
Encerramento anunciado da fábrica da Unicer em Santarém deixa trabalhadores em choque
Empresa garante emprego em Leça do Balio apenas a 60 dos 133 colaboradores afectados
Para os trabalhadores que negoceiem a sua saída da Unicer até 2013 foi criado um gabinete que irá disponibilizar toda a informação e apoio.
Os trabalhadores da Unicer de Santarém vão reunir esta quinta-feira, 19 de Janeiro, em plenário, para debater a decisão da empresa de encerrar a unidade de produção de cerveja na cidade em Março de 2013, depois de reunião informal que tiveram ao início da noite de sexta-feira.Segundo Carlos Pimenta, da comissão de trabalhadores da fábrica de Santarém, a comunicação do encerramento foi uma “surpresa e um choque” para todos, apenas conhecida meia-hora antes da reunião, realizada às 16h00 de quinta-feira, 12 de Janeiro.A Unicer anunciou o fecho da sua unidade de produção de cervejas em Santarém em Março de 2013, na sequência de um processo de reorganização industrial que supõe um investimento de 80 milhões de euros na unidade de Leça do Balio na produção e enchimento de cerveja. Dos 210 trabalhadores da fábrica de Santarém, 80 vão ficar depois de Março de 2013 em Santarém para assegurar o funcionamento da plataforma logística e distribuição nas instalações e a produção de refrigerantes. A Unicer estima disponibilizar 60 lugares na unidade de produção de cerveja do norte para os quais se podem candidatar 133 trabalhadores afectados com o anunciado encerramento da unidade de produção de Santarém.Carlos Pimenta considera muito difícil o quadro apresentado a quem se queira candidatar a ir trabalhar pela Leça do Balio. “Vai ser muito difícil para as famílias dos trabalhadores. Um trabalhador com dez anos de casa ganha 900 a mil euros e só vai contar com 15 meses de subsídio à deslocação caso aceite ir para a fabrica de Leça”, explica o membro de comissão de trabalhadores.Os quadros da Unicer da fábrica da Santarém foram convocados para reunião às 16h00 de quinta-feira, 12 de Janeiro, na qual o presidente da comissão executiva da empresa, António Pires de Lima, comunicou as medidas tomadas.Para os trabalhadores que negoceiem a sua saída da Unicer até 2013, foi criado um gabinete que ira disponibilizar toda a informação e apoio. Segundo Joana Queiroz Ribeiro, directora de Pessoas e Comunicação do Grupo Unicer, a empresa vai ter um programa de apoio que integra uma compensação acima da definida legalmente e um prémio de produção e formação focados na empregabilidade. Estará em cima da mesa uma proposta de indemnização de 1,25 salários por ano de trabalho, apoio a formação profissional de 1.300 euros para aumentar a empregabilidade de quem optar por sair e um ano de seguro de saúde a cada colaborador nessas condições. Para quem apostar numa via de auto-empregabilidade a empresa contratada para gerir o gabinete vai ajudar essas pessoas a criarem o seu plano de negócio. Para os trabalhadores que se candidatem aos lugares disponíveis em Leça do Balio a empresa está disposta a atribuir um subsídio de deslocação durante 15 meses.“Temos já criado um gabinete onde, individualmente, vamos poder falar com as pessoas, tirar dúvidas e gostaríamos muito de ajudar essas pessoas a definir um plano para desenhar o seu futuro e ajudá-las”, refere Joana Queiroz Ribeiro. Proximidade ao porto de Leixões decisivaA decisão da empresa de consolidar o processo de produção de cerveja em Leça do Balio baseia-se em dois factores: um investimento mais barato a norte do que na fábrica de Santarém e a proximidade ao porto de Leixões, a partir de onde o grupo exporta grande parte da produção. A Unicer aposta na continuação do crescimento das exportações para países do mercado lusófono como Angola, Guiné-Bissau e Cabo-Verde, pretende consolidar as suas vendas em França, Luxemburgo, Suíça e Alemanha e crescer em mercados