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“O país vai empobrecendo e não podemos enriquecê-lo com o discurso da ilusão”

Miguel Relvas tem sido corajoso na defesa das políticas do Governo

Corre todas as frentes de batalha dando o peito às balas dos opositores do governo. A sobreexposição mediática faz dele o alvo principal de todas as criticas mas ele sabe que a sua missão é fulcral. Sente-se que ao dar a cara pelos assuntos mais polémicos quer atrair sobre si todas as atenções, criando condições para que os restantes elementos do executivo se concentrem no seu trabalho.

Mudou de número de telemóvel quando tomou posse como ministro? Nunca mudei de número de telemóvel. As mudanças que possam ter acontecido com o meu número foram decorrentes de alterações de indicativos feitos pela operadora. E só tenho um número de telemóvel. Continua a dormir pouco? Entre cinco e seis horas. É suficiente. Quando foi a última vez que pegou num cigarro?Há seis anos. Por vezes tenho saudades mas se eu pegasse num cigarro nunca mais parava. Fujo disso! Uma das melhores coisas que fiz na vida foi ter deixado de fumar. Ainda tem tempo para ler? Leio. Principalmente relatórios (riso). Continuo a ler o que lia. Ensaios históricos...jornais, revistas, estas últimas no ipad bem como alguns jornais. Sente que as pessoas o olham de maneira diferente?Eu sou a mesma pessoa. Não me deixo iludir pela sacralização do poder. Procuro levar uma vida normal. Ainda hoje às 7 da manhã estava a entrar no ginásio. Falo com as mesmas pessoas que falava antes. Tenho mais responsabilidades mas tenho vida para além da política. Dá atenção ao seu índice de popularidade?Não. Não ligo muito a isso.O nome de dois amigos da política que tenha há muito tempo.Como O MIRANTE é do distrito de Santarém refiro dois de lá, o Octávio Oliveira (director do IEFP) e o Vasco Cunha (presidente da Comissão Distrital de Santarém do PSD e deputado). Mas tenho muitos outros amigos na política. Considera-se uma pessoa afortunada. Considero mas para se ter sorte na vida é preciso muito trabalho.Um pouco por todo o lado multiplicam-se as manifestações contra o encerramento de extensões de saúde e contra a falta de médicos. Não é sensível a isso?Temos que racionalizar. Não podemos multiplicar infra-estruturas. Temos que ter bons cuidados de saúde primários mas temos que racionalizar. Não é uma questão de querer ou não querer. É uma questão de necessidade. O país não tem capacidade. Nós no próximo ano vamos gastar com o Serviço Nacional de Saúde 7 mil milhões mas vamos pagar de juros da dívida pública portuguesa 9 mil milhões de euros. É assustador, pagarmos mais de juros do que o que gastamos com a saúde.O cidadão comum quer saber é se vai ter médico ou não. O país vai empobrecendo e não podemos enriquecê-lo com o discurso da ilusão. O discurso da ilusão levou-nos à situação que tínhamos em Junho do ano passado, em que estávamos na bancarrota. Não tem uma quota parte de culpa pelo estado a que isto chegou?Sei que se fosse hoje não teria defendido um hospital em Torres Novas, um hospital em Tomar e um hospital em Abrantes. Não é possível. Gastámos o que tínhamos e o que não tínhamos. Este não é um tempo de os políticos se preocuparem com a popularidade. É um tempo de meter a mão na massa e resolver os problemas.Já lá vai o tempo em que os autarcas eram o exemplo da aplicação dos dinheiros públicos? Os autarcas em Portugal, em matéria de visão de futuro, nunca foram capazes de serem ousados. Olham demasiado para a realidade do seu concelho. Se há sector conservador, é o poder local. As voltas que o mundo dá. Logo os autarcas que o senhor sempre elogiou. São conservadores na visão que estão a ter da nossa sociedade. Ainda não se convenceram que Portugal está numa situação particularmente difícil. Que Portugal esteve na bancarrota. Que tem que se fazer cortes. E não estão a fazê-los?As autarquias em Portugal estão a cortar menos que o Estado Central está a cortar. É uma realidade. Ainda não se adaptaram a este novo tempo. Nós chegámos ao fim da linha. Deixámo-nos encostar à parede. E temos que sair da circunstância em que estamos. Não podemos continuar a vender ilusões. O Governo tem tido a atitude de querer mudar. A maior parte das autarquias ainda não.O que tem que ser feito? Temos que estimular as capacidades intermunicipais. Não é preciso fazer a fusão de municípios ou extinguir municípios para que muitas das competências que estão nos municípios possam ser delegadas nas entidades supramunicipais ou nas Áreas Metropolitanas e o mesmo se passa com competências da administração central. Isso é possível mas há muito que se fala nisso e nada tem sido feito.Em Portugal é tudo impossível até ser feito. Tomar, Torres Novas e Abrantes, por exemplo, deviam ter uma perspectiva de gestão de uma grande cidade mas multiplicam equipamentos. Não são capazes de ter uma política global e de complementaridade. A multiplicação de investimentos que foi feita com fundos comunitários gera um enorme acréscimo de despesas com a sua manutenção.