Decorar as fachadas para contar pedaços da história do mundo rural
Populares de Azambuja participam na decoração de varandas e largos
As janelas ou varandas, os largos mas também as montras de Azambuja são ornamentados durante a Feira de Maio. A câmara premia os melhores mas é para receber quem vem de fora que os populares estendem mantas ribatejanas, penduram artefactos e mostram loiças antigas.
Quando Henrique Abreu Ribeiro, 74 anos, estende as mantas ribatejanas da varanda do seu segundo andar, que dá para a rua Vítor Cordon, por onde se faz a entrada de toiros, na rua principal de Azambuja, quer acima de tudo contar uma história. Pedaços da vida do mundo rural que relaciona com rigor e paixão. “No enfeitar da varanda procuro escrever sobre alguns sectores do mundo rural”, diz entusiasmado. Um dos cantos é dedicado à vinha e ao vinho com videiras e cachos de uvas. Um moinho com 60 anos do seu sogro, que era colocado nas vinhas para afugentar os pássaros, só foi retirado uma vez da janela porque o barulho incomodava a vizinha do lado durante a noite. Neste canto coloca ainda o pulverizador, a tesoura de poda e a tesoura da vindima bem como as medidas utilizadas e um garrafão de 20 litros alusivo ao líquido precioso. Nada é colocado ao acaso. Os cereais também têm o seu espaço. Não são esquecidas as espigas, os instrumentos de debulha, o crivo e as medidas da eira, como o alqueire e o meio alqueire, que Henrique Abreu Ribeiro domina. Há ainda lugar aos equipamentos de trabalho, como a canga de bois. “Às vezes até lhe digo para não colocar tanta coisa e deixar a varanda mais simples”, revela a esposa, Aurora Ribeiro, 73 anos.Henrique Abreu Ribeiro reside em Azambuja em 1977. Um vizinho, fascinado com a localização da varanda, convenceu-o a enfeitá-la. Foi no final dos anos setenta do século passado. O antigo formador do Instituto do Emprego e Formação Profissional, na área de maquinas agrícolas, tem dezenas de diplomas de participações no concurso de ornamentação de largos, janelas ou fachadas e montras, organizado pela Câmara Municipal de Azambuja. É um dos particulares que mais vezes arrecadou prémios. Ornamenta a varanda, não por causa do concurso de montras, mas pelo gosto de receber quem visita Azambuja por altura da feira. Chegou a expor objectos de escolas agrícolas e da Companhia das Lezírias, alguns dos quais lhe ofereceram. Um dia antes das largadas Henrique Abreu Ribeiro inicia a ornamentação. Mas há quem se antecipe. No Largo dos Pescadores, o que mais vezes venceu o concurso na categoria de largos, já Hortense Batalha, 76 anos, começou o trabalho de decoração ainda faltava quase uma semana para o início da feira. Na fachada da casa térrea onde em tempos morou gente da borda d’água pendurou um armário antigo para mostrar os pratos com cavalos do seu enxoval. Mora há 58 anos em Azambuja, não é familiar de pescadores mas defende que a tradição no largo se mantenha associada a quem governava a sua vida com o produto do rio. Dois manequins, evocando um casal de pescadores, serão colocados à sua porta. As bandeiras e papéis coloridos enfeitam o largo onde estão presentes os elementos cavalo e do toiro. No Largo dos Pescadores canta-se o fado vadio. O local é ponto de distribuição das sardinhas, do pão e do vinho oferecido na noite de sexta-feira aos convivas que se encontram nas ruas. Hortense Batalha abre a arca frigorífica para mostrar que, à parte disso, comprou peixe e carne para oferecer a músicos e fadistas. A festa faz-se com toiros mas o fado é um ingrediente essencial para temperar uma noite da sardinha assada.
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