como o Brasil, Estados Unidos e Canadá com as marcas Super Bock e Pedras Salgadas.O MIRANTE contactou a empresa de prestação de serviços Leta para saber quantos trabalhadores que operam na Unicer são afectados com a decisão mas não recebeu qualquer comentário até ao fecho desta edição.UGT reage ao encerramento Em comunicado, a UGT Santarém refere que foi com “choque e enorme preocupação” que inesperadamente recebeu a notícia do encerramento da fábrica da Unicer em Santarém, numa região já castigada pelo desemprego e por salários em atraso. “Esperamos que este não seja um sinal de mais dificuldades para a nossa região, numa altura em que os trabalhadores são confrontados com cada vez mais austeridade”, afirma-se na nota.Moita Flores triste, chocado e decepcionadoO presidente da Câmara Municipal de Santarém disse estar “em choque” perante a decisão anunciada pela Unicer de encerrar, em Março de 2013, a unidade de produção de cerveja instalada no concelho.“Acabo de saber de uma forma que me deixa chocado, triste, decepcionado, desta decisão, que terá todos os seus critérios de gestão bem definidos e bem claros, mas é um choque para o concelho de Santarém”, disse Francisco Moita Flores, no final de uma reunião com o presidente da Unicer.Moita Flores disse estar ainda “a digerir” a informação que lhe foi transmitida por Pires de Lima, sublinhando que as “duas primeiras palavras” que lhe vieram à mente foi “choque e decepção”.O autarca disse ter sido informado de que se manterá em Santarém a produção de refrigerantes e a unidade de logística da empresa, representando a decisão anunciada “uma quebra de emprego de 50 por cento”.Moita Flores afirmou que a autarquia “sempre fez tudo” e “nunca dificultou nada” à empresa, sublinhando que as justificações avançadas pela Unicer “não têm a ver com a crise, apenas com critérios internos de gestão”.Segundo disse, manifestou a Pires de Lima o seu “profundo desagrado” pela forma “inopinada” como foi “apanhado por esta decisão, que é traumática” e que “desagrada e entristece profundamente”.“Há um desprezo pela condição humana e social”Promotor e fundador da COPEJA - Companhia Portuguesa de Cerveja que se instalou em Santarém a partir de 1971, com a produção da marca Clok, empresa que com a Imperial e a CUFP, se viriam a fundir na Unicer - União Cervejeira, Albertino Pisca Eugénio, que pertenceu ao conselho de gerência e foi director fabril da Unicer, confessa que ficou “estupefacto” com a decisão da Unicer de encerrar a produção de cerveja em Santarém e considera que a empresa não prestou um bom serviço ao país.Dizendo não compreender como se fala em relançar e economia em 2013 e, ao mesmo tempo, se encerra uma unidade de produção com capacidade construída, Pisca Eugénio lembra que se deixa de lado a matéria mais importante para fabricar cerveja - a água - “da qual os terrenos da unidade são riquíssimos”.“Esta decisão pode ter uma influência negativa sobre a marca com que se identifica a empresa, como é a Super Bock, por potenciais consumidores de Santarém em relação a uma marca que teve aqui o seu património, o vai deixar de ter e deixar de apoiar instituições e a participação na sociedade civil”, comenta Pisca Eugénio.Os ex-director fabril e gerente da fábrica diz não perceber o que vão fazer os trabalhadores que saírem após a formação obtida, em tempos que se adivinham difíceis, e afirma que a decisão “desprezou a condição humana e social da região”.O também ex-autarca deixou ainda reparo para a posição assumida pelo presidente da Câmara de Santarém, Moita Flores. “Com todo o respeito, chocado e decepcionado qualquer um dirá que está. A Câmara de Santarém teria que ter uma palavra mais forte sobre esta matéria e sobre esta perda de influência no contexto nacional e no mundo da cerveja”, conclui.

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