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“Quem me desse mais dinheiro mais meu amigo era”

“Quem me desse mais dinheiro mais meu amigo era”

Serralheiro de Vialonga passou por mais de uma dezena de empresas até se reformar

Nasceu em Belmonte mas é no concelho de Vila Franca de Xira que reside desde os 21 anos. António Costa fez a vida profissional como serralheiro e hoje dedica-se à Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Vialonga.

Quando um tio o convidou para abandonar Belmonte, na Beira Baixa, e se deslocar para Lisboa, António Costa não hesitou. Tinha 21 anos e a vida toda à sua frente. Era bom em desenho e mexia bem em serralharia. Tentou a sua sorte e venceu.António Costa, 75 anos, foi serralheiro em mais de uma dezena de oficinas e empresas do concelho e da região, entre elas a SodaPóvoa, Covina, Tecniobra e Mague, onde arranjou o seu primeiro trabalho a sério. Hoje dedica os tempos livres à Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Vialonga (ARPIV), no concelho de Vila Franca de Xira, onde faz parte da direcção.Em 1936, quando nasceu, Portugal era um país rural onde a fome fazia parte do quotidiano. Partilhava a mesa com cinco irmãos e o pai era ferreiro. “Tinha uma pequena oficina onde afiava picaretas e enxadas”, recorda a O MIRANTE. António Costa começou cedo a trabalhar na oficina do pai, a ajudar a despachar trabalho. “Era das 03h00 às 08h00 da manhã a trabalhar”, lamenta. Foi graças a um tio que a sua vida deu uma volta. Como se ajeitava como serralheiro o familiar lembrou-se de o trazer para a Mague de Alverca. A única condição era ignorar a política.“Se alguém te perguntar alguma coisa sobre o Salazar tu nunca sabes de nada”, avisou-me ele. Assim fiz. Tinha 21 anos quando entrei na Mague. Foi uma grande escola onde aprendi muito. Eu era barra em desenho e fui sempre progredindo. Completei a quarta classe em Alverca”, recorda.António Costa trabalhou três anos na Mague, na área da serralharia, nos tempos em que a empresa chegou a ser a maior do país na produção de gruas e outras peças industriais. “Mas corri todas as oficinas e empresas daqui porque quem me desse mais dinheiro mais amigo era. Eu não me dava mal com os patrões, mas se eu ganhasse 10 escudos e houvesse um outro a pagar-me mais 8 tostões eu mudava logo”, conta com um sorriso. Diz que antigamente havia trabalho “com fartura” e que não faltava gente a querer trabalhar. Hoje é que as pessoas não querem sujar as mãos, confessa. O fim das escolas industriais foi um erro, defende, porque acabaram com a formação em áreas importantes da construção e metalomecânica. “Trabalhei sempre como serralheiro e depois entrei na Somec onde estive 27 anos”, revela. A empresa começou lentamente a perder força no mercado e António Costa viu que era preciso tomar uma decisão. “Tinha 63 anos e havia dias em que estávamos na fábrica a produzir apenas biscates para nós próprios, como uns martelos ou umas chaves. Por isso cheguei a acordo com eles, deram-me uma indemnização e vim-me embora. Reformei-me e foi o melhor que fiz na vida”, confessa. Diz que nunca conheceu os patrões, apenas os encarregados de oficina. “Naquele tempo era assim”, lamenta.Actualmente passa os seus dias na ARPIV, onde integra os corpos sociais da associação. Às sextas-feiras toma conta do bar, um trabalho que vai alternando com os outros membros da direcção. “Mas não ganhamos nada”, ressalva. Diz que gosta de estar ocupado e que isso lhe faz bem à mente. Esteve durante 21 anos à frente do conselho pastoral de Vialonga e um dia até se chateou com o padre da freguesia. “Tínhamos personalidades muito idênticas”, conta. O padre abandonou Vialonga anos depois e hoje “está tudo bem”, garante António Costa. Diz que o que mais falta faz em Vialonga actualmente é um lar de idosos. “Temos o hospital da Flamenga a degradar-se e podia ser um bom sítio para instalar um lar com pés e cabeça”, conclui.
“Quem me desse mais dinheiro mais meu amigo era”

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