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Memórias de Mário Viegas contadas por Pedro Barroso

Memórias de Mário Viegas contadas por Pedro Barroso

O cantor e compositor de Riachos foi o convidado de um convívio promovido pelo Centro Cultural Regional de Santarém.

“Como é possível existir, neste país, a memória viva de uma pessoa tão extraordinária e desaparecida há relativamente pouco tempo e não ser preservada e estimada. O Mário Viegas foi o actor maior da sua geração, era um monstro do teatro e Santarém tem que saber preservar o fórum Mário Viegas”. As palavras são do cantor, músico e compositor Pedro Barroso que ficou “admirado” ao saber que o Fórum Mário Viegas, onde está sedeado o Centro Cultural Regional (CCR) de Santarém, tem problemas para pagar a renda, luz e água. Pedro Barroso foi o artista convidado da “Conversa Convívio” organizada pelo CCR na noite de sexta-feira, 27 de Janeiro.O músico afirma que com os tempos “mais complicados” em que estamos a viver Mário Viegas estaria a ser “muito” útil para a sociedade portuguesa. Pedro Barroso foi amigo pessoal do actor escalabitano - que faleceu em 1996 - tendo-se conhecido no Teatro Experimental de Cascais. O compositor de Riachos (concelho de Torres Novas) recorda o amigo com saudade e refere que mesmo nos papéis menos difíceis Mário Viegas tinha a capacidade de subverter tudo e interpretar um “enorme papelão”.Pedro Barroso aproveitou a sessão para afirmar que Portugal precisa de um abanão e que existe necessidade de ousar. “Há necessidade de um novo pensamento, dêem-nos outro Portugal, dêem-nos outra gente, dêem-nos outra forma de estar na vida. É preciso ousar enfrentar este tecido que está podre. Há que o fazer em nome da cultura e dos artistas que Portugal tem e que não são respeitados”, criticou.A conversa com os espectadores que encheram o auditório do Fórum Mário Viegas foi salpicada com pequenos apontamentos musicais. À viola e ao piano. Pelas paredes do espaço quadros da exposição de Pedro Chora, nome artístico de Pedro Barroso para a pintura e desenho.O artista referiu que “ainda” existe muita censura, embora seja feita de modo diferente do que era no tempo da ditadura. “Se dizemos o que pensamos e os responsáveis das televisões não gostam nunca mais nos convidam para falar e aparecer. Isto é censura”, considera. Pedro Barroso aproveitou a oportunidade para revelar que em Fevereiro é lançado o seu novo CD intitulado “Canto da Paixão e da Revolta”.Confusão em palco no teatro da ChamuscaDurante a noite, Pedro Barroso recordou alguns episódios que passou com Mário Viegas e que lhe ficaram na memória. Um dos quais na noite em que foi actuar com Mário Viegas ao Cine-Teatro da Chamusca. O actor escalabitano, “que nem fumava”, decidiu que naquele poema que ia declamar tinha que ler e fumar. O pior foi quando apareceu um bombeiro que o avisou que não podia fumar no palco e mandou-o apagar o cigarro. Ordem que Mário Viegas não acatou.“Juntou-se ali um arraial monstruoso com muita gritaria. Decidimos correr a cortina e eu vou para o centro do palco e, para disfarçar, começo a tocar e cantar. Lá atrás eles discutiam e ouvia-se o barulho. Eu continuei sempre a cantar como se nada se passasse. No fim da música já os ânimos estavam mais serenos e tinham resolvido o conflito. O Mário conseguiu evitar uma situação complicada”, recorda bem-disposto.Pedro Barroso recordou ainda a ‘mania’ que o amigo tinha de achar que era médium. No final do teatro iam para casa de um dos colegas, onde ficavam sempre até tarde, e “às vezes” Mário Viegas levava um prato para demonstrar as suas capacidades mediúnicas. “Eu tinha que ser corrido da sala porque não tinha condições de concentração para aquelas brincadeiras dele. O Mário divertiu-se imenso com a vida dando-lhe vários coloridos”, concluiu.
Memórias de Mário Viegas contadas por Pedro Barroso

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