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O meu terceiro rio

João Calhaz *

Com o pôr do sol a aproximar-se e a necessidade de luz para se ver o tortuoso caminho e tirar fotografias às lagoas cheias de porcaria, foi um autêntico contra-relógio pelo meio do mato, monte acima e monte abaixo, na companhia do voluntarioso Firmino, que pelo caminho não parava de se queixar dos malandros que lhe destruíam o rio

Recordo-me que muito antes de conhecer Pernes e Vaqueiros já ouvia falar dessas localidades do concelho de Santarém pelos boicotes eleitorais no pós-25 de Abril devido à poluição no Alviela. Muitos anos depois viria a conhecer o problema de perto como jornalista encartado de O MIRANTE e dei conta da militância ambiental que fervilhava nessas povoações ribeirinhas que apenas queriam (e continuam a querer) usufruir do seu rio sem constrangimentos.Foi com Firmino Oliveira, o dinâmico e irredutível presidente da Junta de Freguesia de Vaqueiros, e com Fernando Esteves, um empenhado activista da CLAPA de Pernes, que fiquei a saber muito sobre um problema gravíssimo e disso fui dando conta nas páginas de O MIRANTE. Eu que nasci perto do Tejo e do Zêzere adoptei quase inconscientemente o Alviela como o meu terceiro rio. O que até faz sentido. Afinal de contas as águas dos três encontram-se todas perto de Santarém e daí seguem rumo ao mesmo destino.Nessa missão pela denúncia dos abusos ambientais que afectaram (e ainda vão afectando) aquele e outros cursos de água, como o Almonda, não esqueço a visita semiclandestina a uma suinicultura situada na margem direita do Alviela, no topo de uma colina defronte de Vaqueiros, suspeita de despejar os esgotos não tratados no rio. Com o pôr do sol a aproximar-se e a necessidade de luz para se ver o tortuoso caminho e tirar fotografias às lagoas cheias de porcaria, foi um autêntico contra-relógio pelo meio do mato, monte acima e monte abaixo, na companhia do voluntarioso Firmino, que pelo caminho não parava de se queixar dos malandros que lhe destruíam o rio. Já lá vão seguramente dez anos e Firmino continua a reclamar regularmente, o que é mau sinal.Foi uma autêntica reportagem todo-o terreno que me deixou saudades. Como algumas outras. Quando o que se relata nos toca, as palavras saem com mais fluidez e pontaria. Há uma eterna discussão na classe sobre o chamado jornalismo de causas. Há quem defenda que abraçando-se uma causa se perde a objectividade, a imparcialidade, a distância na análise. Pois bem, nesta e noutras questões, o meu jornalismo é de causas. Sem falsos pudores nem meias palavras. Contra o país feudal e medieval, contra os abusos dos poderes instituídos ou subterrâneos, contra as injustiças e arbitrariedades tenho orgulho de dar a cara e as palavras impressas. * Jornalista. Chefe de redacção de O MIRANTE

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