É a lógica eleitoral a funcionar. Enquanto cada autarca tiver que se preocupar com os votos dos seus eleitores, isso vai acontecer. Os eleitores pressionam para terem um pavilhão igual ou maior do que o do concelho vizinho. Já não vai acontecer com tanta facilidade. Sabe o que mudou? Acabou-se o dinheiro.Hoje as autarquias já não podem recorrer ao crédito. A banca não lhes empresta dinheiro. Os municípios têm que fazer uma gestão mais racional e não aumentar as suas dívidas.Enquanto deputado, há uma década atrás, defendeu a criação de novos concelhos como Fátima ou Samora Correia e foram deputados do PSD e do CDS/PP que propuseram, por exemplo, a criação de uma nova freguesia no Entroncamento que é um dos concelhos mais pequenos do país em termos de área. Agora trabalha para agregar freguesias e extinguir algumas. É verdade. Mas hoje nunca o faria. O caminho hoje é outro. Está em curso uma reorganização administrativa. Não podemos continuar com o discurso do passado porque estaremos condenados ao fracasso.Não se poupará muito dinheiro com a fusão ou extinção de freguesias.O que se vai conseguir é uma racionalização da gestão e uma melhoria do serviço prestado às populações. A escala e a dimensão trazem resultados melhores.As próximas eleições autárquicas vão ser feitas já em novos moldes? É inevitável. Vamos ter já uma nova lei das finanças locais. Vamos ter já um novo modelo de organização territorial. Uma nova lei eleitoral.Algumas autarquias poderão ter de abdicar de fazer obras programadas mesmo com candidaturas ao QREN em andamento ou já aprovadas?Algumas vão ter que fazer isso. O tempo das rotundas passou. Quem continua a olhar para o futuro a pensar fazer obra de fachada está completamente desenquadrado. O país chegou a este estado por causa disso. Hoje o investimento tem que ser muito bem pensado. Os municípios têm que investir nas pessoas. Na capacidade de ajudar a gerar riqueza. Não podemos continuar com o actual modelo.Porque insiste em manter o seu lugar na Assembleia Municipal de Tomar, onde é presidente? É um cargo que desempenho com satisfação. Não gostaria de ouvir dizer que, por ser ministro, me tinha afastado da terra e das pessoas. Pela assembleia passam os problemas do cidadão comum e eu gosto de estar ali. Eu não sou como aqueles políticos que quando chegam a determinadas funções deixam de conhecer as pessoas que conheciam. Eu não sou ministro. Eu estou ministro. Hoje estou. Amanhã não sei se estarei. É o seu último mandato?É. Já o tinha dito e mantenho. No final do mandato completo 16 anos como presidente da assembleia municipal. Está na hora de sair. Em Tomar, o acordo que existia entre o PSD e o PS acabou. Está a acompanhar a situação de perto? Hoje não acompanho de perto essa questão política. Preocupa-me mas não tenho tempo. * Excerto da entrevista publicada na edição de 5 de Janeiro de 2012 de O MIRANTEMilitância totalÉ o super-ministro do actual Governo, para o bem e para o mal. Pode não se concordar com as ideias que defende mas será justo reconhecer que Miguel Relvas não vira a cara à luta. Foi o grande obreiro da vitória do PSD nas últimas eleições depois de ter conquistado o partido a nível das bases. É o homem de confiança de Pedro Passos Coelho ao qual está ligado em termos pessoais desde os tempos da JSD onde se filiou nos anos 80. Desde a adolescência que está ligado à política e ao PSD. Conhece o partido de Norte a Sul do país como a palma das suas mãos. Foi deputado em sete legislaturas consecutivas. Foi secretário de Estado da Administração Local, entre 2002 e 2004. Apesar de residir em Lisboa manteve sempre uma estreita ligação com Tomar onde passou parte da adolescência e com o distrito de Santarém. Faz parte da história da JSD e do PSD distritais que liderou muitos anos. Foi Secretário-Geral da JSD entre 1987 e1989 e Secretário Geral do PSD entre 2004 e 2005 e entre Março de 2010 e Junho de 2011. É presidente da Assembleia Municipal de Tomar desde 1997. Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas nasceu em Lisboa a 5/9/1961 e foi para Luanda apenas com 3 meses de idade tendo regressado a Portugal em 1974. É optimista por natureza e diz não compreender como sendo a vida tão difícil há pessoas que insistem em complicá-la ainda mais. Diz-se um cliente do lado positivo da vida, é licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona é cidadão honorário da cidade brasileira do Rio de Janeiro.

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