Do alto dos seus 81 anos, Manuel Branco sai todos os dias da sua casa em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, para pôr o seu rebanho de 43 cabras a pastar. É numa manhã de sol tímido que o encontramos nos terrenos da Urbanização da Quinta da Flamenga, com os prédios a servir de moldura. Traz consigo um pequeno cão branco, baptizado de “macaco”, que não ajuda muito a pôr ordem no rebanho. Tem de ser o próprio pastor a correr incansavelmente de um lado para o outro. Sempre de olho posto nas cabras, interrompe várias vezes a conversa para ir buscar as mais afoitas. Num saco de plástico azul traz a marmita com a comida suficiente para aguentar o dia de trabalho. Duas sandes, dois iogurtes, uma banana e uvas. Todas as cabras estão registados e quando perguntamos porque não tem ovelhas responde simplesmente que sempre gostou mais de cabras. Em casa tem ainda 24 cabritos. Em 2008, o pastor envolveu-se numa luta acérrima com o proprietário do terreno onde deixa as suas cabras. Rendeiro há mais de 50 anos do terreno, viu-se confrontado com a vontade do dono de construir no local um prédio de habitação. Manuel Branco chegou a pedir 150 mil euros de indemnização para sair, pedido sempre recusado pelo proprietário. O caso chegou a tribunal e o pastor refere agora que continua a depositar mensalmente o valor da renda. Ninguém o voltou a chatear, assegura. Tem planos para continuar a pastar o seu rebanho de cabras pelas terras de Vialonga por mais um ano ou dois, antes de arrumar o cajado. Impaciente, o senhor Branco, como é tratado pela vizinhança, despacha rapidamente a conversa porque já tem cabras tresmalhadas. Volta a reunir o rebanho, dá um aceno de adeus, e dirige-se para a variante de Vialonga. Os carros passam a alta velocidade, mas as cabras só atravessam a estrada depois da ordem do pastor. Eduarda Sousa