram-me que não usasse. Mas eu sou uma pessoa formal, reconheço, embora sem exageros. Nos outros países a farda dos executivos e dos homem de negócios também é o fato e a gravata.É verdade. Mas em Portugal somos muito mais formais que nos restantes países da Europa, embora note que já se começam a fazer sentir algumas mudanças. Há alguns anos, em congressos europeus, era fácil identificar os portugueses porque eram dos poucos que usavam gravata. Esta actividade tem uma linguagem própria como em todas as actividades mas calculo que, muitas vezes, principalmente em Portugal, tenha que lidar com clientes que não estão familiarizados com o jargão do “economês”. Leva intérprete para a tradução simultânea?Adapto-me às pessoas com quem estou a falar. Isso acontece em todas as profissões. Se estou a falar com representantes de uma empresa que valorizam a linguagem técnica falo de uma maneira mas se encontro um cliente mais pragmático e directo, adapto-me. Para mim é fácil.A sua actividade obriga-o a ter um ar permanentemente optimista ou é mesmo optimista?Sou muito optimista.Mesmo agora que tudo arde, como diria o António Lobo Antunes? Procuro ter sempre uma atitude positiva na vida e nos negócios. Nós temos que fazer bem ou muito bem a nossa parte. Aquilo que nos compete fazer. Se o fizermos estamos a ajudar o país a ultrapassar a actual situação. Não vale a pena perdermos muito tempo a olhar para os problemas estruturais porque não podemos fazer muito para os resolver. Isso cabe aos responsáveis políticos e esperemos que eles consigam fazer o seu trabalho. Nós fazemos o nosso.Continua a ler livros de economia ou quanto mais lê mais baralhado fica?Esporadicamente leio. Mas as minhas leituras são mais de lazer. Leio livros de economia apenas para me pôr a par das novas tendências. Para me actualizar. Mas entre um livro do Ken Follett (escritor britânico autor de livros como Os Pilares da Terra) ou do Michael Porter (professor norte-americano autor de vários livros sobre diversos livros sobre estratégias de competitividade), prefiro o primeiro.Sem stress Diz que não vive stressado e que consegue arranjar tempo para a família e para os amigos. Pedro Nunes, director executivo da Risa, empresa onde fez quase todo o seu percurso profissional, e presidente do clube Business Angels de Santarém diz que o segredo é gostar muito daquilo que faz.Natural de Santarém, foi naquela cidade que passou a infância e a adolescência. Afirma que sempre se interessou pelo mundo dos negócios e das empresas. O pai, que tinha um negócio, nem sequer o incentivou. Antes pelo contrário. Até insistiu com ele para ir tirar um curso de engenharia. Não lhe fez a vontade e tirou Gestão de Empresas. Tem dois filhos. O Afonso de 12 anos e o Tiago de 15. O outro pilar da família é a esposa Paula. Residem em Minde mas Pedro Nunes continua a ter amigos de infância na sua terra Natal. Diz que tem muito orgulho em ser Ribatejano e revê-se na ousadia e coragem do homem da lezíria. No último ano da universidade aceitou o convite de um professor para trabalhar em part-time numa empresa que ele acompanhava. Quando terminou o curso conseguiu muito rapidamente consegui iniciar a sua carreira profissional. “Nessa altura não havia muita gente licenciada em gestão de empresas e havia uma grande dinâmica empresarial. Era relativamente fácil encontrar caminhos profissionais. Infelizmente a realidade hoje é bastante diferente”, conta. A maior dificuldade que encontrou quando entrou no mundo do trabalho foi o nível de exigência imposto aos “doutores”. “Embora hoje a licenciatura seja um nível de habilitações bastante comum, quando eu terminei o curso não havia, de facto, muita gente licenciada nas empresas e quando se era doutor as pessoas criavam-nos um nível de exigência elevado. Esse choque de não se ter experiência e de se ter logo um nível de exigência elevado foi a primeira dificuldade. Obrigou-me a amadurecer do ponto de vista profissional de uma forma muito rápida. Tive colegas que não aguentaram a pressão e que optaram por entrar na via do ensino onde a situação era um pouco mais confortável”, explica.“O mundo dos negócios não se compadece com ingenuidades”Antigamente dizia-se às crianças que os bebés vinham de Paris. No mundo dos negócios vem tudo da América?Na área empresarial é normal que os países onde a vertente dos negócios está mais desenvolvida influenciem os restantes e sejam pioneiros em muitas coisas. Temos sido bons alunos?Felizmente em Portugal notamos que existe uma massa crítica jovem que está a emergir com muita vontade; com muitas ideias; com muita ambição e com uma forma bastante diferente de encarar o mundo dos negócios. Com uma visão global dos negócios. Tenho testemunhado isso na minha actividade recente na Business Angels e na área de inovação da própria Risa. Existe em Portugal muita gente jovem com capacidade técnica e esta gente pode dar um contributo muito importante para o nosso futuro. Acredito muito em Portugal e acredito muito nestas novas gerações.