Carolina, Sérgio e João envergam roupa muito semelhante. Calças escuras e camisa aos quadrados brancos e pretos. Minutos antes do início do concerto na igreja matriz de Salvaterra de Magos, na tarde de domingo, 8 de Janeiro, preparam os últimos pormenores para que nada falhe. Os instrumentos estão alinhados perto do órgão de tubos da igreja a jeito de serem tocados a qualquer altura. O concerto começou com a actuação de Ana Elias, professora da escola e carrilhonista. Depois são eles que acompanham a professora no espectáculo. Os três jovens, com idades entre os 13 e os 16 anos, integram a Escola de Música do CICO (Centro Internacional do Carrilhão e do Órgão) que começou as aulas em Outubro de 2010. Em comum têm a paixão pela música. Quando crescerem todos querem estar ligados à música. Carolina Velo, 13 anos, está na escola há cerca de um ano. Toca guitarra, piano, órgão e recentemente começou a aprender a tocar bateria. Sempre teve o ‘bichinho’ da música e está a adorar descobrir as músicas renascentistas. Sérgio Calado, 15 anos, começou por tocar flauta mas descobriu a sua vocação’ ao dedilhar as cordas da guitarra. Nunca mais largou o instrumento. João Medroa, 16 anos, quis perceber se aquilo que diziam dele, que tinha ouvido para a música, era verdade e decidiu inscrever-se na escola. A experiência tem sido enriquecedora e, envergonhado, lá confessa que realmente tem jeito para as melodias.A escola conta actualmente com quatro alunos mas em breve vão juntar-se mais dois. O padre de Constância disponibilizou a casa paroquial onde funcionam as aulas de música. Órgão, piano, guitarra e baterias são alguns dos instrumentos que se podem aprender a tocar no CICO duas vezes por semana. Como estão sedeados em Constância - vila onde se diz que viveu Luís de Camões - também aprendem a tocar instrumentos tradicionais, a maioria de percussão, muito utilizados nas danças renascentistas.Escola oficial de carrilhão não está esquecidaO nascimento da escola de música foi um “parto” difícil de acontecer mas com muita luta e persistência viu finalmente a luz do dia. Da ideia inicial deste projecto faz parte a criação da primeira escola oficial de carrilhão da Península Ibérica. Um projecto que não está esquecido mas que neste momento precisa de “muitos” patrocínios para avançar. “Continuamos com esperança que vamos conseguir mas temos noção que neste momento é difícil. Começamos pelo mais fácil que é a criação da escola de música mas não desistimos do nosso principal objectivo: a escola de carrilhão”, salienta Ana Elias antes do concerto.A ideia dos mentores do projecto, Alberto Elias, engenheiro e presidente do CICO, e as suas duas filhas, Ana Elias e Sara Elias, com mestrados em carrilhão agregados ao ensino, é “abrir em Portugal o acesso à aprendizagem” daquele instrumento musical, criando “a primeira escola oficial de ensino do carrilhão na Península Ibérica”. “No mundo existem apenas quatro escolas de carrilhão e Portugal tem condições climatéricas muito favoráveis para ficar polvilhado de carrilhões, fixos e itinerantes, com uma escola de nível secundário e com intercâmbios e mestrados, ao nível do ensino superior”, diz Ana Elias, 35 anos.Quando estiver concluído, o «Lusitanus» vai pesar 12 toneladas e medir seis metros de comprimento por três de altura, sendo o 15º carrilhão itinerante existente a nível mundial. A ideia começou a ganhar forma após o trio apresentar a ideia ao Prémio Milénio, em 2004, um concurso de projectos inovadores promovido pelo jornal Expresso em parceria com a Sagres, e ter obtido o primeiro lugar e o prémio monetário correspondente para apoio à sua concretização, no valor de 50 mil euros.