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Todas as turmas tinham uma “Bomba Atómica”

As horas ferem os nossos dias, os meses e os anos mas elas, as meninas, continuam a ser as mesmas raparigas de 1966, não se deixam envelhecer como nós com a chegada de mais um neto. Havia na minha Escola uma bomba, todos os Liceus e Escolas Técnicas tinham uma bomba atómica, expressão que restou dos tempos da guerra fria nos anos cinquenta e da memória da II Guerra Mundial. A nossa bomba chamava-se Cristina, era simpática, afável e discreta, sabia que era bonita (tinha espelhos em casa como todos nós) mas não abusava dessa beleza nem de ser uma rapariga deslumbrante que se distinguia de todas as outras no pátio e nas escadas da nossa Escola. As outras raparigas eram bonitas, muito bonitas (a Salomé, a Edite, a Ângela, a Marieta) mas a Cristina era especial, era a bomba e o seu nome era pronunciado como se fosse o princípio de uma oração à beleza e à harmonia do Mundo. Não era do nosso curso a Cristina, por isso não foi da minha turma em 1966. Ela foi aluna do Curso de Formação Feminina, faziam bolos e aprenderam a bordar, tinham Noções de Puericultura e de Economia Doméstica. Nós éramos do Curso Geral do Comércio, tínhamos aulas de Mercadorias, Direito Comercial, Contabilidade, Caligrafia, Técnica de Vendas e Publicidade. Com quinze anos de idade, saíamos da Escola Técnica preparados para começar a trabalhar. Nenhum de nós sabia como falar com a Cristina, a bomba atómica da nossa Escola. Tudo nela e nas outras raparigas de 1966 era um mistério. Ainda hoje nós somos velhos, feridos pelas horas e elas continuam a ser raparigas, as raparigas mais bonitas da nossa turma. As meninas, sempre meninas. Hoje como em 1966.José do Carmo Francisco

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