É presidente do Clube Business Angels de Santarém. Um clube com um nome que em português significa algo como Anjos dos Negócios. Ainda há anjos nos negócios? É verdade que o mundo empresarial de hoje é caracterizado por um elevado nível de competitividade e não se compadece com comportamentos demasiado inocentes. Quanto ao Business Angels, acho que o inglesismo é bastante feliz porque, efectivamente, o objectivo da organização é funcionar como uma espécie de anjo protector. Não o anjo protector no sentido da inocência mas aquele que vai tentar transmitir conhecimento e dar alguma protecção a quem se quer lançar no mundo empresarial e não tem experiência. Pelo que diz ainda há muita ingenuidade à solta entre aqueles que sonham ter um negócio.Muitas pessoas têm conhecimentos técnicos, dinâmica, vontade, boas ideias e boas perspectivas de negócio. O Clube Business Angels tenta evitar que esse novo empresário cometa os erros básicos de quem entra no mundo dos negócios. Quando juntamos a nossa experiência empresarial a este tipo de pessoas conseguimos que o seu percurso seja mais objectivo mas quem se dirige a um clube de Business Angels deve levar uma ideia bem estruturada. Tem que ter o trabalho de base já feito. Muita coisa tem sido feita para facilitar a entrada no mundo dos negócios. Qual é o balanço?Nos últimos anos temos vindo a assistir a um crescimento e a um reconhecimento da importância do empreendedorismo no desenvolvimento das economias em geral e da inovação dos negócios em particular. O que se tem feito em Portugal a esse nível nos últimos quatro ou cinco anos tem sido um trabalho excelente e todo ele complementar. Hoje em dia, quem se queira lançar num negócio encontra um ambiente muito mais favorável, que pode ajudar a que o negócio tenha sucesso.É por isso que há cada vez mais empresas?No passado era muito penoso criar uma empresa. Era muito penoso lançar uma empresa no mercado. Hoje em dia existe um conjunto de instrumentos que se for bem potenciado pode facilitar imenso a vida de quem quer criar um novo negócio.E esses programas de incentivo às empresas funcionam?Nada é perfeito mas nós em Portugal temos incentivos às empresas há mais de vinte anos e temos evoluído imenso. Quando as pessoas lançam os programas lançam-nos com o objectivo de ajudar e temos hoje um conjunto de programas que funcionam bem. Vamos ser um país de empresários?Nós tivemos no passado um modelo empresarial que era muito caracterizado por empresas de alguma dimensão. A grande estratégia de criação de emprego era feita pelos grandes projectos. Mas esse tipo de projectos não aparece todos os dias e é preciso encontrar alternativas. E uma das alternativas mais importantes e com maior potencial é a aposta no empreendedorismo. É o surgimento de novos negócios. Muitos pequenos negócios a criarem 3,4,5 postos de trabalho cada um, podem ter ainda maior impacto na economia do que um grande projecto estruturante. E a probabilidade desses pequenos negócios, todos em conjunto, saírem do país, como acontece regularmente com as grandes empresas, é mínima. Mas há o reverso da medalha, a taxa de mortalidade infantil das nossas empresas é elevadíssima.Eu costumo usar a expressão Vale da Morte para designar os primeiros meses de vida de uma empresa ou de lançamento de um novo negócio. A percentagem dos que conseguem vingar, infelizmente é baixa. Isso deve-se a quê?A muitos factores. Quando uma empresa se está a lançar as suas debilidades são enormes e quando há factores externos que influenciam negativamente este negócio, qualquer abanão é suficiente para deitar a empresa abaixo. Mas não há um factor determinante. São muitos. As empresas de capital de risco arriscam?Todos os actores que trabalham na área do empreendedorismo têm o seu papel. E complementam-se. Os Business Angels aparecem por causa de uma falha de mercado relativa aos projectos que estão numa fase embrionária e que, por esse motivo, não são normalmente acolhidos pelos instrumentos financeiros existentes. Não é fácil a uma estrutura decisória ter a coragem de arriscar nos projectos onde nós arriscamos. As empresas de capital de risco estão vocacionadas para uma fase posterior à fase de arranque.Na fase de arranque...Aplica-se o conceito dos três éfes. “Family, friends and fools” (família, amigos e malucos). Começam com dinheiro da família, dos amigos e daqueles que são suficientemente loucos para arriscar. Depois de se implementarem podem recorrer a uma empresa de capital de risco. Em vinte anos a Risa conseguiu 600 milhões de euros para os seus clientesÉ director executivo da Risa, uma empresa de consultoria de gestão e informática que presta apoio a PME e que é especialista em candidaturas a Fundos Comunitários. Quantos milhões de euros é que a sua empresa já conseguiu trazer para esta região em termos de investimento?Recentemente fizemos um levantamento estatístico e apurámos que nos cerca de vinte anos de actividade a empresa apresentou um volume de candidaturas de investimento superior a 1,2 mil milhões de euros, tendo conseguido angariar para os nossos clientes cerca de 600 milhões de euros de incentivos. É claro que o trabalho da Risa não se resume a esta região mas a maior parte dos nossos clientes é daqui. Têm tido problemas com as candidaturas ao QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional)? O QREN é um instrumento financeiro de utilização em Portugal dos fundos comunitários. Estamos a falar de dinheiro. De muito dinheiro. Quem aplica os fundos tem que ser exigente porque não se pode correr o risco de os fundos, que são escassos, serem mal aplicados. Tem que haver exigência e algum grau de complexidade. Na Risa já entregámos mais de mil candidaturas a fundos comunitários desde 1989. No início a elaboração de uma candidatura e o formalismo eram muito exigentes e era difícil sustentar prazos tão grandes de decisão. Neste momento não. O concurso é publicado. O prazo de decisão é comunicado, normalmente ronda dois meses ou dois meses e meio e geralmente é cumprido.

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