Em terra de marialvas as raparigas também ajudam a montar tranqueiras
A tradição da Feira de Maio pulsa entre a população do sexo feminino em Azambuja
As raparigas vivem com intensidade a festa dos toiros em Azambuja. Ouve-se o fado vadio nas ruas da vila mas é sobretudo o convívio e os toiros que as animam. Na tertúlia o Barrete Verde, frente ao Atrium Azambuja, elas são tão aficionadas como eles e por isso igualdade é palavra de ordem. Seja na hora de preparar as refeições, lavar os pratos ou montar as tranqueiras.
Quem disse que só os homens ajudam a montar as tranqueiras em Azambuja frente às tertúlias onde durante os cinco dias da Feira de Maio homens e mulheres, novos e velhos, convivem animadamente? As raparigas vibram com a festa e participam mesmo no trabalho mais duro. “As tranqueiras costumam ser coisas de homens mas nós agarrámo-las e fomos ajudá-los”, diz com naturalidade Rita Alves, 30 anos, educadora de infância, que toda a vida residiu na rua principal, às portas das largadas de toiros.A igualdade é palavra de ordem e também por isso elas se reservam no direito de pedir ajuda na hora de lavar a loiça e preparar as refeições. É tudo bem distribuído para que a festa seja vivida por todos de igual forma. “O ano passado fizemos uma experiência: cada um lavava o seu prato. Correu bem e será para repetir”, continua.O fado vadio ouve-se nas ruelas da vila e a canção portuguesa também já ecoou também entre as paredes da tertúlia mas são as entradas e saídas de toiros e o convívio o que as anima verdadeiramente. “Temos um bom receber e isso gera um bom convívio”.Lara, 24 anos, educadora de infância, residente em Vale do Paraíso, é aficionada por intermédio do namorado. A paixão surgiu por arrasto até porque o ambiente é contagiante. “Mesmo os que não são aficionados acabam por render-se”, atesta Xana, 37 anos, auxiliar de armazém, uma moçambicana casada com um azambujense, que admite que se não estivesse integrada numa tertúlia viveria a festa de outra maneira espreitando os toiros aqui e acolá.À sexta-feira a tertúlia está cheia e os elementos cedem os lugares da tranqueira para os visitantes. “O único dia em que conseguimos ver os toiros é ao domingo de manhã que é quando está menos gente”.Carina, estudante de mestrado em gestão e direcção hoteleira, 28 anos, residente em Casais dos Britos, confessa que a festa poderia ser ainda melhor vendida se explorasse mais as potencialidades. “Acho que faz falta mais divulgação. O Colete Encarnado é melhor promovido que a feira de Azambuja e no entanto diz quem visita que é melhor”.Na tertúlia “Barrete Verde”, que funciona num espaço cedido, há uma ementa pensada para cada dia saboreada por debaixo de um tecto forrado de folhas de eucalipto. À mesa o rancho é mão de vaca com grão ou feijoada. O investimento é repartido por todos e reunido ao longo do ano com a ajuda de algumas actividades de angariação de fundos. Há quem tire férias na feira, que é uma das grandes datas do ano. “Chegando o Natal a seguir o nosso objectivo é a Feira de Maio. Depois só as férias de verão”, revela Xana. Nos dias da feira deixam-se de lado os saltos e as saias travadas e são as sapatilhas e as botas que assentam a arena improvisada. “Quando aparece alguma de saltos é comentada (risos) mas é sinal de que não sabe o que é isto…”.Os recortadores que arriscam nas arenas improvisadas, procurando um momento de glória, não são o alvo da atenção das tertulianas. “Às vezes até ficamos com a opinião contrária à que tínhamos. «Olha o toureiro, olha o toureiro!!»”, contam entre risos. As mulheres não se prestam tanto a essas figuras mas a geração mais nova, raparigas com 18 e 19 anos, é mais aventureira, garantem.
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